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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Gravação em que Jair Bolsonaro estaria reclamando no hospital é falsa

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

21/09/2018 20h17

O áudio atribuído ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) que circula no WhatsApp e em redes sociais desde terça-feira (18), quando foi divulgada uma pesquisa Ibope, é falso, segundo peritos ouvidos pelo projeto Comprova.

Na gravação, o homem que se passa por Bolsonaro xinga o general Hamilton Mourão, vice do candidato à presidência, e uma enfermeira do hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde o deputado federal está internado para se recuperar de um atentado a faca ocorrido no dia 6 de setembro durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

O homem também diz que não aguenta mais ficar no hospital e que o "teatrinho acabou". A fala alimentou teorias falsas de que o atentado sofrido por Bolsonaro seria forjado.

Um trecho da gravação faz referência a Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência, que está em segundo lugar nas intenções de votos, segundo o Ibope, atrás apenas de Bolsonaro. “Me tira daqui, a gente tem uma eleição pra ganhar, pô (sic). Uma eleição pra ganhar, e você me mantendo aqui nesse teatro”, diz o homem, dirigindo-se a quem chama de Eduardo – mesmo nome de um dos filhos de Bolsonaro.

A pedido do Comprova, o Instituto Brasileiro de Perítos comparou o áudio viral com a voz de Bolsonaro na entrevista que ele concedeu ao jornalista José Luiz Datena, na "Band", em 22 de abril de 2018. A conclusão é de que não é o candidato do PSL que fala na gravação viral que foi divulgada nesta semana. “O corpo probatório sustenta muito fortemente a hipótese de que as amostras de fala não foram proferidas pelo mesmo locutor”, diz o laudo.

A metodologia da perícia constitui-se de uma análise qualitativa dos marcadores de voz, fala e linguagem dos falantes. Depois, é realizada a comparação desses parâmetros em cada amostra de voz e fala questionada. Nesta análise, foram observados padrões das vogais e consoantes, ritmo e velocidade de fala, padrões de entonação, qualidade da voz e os hábitos apresentados pelo falante, além da aplicação de palavras nas sentenças e o uso de regras gramaticais.

No áudio falso foi percebido, por exemplo, um sotaque típico do interior na fala do fonema “r”, enquanto na fala de Bolsonaro isso não aparece. Também foram percebidas diferenças na ressonância, articulação, velocidade de fala e desvio fonético entre as amostras comparadas.

O Comprova também consultou o perito Mauricio de Cunto, da empresa Fonolab. Segundo a percepção técnica dele, a voz do áudio difere da do parlamentar por várias razões. “O tom de voz aparenta ser um pouco mais agudo que o de Bolsonaro. O ritmo da fala também é mais acelerado do que nos vídeos que ele gravou no hospital”, afirma. O especialista ressalta, no entanto, que só vai emitir um parecer próprio sobre o assunto na semana que vem.

Outro elemento que aponta se tratar de um áudio falso é a baixa qualidade da gravação. De acordo com peritos experientes, esse é um truque típico das falsificações: diminuir a resolução de áudios, vídeos e fotos faz com que a análise dessas mídias se torne mais difícil.

Dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, já desmentiram em suas contas de Twitter a veracidade do áudio. “A mais nova fakenews (sic) com um áudio em que dizem ser Bolsonaro reclamando no hospital”, escreveu Carlos em um tuíte, republicado por Eduardo.

O hospital em que o presidenciável está internado, o Albert Einstein, também negou a gravação e a informação de que uma enfermeira teria sido despedida após o episódio.

O boato foi encaminhado a integrantes do Comprova por WhatsApp, além de ter sido publicado em vídeos no YouTube. No canal "Jefferson Moraes", por exemplo, o vídeo somava 49.038 mil visualizações desde terça-feira (18).

Os sites "Fato ou Fake" e "Boatos.org" também publicaram desmentidos sobre o assunto.

O material enganoso foi verificado pelos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S.Paulo” e “O Povo”, além de outros integrantes do projeto Comprova: UOL, revista "piauí" e "Poder360".

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.