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Observatório das Eleições

Três grupos políticos movimentam a reta final da eleição de Maceió

(11/11) Alfredo Gaspar de Mendonça, do MDB (à esq), JHC, do PSB (ao centro) e Davi Davino Filho, do Progressistas (à dir) empatam tecnicamente no Ibope para a Prefeitura de Maceió  - Reprodução
(11/11) Alfredo Gaspar de Mendonça, do MDB (à esq), JHC, do PSB (ao centro) e Davi Davino Filho, do Progressistas (à dir) empatam tecnicamente no Ibope para a Prefeitura de Maceió Imagem: Reprodução

14/11/2020 04h00

Luciana Santana*

A eleição em Maceió promete muitas emoções até a contabilização dos últimos votos no próximo do domingo. Pesquisas e análises anteriores apontavam que a definição do próximo prefeito se daria em dois turnos e apontavam os dois nomes prováveis para a disputa, JHC (PSB) e Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB). Nas últimas semanas, entretanto, essa situação já não existe mais. O cenário é de muita indefinição.

E o que mudou? O candidato Davi Davino Filho (Progressistas), que aparecia em quarto lugar, com 5% das intenções de votos na pesquisa Ibope realizada no início de outubro, cresceu 14 pontos, atingindo 19% na última rodada Ibope divulgada na quarta (11). O candidato está tecnicamente empatado com os dois primeiros colocados e tem boas chances de ir para a disputa do segundo turno.

Candidaturas e desempenho nas pesquisas eleitorais

A figura abaixo mostra o desempenho dos candidatos em pesquisas realizadas desde o início do mês de outubro. Houve pouca mudança na evolução de intenção de votos para os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas.

O ex-procurador do estado Alfredo Gaspar de Mendonça tem se mantido mais estável e tem 26% das intenções de votos. Apresentou oscilação negativa na segunda rodada de pesquisa Ibope, mas se recuperou na última. O deputado federal JHC também tem se mantido estável dentro da margem de erro, teve duas oscilações negativas e tem 22% das intenções de voto.

O deputado estadual Davi Davino Filho foi o candidato que obteve o melhor desempenho, com bom potencial de crescimento. Já o ex-prefeito maceioense Cícero Almeida (DC) teve queda de 7 pontos percentuais nas pesquisas e tem apenas 3%.

O único candidato que associa sua imagem a do presidente Bolsonaro, Josan Leite (Patriotas), não conseguiu obter mais do que 3% da intenção de votos. As demais candidaturas somadas não ultrapassam 4%.

img1 - Elaboração própria, a partir de dados do Instituto Ibope - Elaboração própria, a partir de dados do Instituto Ibope
Desempenho dos candidatos em pesquisas IBOPE
Imagem: Elaboração própria, a partir de dados do Instituto Ibope

Os resultados de institutos de pesquisas locais (DataSensus e Ibrape) também tem apontado empate técnico entre os três primeiros candidatos, mas com alteração na ordem dos nomes. Seja como for, nenhum instituto crava o resultado do dia 15 de novembro, mas sugerem três cenários possíveis para o segundo turno: 1) Alfredo Gaspar de Mendonça X JHC 2) JHC X Davi Davino ou 3) Davi Davino X Alfredo Gaspar de Mendonça.

Rejeição dos candidatos

O campeão de rejeição na última pesquisa Ibope é o ex-prefeito da capital, Cícero Almeida (DC) com 48%. É seguido pelo ex-vereador Ricardo Barbosa (PT) com 23%. A candidata menos rejeitada é Valéria Corrêa (PSOL) com 11%.

Entre os candidatos mais cotados para a disputa do segundo do turno, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) tem 22%, JHC (PSB) 18% e Davi Davino Filho (Progressistas) 14% de rejeição.

A rejeição dos demais candidatos variou de 13 a 16%. Lenilda Luna (UP) teve 16%, Cícero Filho (PCdoB) 14%, Corintho Campelo (PMN) 13% e Josan Leite (Patriota) 13%.

Ataques e contra-ataques marcam a disputa pelo segundo turno

Como o atual cenário é de muita indefinição sobre quais serão os dois candidatos que disputarão a prefeitura da capital no segundo turno, os ataques e contra-ataques se intensificaram na reta final das campanhas eleitorais.

Além do aumento da circulação de panfletos, memes e mensagens negativas apócrifas por meio de aplicativos de mensagens, é possível perceber mudanças no comportamento dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Os três líderes na intenção de voto subiram o tom em suas propagandas eleitorais, seja para responder a ataques ou para enfatizar os apoios ou apadrinhamentos políticos de seus adversários.

Ex-procurador e candidato governista

Como se sabe, Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) é ex-secretário de segurança pública de Alagoas, ex-procurador do Estado e pediu exoneração para concorrer à Prefeitura da capital. Conta com o apoio do atual prefeito Rui Palmeira (sem partido) e do governador Renan Filho (MDB).

Mendonça teve o segundo maior tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), 2 minutos e 36 segundos. Sua campanha, que estava com tom de formalidade excessiva, alterou-se nas últimas semanas após a saída do marqueteiro do governador Renan Filho, Adriano Gehres. Em seu lugar assumiu a marqueteira de Rui Palmeira, Renata Melo, que tem trabalhado em parceria com Ricardo Mello. Além de reforçar o número do candidato, passou a trazer mais emoção para suas propagandas e menos cordialidade com os adversários.

O candidato tem sido alvo de muitas críticas, especialmente por causa de suas alianças. Para responder aos ataques que vem recebendo tem buscando enfatizar sua trajetória pessoal e atuação à frente do Ministério Público do Estado (MPE) e na Secretaria de Segurança Pública no primeiro mandato de Renan Filho. Quanto aos apoios, tem enfatizado que não é dependente de grupos políticos e reforçado a importância dos parceiros para sua futura gestão.

Sua eventual vitória indicará a força do grupo de Calheiros na capital, além de fortalecer o nome de Rui para a disputa ao governo em 2022. Vale ressaltar, no entanto, que muitos outros aliados de Renan Filho e do senador Renan Calheiros vislumbram uma candidatura à sucessão do governo.

Crescimento nas pesquisas e apoio de Arthur Lira

O deputado estadual Davi Davino Filho (Progressistas) tem se destacado pelo bom desempenho nas pesquisas desde o início da campanha. É o candidato que apresentou a maior taxa de crescimento de intenção de votos e teve o maior tempo no HGPE, 3 minutos e 16 segundos.

É filho de Davi Davino, vereador que está concorrendo à reeleição para o oitavo mandato na Câmara Municipal de Maceió. Tem apoio do deputado federal Arthur Lira (Progressistas), líder do bloco conhecido como Centrão e também candidato à Presidência da Câmara dos Deputados. Apesar de não utilizar diretamente a imagem de Bolsonaro em sua campanha, o candidato tem reforçado a necessidade de manter uma boa relação com o governo federal.

Tem feito muitas críticas à gestão do atual prefeito da capital, mas tem apoio do atual secretário de saúde de Maceió, o ex-deputado federal José Thomaz Nonô (DEM). Em vários momentos de sua campanha, fez ataques aos seus principais adversários na disputa, mas mudou a estratégia na reta final. Tem se colocado como opção de renovação política para a cidade.

Sua eleição pode fortalecer o nome de Arthur Lira para a disputa para o Senado ou Governo do Estado em 2022. Outro nome que pode se beneficiar é o do atual presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) que poderá se tornar vice-governador, caso Luciano Barbosa (MDB) vença a eleição em Arapiraca e assuma a prefeitura em 2022.

Independência, mas com apoio de Rodrigo Cunha e Ronaldo Lessa

João Henrique Caldas foi o candidato a deputado federal mais votado em Alagoas nas eleições de 2014 e 2018. Tem o apoio do ex-governador e ex-prefeito Ronaldo Lessa (PDT), candidato a vice na sua chapa. É filho do ex-deputado federal João Caldas e conta com o apoio do senador Rodrigo Cunha (PSDB).

Sua trajetória no âmbito do legislativo estadual e federal tem sido o escudo para rebater os ataques de seus opositores. Em sua atuação na Assembleia Legislativa ficou conhecido pelo combate à corrupção e apresentação de denúncias de supostas irregularidades em folhas de pagamento de servidores da Casa.

Em sua campanha tem se apresentado como candidato de renovação e independência da "velha política" alagoana, com duras críticas aos candidatos apoiados por Calheiros, Rui Palmeira e Arthur Lira. Caso tenha êxito eleitoral, e se torne o próximo prefeito da capital, tem chances de indicar e apoiar Rodrigo Cunha como candidato ao Governo do Estado em 2022. A primeira suplente de Rodrigo no Senado é a ex-prefeita de Ibateguara e sua mãe, Eudócia Caldas (PSB).

Participação dos candidatos nos debates

Foram realizados apenas dois debates eleitorais com os candidatos que disputam a prefeitura de Maceió. O primeiro ocorreu no último dia 10 no Portal ACTA e, apesar de convite estendido a todos os dez candidatos, três ausentaram-se: JHC, Davi Davino Filho e Cícero Almeida.

O segundo debate ocorreu no dia 12 na TV MAR e contou com a presença de sete dos oito candidatos convidados. Lenilda Luna (UP) e o ex-prefeito Corintho (PMN) não foram chamados. O ex-prefeito Cícero Almeida ausentou-se novamente.

Entre a apresentação de uma proposta e outra, as trocas de farpas entre os candidatos foram uma constante nos dois debates. Mesmo aqueles com pior desempenho eleitoral utilizaram o espaço para fazer críticas à gestão do atual prefeito, aos apoios políticos recebidos pelos adversários e se colocaram como alternativa para a Prefeitura da capital.

A reta final da campanha

A contabilização dos votos no domingo será marcada por muita apreensão e expectativa. O resultado trará não apenas os dois nomes que disputarão o segundo turno, mas também demonstrará a força de grupos políticos adversários na capital. Ter a Prefeitura será um bom trunfo para o fortalecimento de um projeto político que mira a disputa pelo comando do Governo do Estado em 2020.

Até o fechamento das urnas os candidatos estarão buscando conquistar votos, mas o certo é que a sorte de cada um já está lançada e amanhã teremos a resposta das urnas.

* Luciana Santana é mestre e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com estância sanduíche na Universidade de Salamanca. É professora adjunta na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), líder do grupo de pesquisa: Instituições, Comportamento político e Democracia, pertence à Red Politólogas e atualmente ocupa a vice-diretoria da regional Nordeste da ABCP.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br