Cavalo passa mal por excesso de trabalho e ameaça atração turística em Minas Gerais
Os passeios em charretes, uma das atrações turísticas de Poços de Caldas (451 km de Belo Horizonte), viraram o principal assunto na cidade depois que um cavalo passou mal por excesso de trabalho.
O dono do cavalo foi excluído da Associação dos Charretistas de Poços de Caldas, mas a medida não satisfez os ativistas da causa animal, que estão divididos entre acabar com as charretes ou mudar as regras para a atividade.
A veterinária Sheila Patresi dos Santos, 35, que testemunhou, no último dia 30 de dezembro, o cavalo desmaiado por exaustão, defende, em abaixo-assinado, mudanças nas regras para as charretes. Em vez de apenas um cavalo trabalhando 12 horas por dia, das 6h às 18h, como permite lei municipal, ela defende o uso de três animais, por charrete, no mesmo período.
“Assim eles se cansariam menos. Outra medida importante seria encontrar raças adequadas para tração, po rque todos os cavalos usados nas charretes são animais mestiços, inadequados para essa função”, afirma.
O abaixo-assinado feito por Sheila tem até agora 585 assinaturas, pouco em comparação às 5.111 adesões obtidas pelo grupo de moradores mais radicais, que querem o fim das charretes. O documento está disponível na internet e vai ser enviado à Câmara para se transformar em projeto de lei.
“Acabar com os passeios é impossível”, afirma José Carlos Polli, 66, secretário municipal de Turismo e Cultura de Poços de Caldas. Segundo ele, 50 famílias dependem dessa atividade, que é muito procurada pelos turistas. “O que aconteceu [exaustão do cavalo] foi uma exceção, mas serviu de alerta para nós”, declarou.
Repórter dribla proibição e anda de charrete por São Paulo
De acordo com o secretário, a Prefeitura de Poços de Caldas firmou um convênio com a PUC (Pontifícia Universidade Católica) para dar assistência veterinária aos cavalos. Os animais, segundo o secretário, serão pesados e examinados periodicamente, para evitar casos como o de dezembro. “Vamos endurecer na fiscalização.”
8.000 turistas por fim de semana
Poços de Caldas recebe pelo menos 8.000 turistas aos finais de semana. Parcela deles utiliza as charretes para conhecer os pontos históricos da cidade. Os passeios são feitos por 50 charretes cadastradas, que geram de R$ 150 a R$ 180 por dia aos donos.
A posição do secretário é compartilhada pela Associação de Proteção dos Animais de Poços de Caldas. “Nós queremos que os animais sejam bem tratados. O que aconteceu em dezembro não pode se repetir”, afirma Vera Facci, 62, presidente da entidade.
Segundo a veterinária Sheila Patresi dos Santos, o excesso de trabalho pode levar os cavalos à morte. Ela diz que um cavalo vive entre 22 e 25 anos, mas que, nas condições em que trabalham nas charretes de Poços de Caldas, esse tempo cai para 12 anos.
“Todo mundo imagina que os cavalos são animais fortes, resistentes. Pelo contrário, são muitos sensíveis. E os que puxam as charretes ficam sem se alimentar e sob o sol quando estão em atividade.”
Procurada para se manifestar sobre o assunto, a Associação dos Charretistas de Poços de Caldas não atendeu à reportagem do UOL.
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