Topo

Agora Lindemberg vai falar, diz advogada; 'ele queria matar Eloá', afirma promotor

Eloá Pimentel é feita refém por Lindemberg Alves em Santo André (SP) - Danilo Verpa/Folha Imagem  - 2008
Eloá Pimentel é feita refém por Lindemberg Alves em Santo André (SP) Imagem: Danilo Verpa/Folha Imagem - 2008

Rosanne D'Agostino<br>Do UOL Notícias<br>Em Santo André (SP)

11/03/2011 14h46

Após três horas de depoimentos no processo contra Lindemberg Alves, que começou a ser refeito nesta sexta-feira (11) no Fórum de Santo André, no ABC paulista, a advogada Ana Lucia Assad afirmou que, agora, seu cliente deverá falar sobre a morte da ex-namorada Eloá Pimentel no mais longo cárcere privado do país.

Cinco testemunhas de acusação prestaram depoimento novamente hoje, entre elas, Nayara Rodrigues da Silva, a amiga que foi feita refém junto de Eloá, que acabou sendo vítima de um disparo no rosto.

A primeira audiência, que ocorreu em janeiro de 2009 e culminou na decisão que levaria Lindemberg a júri popular, foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O novo depoimento do réu não tem data prevista para acontecer.

“A audiência foi boa para a defesa. Porque coisas que não haviam sido perguntadas antes, hoje foram. Isso não beneficia só Lindenberg, mas qualquer réu acusado de um crime”, disse a advogada sobre a reconvocação das testemunhas.

Questionada se agora Lindemberg irá quebrar o silêncio, ela afirmou. “A intenção agora é que ele apresente a versão dele sobre o que aconteceu, conforme as audiências forem ocorrendo.”

O promotor do caso, Antonio Nobre Folgado, também afirmou que a nova audiência serviu “para melhorar a prova”. “Tudo que a Nayara, nossa principal testemunha, havia dito, ela contou novamente hoje. O Ministério Público está muito satisfeito”, disse.

Já sobre o depoimento de Lindemberg, que havia ficado calado orientado por sua defesa na última audiência, o promotor afirmou: “É indiferente. Falando ou não, não é com base na versão dele que eu vou trabalhar.”

Nayara deixou o fórum por volta das 13h30, de braços dados com o irmão de Eloá, Everton Pimentel, que também prestou depoimento. Eles não falaram com a imprensa. Iago Vilela de Oliveira, um dos amigos de Eloá, irritou-se com a presença dos jornalistas e empurrou um cinegrafista.

Comportamento violento

A próxima oitiva, das testemunhas de defesa, ainda não tem data marcada. A maioria deve ser ouvida por carta precatória. Encerrada esta fase, o juiz José Carlos de França Carvalho Neto deve decidir novamente se Lindemberg vai a júri popular.

As testemunhas de acusação reforçaram o comportamento agressivo de Lindenberg, assim como suas mudanças de humor. O policial Athos Antonio Valeiriano, primeiro a chegar ao local do crime, voltou a dizer que Lindemberg prometeu matar a todos para, depois, se matar.

Hoje, Lindemberg deixou o fórum sob forte esquema de segurança, por volta das 14h. Ele acompanhou todos os depoimentos, menos o de Nayara, que pediu que ele fosse retirado do plenário.

Anulação

O primeiro interrogatório ocorreu há mais de dois anos, em janeiro de 2009. Foram quase dez horas de depoimentos --cinco testemunhas de acusação e nove de defesa. A primeira a ser ouvida foi Nayara Rodrigues, que afirmou que o ex-namorado entrou no apartamento com a intenção de matar. Já Lindemberg permaneceu em silêncio.

O processo segue as mudanças no Código do Processo Penal que entraram em vigor em setembro de 2008. Entre elas, está a junção de todos os depoimentos da fase de instrução. Em um só dia, são ouvidas testemunhas de acusação, defesa, o réu, o Ministério Público e os advogados. O juiz pode decidir se leva o réu a júri no mesmo dia.

