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Cariocas dizem que vão sentir saudade de esquema de segurança da Rio+20

Fabio Leite

Do UOL, no Rio

23/06/2012 06h00

Helicópteros militares sobrevoando o Rio de Janeiro. Soldados do Exército armados com fuzis em parques, calçadas e passarelas. PMs e guardas municipais rondando a orla das praias, ruas e praças. Um vaivém frenético de carros policiais, jipes e motos de batedores escoltando comitivas estrangeiras e até patrulhamento naval com barcos da Marinha.

O megaesquema de segurança implantado na Rio+20 para receber as delegações de 180 países e seus chefes de Estado que visitaram o Rio de Janeiro nos últimos dias trouxe uma sensação de superproteção aos cariocas que vai deixar saudade.

Desde o dia 13 de junho, quando teve início a conferência, o efetivo policial na cidade praticamente dobrou. O governo do Rio colocou 7.000 PMs na rua, metade do efetivo de todo o Estado, e o Exército, mais 8.000 soldados nos locais que sediaram os eventos e em pontos estratégicos, como ao redor dos aeroportos e no corredor hoteleiro da zona sul.

"A gente fica mais segura, sem dúvida. A sensação é de que você vive em outro país. Seria um sonho que continuasse assim porque no dia a dia quase não vejo policial", disse a maitrise Adelaide Lourete Rodrigues, 62, que se sentiu encorajada pela presença de militares do Exército a trocar a caminhada matutina pela noturna no calçadão de Copacabana (zona sul).  

Só na orla da praia mais famosa do Rio haviam seis comandos do Exército, cada um com ao menos quatro soldados, instalados no canteiro central da avenida Atlântica entre o Leme e o Forte de Copacabana. O maior deles estava em frente ao hotel Copacabana Palace, onde se hospedaram dez chefes de Estado. 

A todo momento, o som das sirenes e dos helicópteros cortava a avenida Atlântica. "O barulho incomoda, mas é melhor ter barulho e segurança do que andar na rua com medo", conta a assistente social Élen Nogueira, 58, moradora de Copacabana.

No Aterro do Flamengo (zona sul), local onde ocorreu a cúpula dos povos, PMs e guardas municipais circulavam em grupos de até seis policiais pela orla, enquanto militares do Exército ocupavam passarelas e passagens subterrâneas do trajeto entre os hotéis e o aeroporto Santos Dumont, no centro. Era possível encontrar soldados de Botafogo até a Glória.

"Seria bom se fosse sempre assim, mas é impossível ter o Exército o tempo inteiro na rua. Aqui (Flamengo) é mais tranquilo, mas deveria ter mais policiamento sempre. Dependendo do horário eu não venho pra cá", disse a funcionária pública Maria do Socorro de Sá Barreto, 52.

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A PM e a Polícia Civil informaram que ainda não têm um balanço estatístico para saber se houve impacto do reforço policial no número de ocorrências na cidade.  

Trânsito caótico

Mas a sensação de mais segurança proporcionada pela Rio+20 teve um preço que os cariocas tiveram de pagar no trânsito. Embora tenha sido decretado ponto facultativo na cidade nos três últimos dias do evento, interdições de vias para passagens de comitivas, manifestações de ativistas e obras provocaram congestionamentos em vários pontos da cidade.

A Barra da Tijuca (zona oeste), onde fica a sede oficial do evento, no Riocentro, e o centro da capital foram as áreas mais afetadas. "Mesmo com o feriado, o trânsito esteve um caos. Estava difícil andar", disse o auditor Maurício Antonio Carvalho Rafael, 46, que mora em Laranjeiras (zona sul) e trabalha na praça Saens Peña, na Tijuca (zona norte).

"Ninguém está saindo da Barra. Tenho parente que ia vir em casa essa semana e desistiu porque está impossível. Isso é uma pequena mostra pequena do que deve ser na Copa e na Olimpíada", alertou a aposentada Hélia Peçanha, 75, que mora no Flamengo.

Na zona sul, os pontos de lentidão eram causados pelas comitivas oficiais. Agentes da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego) e PMs bloqueavam cruzamentos e militares do Exército fechavam as passarelas para a passagem das delegações estrangeiras escoltadas por motos da polícia.

Em Copacabana, por exemplo, o UOL flagrou dois batedores da Polícia Rodoviária Federal e quatro carros escoltando na avenida Atlântica um grupo de noruegueses que caminhava pelo calçadão. Na altura da rua Santa Clara, eles pararam e entraram nos veículos que estavam enfileirados na pista da direita, atrapalhando o fluxo do trânsito.