Delegado ouve funcionários que recolhiam entulho de obras realizadas em prédio que desabou no Rio
O delegado da 5ª Delegacia de Polícia do Rio, Alcides Alves Pereira, ouviu na manhã desta terça-feira (31) funcionários que prestavam serviço para a TO - Tecnologia Organizacional, empresa que realizava obras no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade, um dos três prédios que desabaram na última quarta-feira (25), no centro do Rio. A polícia investiga se as reformas podem ter relação com o acidente, que deixou ao menos 17 mortos e cinco desaparecidos.
Os funcionários ouvidos hoje são da empresa contratada pela TO, a Katalão. O delegado, no entanto, não especificou o número de depoentes, tampouco comentou sobre o conteúdo da conversa. “Só posso dizer que eram funcionários que recolhiam o entulho [referindo-se as obras no edifício Liberdade].”
Segunda a assessoria da TO, foram retiradas oito caçambas no decorrer das obras nos dois andares. A TO negou que os operários da empresa tenham colocado entulho na cobertura do edifício.
Um dos pontos ainda obscuros na investigação diz respeito ao local de armazenamento do entulho produzido pelas obras. A Polícia Civil quer saber se o material era ou não colocado na cobertura do edifício Liberdade antes de ser removido por caminhões –o que pode ter criado um sobrepeso na estrutura do prédio.
Reportagem de “O Globo” de hoje mostra que a promotora de eventos Iris Ribeiro, que trabalhava há dez anos no edifício Liberdade, afirmou que um alojamento no 20º andar era usado como depósito de entulho de obras desde o ano passado.
O delegado confirmou ainda que novos depoimentos serão colhidos nesta quarta-feira, quando o acidente completa uma semana. No decorrer do expediente de hoje, os investigadores vão focar na revisão dos resultados parciais do inquérito, além da análise das plantas originais dos três edifícios que desabaram.
A Secretaria Municipal de Urbanismo do Rio encaminhou para a 5ª DP as plantas originais dos edifícios Liberdade (20 andares), Colombo (dez andares) e Treze de Maio (quatro andares). A secretaria afirmou que as obras de expansão do edifício Liberdade, que originalmente tinha 15 andares, mas recebeu andares extras ao longo das décadas, não desrespeitaram “em momento algum” a legislação vigente.
Imagem de 18.jan.2011 (esquerda) mostra local dos prédios (em vermelho) que desabaram no centro do Rio de Janeiro no dia 26.jan.2012 (direita)
O prédio foi construído em 1938 e modificado logo no ano seguinte, de acordo com as plantas originais. Três andares foram acrescentados, além de um recuo lateral e um subsolo. A reforma só foi finalizada dois anos depois. Em 1950, mais uma obra de expansão foi autorizada pelo governo municipal, e os três últimos andares do edifício foram ampliados. As plantas originais foram mostradas em reportagem veiculada ontem no Jornal Nacional, da TV Globo.
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Estrondo
O empresário Vitor Nogueira, dono da empresa de traduções Primacy Solutions, disse em depoimento à polícia na tarde de segunda-feira (30) que, na noite anterior à do desabamento, funcionários seus que participavam de uma reunião no edifício Liberdade ouviram um barulho muito forte vindo do nono andar.
A informação é do advogado do empresário, Edil Murilo. “O Vitor relatou durante o depoimento que uma noite antes do desabamento, por volta de 19h40, oito funcionários da Primacy [no oitavo andar] que participavam de uma reunião ouviram um estrondo vindo do andar de cima e interromperam tudo”, disse o advogado.
De acordo com Murilo, durante o depoimento o empresário entregou ao delegado fotos de como era o oitavo andar, mostrando que todas as lajes eram escoradas por vigas de tipo mão francesa.
Todos os 35 funcionários da empresa de Vitor Nogueira --que funcionava no prédio há sete anos-- já tinham encerrado o expediente e não estavam mais no local.
Além de Nogueira, dois operários que trabalhavam nas obras do nono andar prestam depoimento nesta tarde --as identificações não foram confirmadas. Segundo o delegado Alcides Alves Pereira, 19 testemunhas já apresentaram suas versões.
Investigação
De acordo com o delegado Alcides Alves Pereira, já foram ouvidos o síndico do edifício Liberdade, Paulo Renha, um operário que foi resgatado após buscar proteção no elevador do prédio, Alexandro Ferreira da Silva, entre outros. Representantes da empresa TO - Tecnologia Organizacional devem prestar depoimento durante a semana, mas ainda não foram intimados.
No domingo (29), Pereira visitou o local do desastre e analisou o trabalho dos bombeiros durante 20 minutos. Após conversar com peritos que o acompanhavam e profissionais envolvidos no processo de resgate, o delegado deixou o local sem falar com a imprensa.
Desde a última semana, a Polícia Civil evita apontar potenciais causas e possíveis culpados pelo desastre, mas admite que o trabalho de perícia técnica será altamente prejudicado em razão das dimensões do acidente.
Segundo o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões, "não sobraram partes inteiras, apenas escombros".
Além disso, muitos documentos e outras pistas que poderiam auxiliar na investigação se perderam com a tragédia. Com isso, a ideia dos investigadores é reconstruir o contexto do desabamento a partir de relatos de pessoas que trabalhavam no local e comparar os dados com as versões do síndico e da empresa TO - Tecnologia Organizacional --responsável por obras no edifício--, além de resultados periciais.
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