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Corpo de sétima vítima de desabamento é encontrado no Rio

Do UOL, em São Paulo

27/01/2012 09h10Atualizada em 27/01/2012 09h33

O corpo da sétima vítima foi encontrado por volta das 8h30 desta sexta-feira (27) em meio aos escombros dos três prédios que desabaram no centro do Rio de Janeiro na quarta-feira (25), segundo o Corpo de Bombeiros. Até o momento, foi confirmado que entre os seis primeiros mortos há três homens e três mulheres.

Os corpos das vítimas foram encaminhados para o Instituto Médico Legal para identificação. Até as 5h30, quatro corpos haviam sido identificados --três homens e uma mulher. Cornélio Ribeiro Lopes, 73, porteiro do Edifício Liberdade, onde morava com a mulher, Margarida Vieira de Carvalho, que está desaparecida, e Celso Renato Braga Cabral, 44, cujo enterro ocorrerá nesta manhã, em Niterói, região metropolitana do Rio, foram os nomes divulgados até o momento. 

As equipes de socorro, comandadas pelo Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros com o apoio da Defesa Civil e da Polícia Militar, intensificarão hoje o trabalho de busca por mais vítimas. Cães farejadores ajudam nos resgates. As dificuldades, segundo os bombeiros, são geradas principalmente pela nuvem de poeira que ainda é intensa no local.

A expectativa é a de que todos os escombros sejam retirados até o começo da próxima semana.

"Nós continuamos com o foco naquilo que é o mais relevante que são as vidas humanas que sofrem nesse momento. A prioridade agora é facilitar o trabalho do Corpo de Bombeiros. Queremos que eles tenham totais condições de desempenhar suas funções sem que haja risco para esses profissionais", disse o prefeito da cidade, Eduardo Paes.

Eu tive sorte, parecia o 11 de Setembro. Parecia que estavam jogando entulho de cima do telhado. Eu vi uma laje caindo e saí correndo. Se ficasse, ia cair em mim

Vicente Cruz, entregador de água, que estava em um dos prédios que desabou

Cerca de 30 caminhões da prefeitura deslocados para o trabalho já levaram mais de 15 mil toneladas de destroços do local, o que corresponde a cerca de 30% do total. Todo o material está sendo levado para um depósito municipal situado na zona portuária, e posteriormente para o aterro de Gramacho, na Baixada Fluminense.

Os acessos a cinco prédios da rua Treze de Maio estão totalmente bloquados --a situação só será normalizada na segunda-feira (30). A prefeitura afirma que não há "qualquer tipo de risco estrutural" para esses imóveis, mas as interdições foram determinadas por questão de prevenção.

Luto e vítimas

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial de três dias no Estado em memória das vítimas.

Não estou no prejuízo porque consegui sair do prédio vivo. Estava no 9º andar e não sei como desci do prédio, só sei que estou vivo

Gilberto Figueiredo, que estava no local

Todos os feridos atendidos na rede pública de saúde já receberam alta, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde.

Cinco feridos foram encaminhados ao hospital municipal Souza Aguiar. Quatro deles foram atendidos entre quarta e quinta-feira e já foram para casa: um homem que sofreu apenas escoriações leves; Alexandro Santos, 31, que estava dentro de um dos elevadores do edifício Liberdade e conseguiu ser resgatado após entrar em contato com um amigo pelo celular; um homem de 50 anos, com ferimentos na perna e lesão na córnea; e um homem de 37 anos, com dores abdominais.

A quinta vítima atendida, uma mulher de 28 anos, sofreu um corte na cabeça e passou por cirurgia no hospital. Durante a tarde ela foi transferida, com quadro estável, para a clínica particular Casa de Portugal –procurada pela reportagem, a assessoria da unidade hospitalar disse que não está autorizada pela família a dar informações sobre a vítima.

Um sexto ferido, uma mulher de 48 anos com escoriações superficiais, foi atendido no hospital Getúlio Vargas, mas já foi liberada, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

Explosão por gás é pouco provável

Questionado sobre as possíveis causas do desabamento em série, Paes afirmou que ainda não é possível dar "respostas definitivas", porém descartou totalmente a hipótese de explosão. "A possibilidade de explosão é quase igual a zero, sendo o zero por minha conta", disse.

"Estamos compilando as informações fornecidas pelos profissionais que estiveram no local, e tudo será checado antes de que tenhamos uma resposta definitiva. Ninguém sabe responder ainda se foi por dano estrutural ou algo do tipo. São várias hipóteses que serão estudadas e analisadas", afirmou.

  • Imagem de 18.jan.2011 (esquerda) mostra local dos prédios (em vermelho) que desabaram no centro do Rio de Janeiro no dia 26.jan.2012 (direita)

"Não é normal que três prédios desmoronem no centro do Rio de Janeiro. Não podemos achar que isso é normal. Vamos avaliar a situação geral dos prédios do centro assim que isso tudo passar", completou o prefeito.

De acordo com Paes, a Polícia Civil já está investigando as circunstâncias do desastre. As diligências serão conduzidas pela 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), e os mesmos investigadores que trabalharam no caso da explosão do restaurante Filé Carioca, em outubro do ano passado, vão tentar identificar as causas da tragédia de ontem.

"Trinta minutos depois do acidente, a Polícia Civil já estava lá colhendo depoimentos e investigando. Tudo será checado através do trabalho de perícia", explicou.

A suspeita mais provável, segundo os investigadores, é que houve colapso na estrutura do prédio mais alto, devido a falhas em uma reforma feita em um dos andares, onde funcionava uma empresa de informática. A desconfiança é que a reforma, que ocorria há dois meses, levou à retirada de vigas de sustentação, ameaçando a estrutura do prédio. Os dois edifícios que estavam ao lado acabaram sendo atingidos pela força da primeira queda, segundo investigações preliminares.  

Crea diz que obras eram irregulares

O presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Luiz Antonio Cosenza, confirmou que estavam sendo realizadas obras no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade. Já o engenheiro civil Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, consultor do Crea, afirmou ainda que as obras eram ilegais, pois não tinham autorização do conselho.

“Quando o elevador abria no terceiro andar, era possível ver as colunas do prédio sendo marteladas. Eles estavam quebrando tudo”, relembra Teresa Andrade, sócia da empresa BV Cred, correspondente do banco Votorantim, que ficava no 16º andar do prédio. Ela trabalhava no local há três anos e diz que a reforma no terceiro andar acontecia havia seis meses.

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio