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Crea-RJ diz que avisou sobre risco de desabamento em imóvel do bloco Bola Preta

Felipe Martins

Do UOL, no Rio

15/05/2012 13h46Atualizada em 15/05/2012 13h53

O presidente do Crea- RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro), Agostinho Guerreiro, afirmou nesta terça-feira (15) que o órgão já havia avisado a agremiação Cordão da Bola Preta, tradicional bloco carnavalesco carioca, sobre o risco iminente de desabamento de um sobrado localizado no centro do Rio.

Parte desse e de outro imóvel ruiu na manhã de hoje no cruzamento da rua Lavradio com a rua da Relação, próximo do acesso à avenida Chile. O sobrado estava desativado e interditado pela Defesa Civil devido a problemas de queda de reboco. As causas do desabamento ainda estão sendo investigadas.

“Há cerca de um mês nossos fiscais estiveram aqui e fizeram um relatório da vistoria. Ficou claro que havia muitos riscos de que o imóvel poderia cair a qualquer momento. O Cordão da Bola Preta foi informado do relatório, porém a recuperação não foi feita, ao que parece por questões burocráticas”, disse o presidente do Crea.

O engenheiro civil especializado em estrutura e conselheiro do Crea Antônio Eulalio vistoriou o imóvel na época e constatou o “péssimo estado” do local que, segundo ele, apresentava grau avançado de deterioração. “O prédio estava com infiltrações, tinha até árvore nascendo, a chuva de ontem foi a gota d’água. O telhado de madeira estava apodrecido e caiu em cima do segundo piso, que felizmente não desabou. O desabamento do telhado acabou empurrando a parede frontal para a rua”, explicou o engenheiro.

O imóvel foi cedido ao Cordão da Bola Preta em 2009 pela RioTrilhos, órgão do governo do Estado. Para o presidente do Crea, antes da cessão já era necessária a intervenção na estrutura. “A situação de precariedade é muito antiga. Antes de qualquer coisa, precisava de recuperação.”

Guerreiro alerta que novos desabamentos podem acontecer na região central da cidade. “Existem centenas de prédios nessas condições no centro do Rio e que precisam de uma atenção que envolva o poder público e a iniciativa privada. Se nós não tivermos uma política de valorização do centro, vamos ter uma série de casos como esse. É só uma questão de tempo.”

Agentes da Secretaria Municipal de Conservação estãoremovendo o que sobrou do segundo andar dos dois sobrados que formam o conjunto que desabou. Procurada pelo UOL, a Secretaria Estadual de Transportes, que comanda a RioTrilhos, não se pronunciou até o momento.

Já a agremiação carnavalesca disse que havia conseguido recursos da prefeitura para as obras de restauração, mas o projeto estava parado devido a uma ação judicial.

  • Imagens mostram o local antes e depois do desabamento no centro do Rio de Janeiro

Desavença judicial

O sobrado é alvo de disputa judicial entre o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) e o Cordão da Bola Preta. Segundo o presidente do Sinpol, Fernando Bandeira, o imóvel pertencia à Riotrilhos e foi cedido ao Sinpol em 2003. Ainda segundo Bandeira, cerca de R$ 600 mil foram gastos em obras de recuperação. Em 2005, após uma greve de policiais civis, o governo despejou o sindicato, que entrou na Justiça. Em 2007, o Sinpol conseguiu reaver o imóvel.

Bandeira contou que, para evitar o pagamento de indenização, o governo estadual cedeu novamente o imóvel ao Sinpol. Entretanto, em 2009, o Estado voltou atrás novamente e cedeu o imóvel ao Cordão da Bola Preta.

A assessoria da agremiação carnavalesca informou que o bloco já havia conseguido recursos da prefeitura para as obras de restauração, entretanto uma ação na Justiça impetrada por sócios em conjunto com o Sinpol impediram o andamento das obras. “Se não tivesse nenhum impedimento legal, essa obra teria começado logo após o Carnaval”, disse Pedro Ernesto Marinho, presidente do Cordão da Bola Preta.