Foi o que fez o juiz José Carlos de França Carvalho Neto, da Vara do Júri de Santo André, provocando a ira da advogada Ana Lúcia Assad. Ela adiantou que pediria a nulidade do interrogatório alegando cerceamento de defesa e culpando a pressão da imprensa sobre o magistrado. "A defesa está triste, pasma e inconformada. Esta sessão só ocorreu por conta de 'pressa pressão' e do quarto poder deste país", afirmou na época.

Já o promotor do caso, Antônio Nobre Folgado, afirmou que a decisão da Justiça foi acertada e que os recursos da defesa eram apenas mera medida protelatória. "Não tenho a menor dúvida de que ele irá a júri popular", disse o membro do Ministério Público.

Versões

Ao contrário do que disse Nayara, três policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar, também ouvidos pela Justiça, afirmaram ter ouvido um disparo antes de invadir o apartamento --operação que culminou na morte de Eloá. Por fim, testemunhas arroladas pela defesa enfatizaram o bom caráter de Lindemberg.

Nenhum dos depoimentos, no entanto, possui mais validade. Além de Lindemberg, todas as testemunhas devem ser ouvidas novamente.

Lindemberg responde pelos crimes de sequestro seguido de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima), tentativa de homicídio, cárcere privado e disparo de arma de fogo. Lindemberg está preso na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo.

Histórico

No dia do sequestro, Eloá e Nayara faziam um trabalho escolar com os colegas Iago e Vítor no apartamento da adolescente, em Santo André. Minutos depois de terem chegado, Lindemberg entrou no apartamento com a arma na mão e pediu que todos fossem para o quarto e se sentassem na cama de Eloá. Nayara afirmou na audiência anulada que Lindemberg deu coronhadas em Vítor e Iago e que entrou para matar Eloá, pois não admitia que ela não o aceitasse de volta.

Ainda segundo o depoimento de Nayara, Eloá e Lindemberg discutiam sobre o não-reatamento do namoro, enquanto Eloá pedia para que ele soltasse os outros, dizendo que o problema era apenas com ela. Nesse momento, chegou uma mensagem no celular de Eloá que irritou Lindemberg, que teria dito que, mesmo terminados, ela lhe devia respeito.

Nayara disse também que Lindenberg a considerava culpada pelo fim do namoro com Eloá. Nesse intervalo, Nayara conta ter presenciado cinco disparos dentro do apartamento, um contra a tela do computador, um contra o teto, um contra um policial e dois contra a multidão que acompanhava o desfecho do cárcere privado.

Sobre seu polêmico retorno ao apartamento onde estava Eloá, Nayara afirma que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o prédio de Eloá e foi orientada por Lindemberg ao celular a subir as escadas.

Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.

No último dia de cárcere, Nayara disse que estava deitada em um colchonete enquanto Eloá estava no sofá. Então, Lindemberg resolveu empurrar uma mesa para atrás da porta, a fim de impedir que alguém invadisse o local.

Pouco depois, Nayara afirma que escutou um barulho seguido de chutes na porta e não sabia se era um tiro ou uma bomba. Logo, a adolescente ouviu dois disparos no momento em que a porta se abriu e sentiu o rosto estranho. A adolescente afirma que foi tudo muito rápido, mas que olhou para trás a tempo de ver Eloá deitada e ensangüentada.


Do UOL Notícias
Em Santo André (SP)","publicationDate":"20110311144640"},"click":{"mediaName":"Notícia","source":"https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2011/03/11/agora-lindemberg-vai-falar-diz-advogada-ele-queria-matar-eloa-afirma-promotor.htm"}},"isNoSpace":false}' cp-area='{"xs-sm":"230px","md-lg":"128px"}' config-name="noticias/noticias.cotidiano.ultimas-noticias">