Topo

Massacre em Realengo (RJ) completa seis meses; escola se transforma em canteiro de obras

Hanrrikson de Andrade

Especial para o UOL Notícias <br> No Rio de Janeiro

07/10/2011 07h00

O nome Wellington Menezes de Oliveira ainda causa calafrios a alguns estudantes que estavam no colégio Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, no dia em que o jovem de 23 anos invadiu o colégio do qual era ex-aluno e assassinou 12 crianças. Após exatos seis meses da tragédia, Thiago Morais, 14, diz que se sente desconfortável ao ler ou escutar o nome do atirador que se suicidou após ser alvejado por um policial militar.

"Não gosto de escutar esse nome, me dá uma coisa estranha quando eu leio no jornal ou na internet, faz com que eu lembre de tudo aquilo. São seis meses, mas parece que tudo aconteceu ontem", afirma o estudante, que perdeu duas amigas na tragédia.

Já a dona de casa Marilene dos Santos, mãe de um aluno de 13 anos, diz que até pensou em transferi-lo para uma outra unidade da rede municipal de ensino, mas o filho não concordou com a orientação materna e optou por permanecer no colégio Tasso da Silveira em função dos colegas de classe.

Hoje, porém, Marilene se mostra empolgada com o futuro da tradicional escola de Realengo (fundada em 1971) --que atualmente passa por uma série de obras de infraestrutura e modernização.

"Eu falei para ele sair, mas adolescente é cabeça dura, e ele acabou ficando por causa dos amigos e da namorada. Mas hoje eu olho para as obras que estão fazendo na escola e vejo que foi a melhor decisão. A Tasso vai ficar muito bonita", afirma ela.

De fato, a Secretaria Municipal de Obras, em parceria com a pasta da Educação, está investindo pesado para transformar o colégio Tasso da Silveira em uma referência na rede pública de ensino, pelo menos no que diz respeito à infraestrutura. Dois meses após o massacre, passados os trabalhos emergenciais de reparo, a escola se transformou definitivamente em um canteiro de obras.

O investimento total da prefeitura na modernização da unidade educacional --que ganhará vários espaços de atividades lúdicas e estrutura especial para portadores de necessidades especiais-- deve girar em torno de R$ 9 milhões.

A expectativa da secretaria de Obras é oferecer condições estruturais para que novos alunos sejam matriculados na escola Tasso da Silveira, que tinha 999 alunos até o dia 7 de abril deste ano, data da tragédia, e atualmente conta 980 crianças e adolescentes. Em função das obras, a rotina escolar sofreu algumas alterações, tais como a redução da carga horária dos turnos.

Ajuda de custo

Há dois meses, uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, em Brasília, trouxe à público algumas reivindicações e reclamações da Associação Anjos de Realengo, composta por parentes das vítimas da tragédia.

A maioria relatou para os deputados federais a dificuldade de reinserção na vida escolar dos adolescentes que sobreviveram ao massacre, mas ainda não se recuperaram totalmente. A deputada Liliam Sá (PR-RJ) chegou a acusar a Prefeitura do Rio de Janeiro e o governo estadual de não cumprirem com as promessas de auxílio financeiro feitas depois da chacina.

No entanto, a presidente da Associação Anjos de Realengo, Adriana Maria da Silveira Machado (mãe da estudante Luisa Paula da Silva, que morreu na tragédia), afirmou ao UOL Notícias que já foram resolvidas as divergências em relação ao auxílio financeiro pago pela prefeitura após o massacre.

"As crianças estão recebendo toda a assistência. O dinheiro está sendo pago corretamente", disse.

Machado não quis entrar em detalhes sobre os valores do auxílio. "Não me sinto confortável para falar sobre isso", afirmou. Segundo a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a ajuda de custo é de R$ 700.

O massacre

Em 7 de abril, por volta de 8h30, Wellington Menezes de Oliveira entrou na escola Tasso da Silveira, em Realengo, dizendo que iria apresentar uma palestra. Já em uma sala de aula, o jovem de 23 anos sacou a arma e começou a atirar contra os estudantes. Segundo testemunhas, o ex-aluno da escola queria matar apenas meninas.

Wellington deixou uma carta com teor religioso, onde orientava como queria ser enterrado, e deixou sua casa para uma associação de proteção aos animais.

O ataque, sem precedentes na história do Brasil, foi interrompido após um sargento da Polícia Militar, avisado por um estudante que conseguiu fugir da escola, balear Wellington na perna. De acordo com a polícia, o atirador se suicidou com um tiro na cabeça após ser atingido. Wellington portava duas armas e um cinturão com muita munição.

Doze estudantes morreram --dez meninas e dois meninos-- e outros 12 ficaram feridos no ataque.