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Prefeitura cumpre reintegração de posse, e ambulantes são retirados de praça em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

19/04/2012 11h22Atualizada em 19/04/2012 17h37

“Quero saber onde vão enfiar tanta gente desempregada.” O desabafo é da ambulante Valdivina Rodrigues Lins, 60, uma dos 78 trabalhadores que possuíam boxes na praça Salim Farah Maluf, no Largo 13, em Santo Amaro (zona sul de São Paulo), e que foram retirados do local nesta quinta-feira (19) por equipes da prefeitura e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) a partir das 8h. Parte deles alegou que a reintegração foi cumprida sem que estivessem presentes.

O município obteve a reintegração de posse da área, que desde 1997 era ocupada pelos ambulantes organizados em boxes custeados por eles próprios. A autorização para que se estabelecessem ali havia sido concedida por meio de decreto assinado pelo então prefeito Celso Pitta (1996-2000).

Em novembro, o prefeito Gilberto Kassab cassou o decreto com a justificativa de que a praça será revitalizada. A obra, segundo a Subprefeitura de Santo Amaro, “começa imediatamente” --a um custo de mais de R$ 650 mil. A subprefeitura não soube informar, no entanto, quais as benfeitorias que serão executadas no local, já licitadas.

Como foi a reintegração

A ação foi cumprida a marteladas, retroescavadeiras e britadeiras por equipes da prefeitura e da GCM, acompanhadas pela Polícia Militar. Alguns ambulantes ouvidos pela reportagem disseram que os boxes foram abertos à força, sem que os donos estivessem no local.

Já o comandante da operação pela GCM, inspetor Jorge Rocha, disse que os ambulantes foram informados há cinco meses sobre a reintegração, de modo que, ontem (18), um funcionário da Subprefeitura de Santo Amaro os notificou sobre a ação de hoje. Só a GCM tem 80 homens envolvidos na ação --metade atuando na fiscalização de produtos piratas. "Algumas poucas mercadorias sem nota foram apreendidas, mas, no geral, a ação foi pacífica", afirmou Rocha.

Em nota, a assessoria de imprensa da Subprefeitura de Santo Amaro alegou que a desocupação da praça visa à "mobilidade urbana com revitalização da praça e das calçadas do entorno".

Desânimo e revolta

O tom das declarações dos ambulantes, porém, foi de revolta e de desânimo quanto às possibilidades de vendas fora da praça. "Aqui tinha policiamento, era tudo organizado. É uma covardia o que estão fazendo. Esse prefeito é o anticristo: ele está matando 300 famílias que vão ficar desempregadas", criticou Roberto Paula da Silva, 42, que vendia calçados no local desde 1997.

Até hoje dona de um box em que vendia echarpes, bolsas e gravatas, Maria José Silva, 69, se disse "chocada" de chegar hoje para trabalhar e ver que o box havia sido arrombado na reintegração. "A prefeitura nos jogou na rua. Disseram que querem fazer aqui uma coisa bonita, mas não foi isso que aconteceu. Com 69 anos, o que vou fazer? Não tenho condições de alugar um lugar para garantir meu sustento."

Vendedora de maquiagens e bijuterias junto com a irmã, Marjorie Aragão disse que passou a noite em claro, na praça, com receio de que o box fosse arrombado na reintegração. "Isso que fizeram foi um abuso de poder. Nossas mercadorias têm notas, pagamos impostos. E se a ideia é limpar e melhorar o local, que já era organizado, por que até agora ninguém interveio na praça Floriano Peixoto [do lado oposto à Salim Maluf], que está dominada por viciados e prostitutas, à noite?", reclamou.

"Aqui eles matam a gente aos pouquinhos"

Já dona Valdivina foi uma das únicas que não acompanharam a reintegração em silêncio. Ela começou uma discussão com um guarda civil, mas, chorando, foi convencida pela filha a deixar o local. "Trabalho aqui, tenho CNPJ, sou uma cidadã. Tenho nota fiscal. Isso não significa nada?", disse, para completar: "Isso que fizeram com a gente é pior que o que o Hitler fez, porque aqui eles matam a gente aos pouquinhos."

A operação de reintegração durou toda a manhã e complicou o trânsito nas imediações da praça, já que ruas precisaram ser interditadas para os trabalhos de desmontagem das barracas. Os ambulantes chegaram a ingressar com um mandado de segurança na 5a Vara da Fazenda Pública, mas o pedido ainda não foi julgado.