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Organizadores comemoram adesão de 80 mil pessoas na Marcha dos Povos

Os ativistas da Marcha dos Povos lotaram a avenida Rio Branco, no Rio, nesta quarta-feira (20) - Vanderlei Almeida/AFP
Os ativistas da Marcha dos Povos lotaram a avenida Rio Branco, no Rio, nesta quarta-feira (20) Imagem: Vanderlei Almeida/AFP

Maria Denise Galvani

Do UOL, no Rio

20/06/2012 18h58

No dia da chegada dos chefes de Estado e altos representantes à Rio+20, a Marcha dos Povos reuniu 80 mil pessoas, segundo os organizadores, na maior manifestação de rua organizada até agora no período da Conferência. O número não foi confirmado pela Polícia Militar, que no início do protesto falava em 20 mil participantes. A marcha saiu da Candelária, debaixo de chuva, e tomou a avenida Rio Branco. O trânsito foi desviado para as vias paralelas.

Com a chamada “em defesa dos bens comuns e contra a mercantilização da vida”, a Marcha dos Povos reuniu dezenas de movimentos sociais e causas diferentes – em defesa da agricultura familiar, da reforma agrária, direitos femininos, direitos indígenas, direitos dos animais, “saúde digna”, educação, recursos para pesquisas científicas e água de qualidade; e contra os agrotóxicos, a violência doméstica, a energia nuclear, a homofobia, as obras do PAC e da Copa, Belo Monte, a corrupção, o Código Florestal, o capitalismo e a economia verde. Pelo menos.

A norueguesa Benedikte Hansen, líder da ONG Attac no país, chegou a frequentar alguns dos encontros oficiais da sociedade civil no Riocentro, mas disse ter visto mais esperança na Cúpula dos Povos. “A Agenda das Nações Unidas não é a do povo, foi comprada por interesses privados. Os próprios ministros já disseram que estão decepcionados com os resultados””, ela disse.

Para Hansen, a Cúpula e a Marcha dos Povos são oportunidades para encontrar pessoas de movimentos de causas diferentes, discutir e convergir para um mesmo discurso. “Além das organizações tradicionais, aqui estamos encontrando também muitos movimentos novos, como o Occupy”, afirma.

Direito ao microfone

“Mesmo com a união dos povos, você vê exclusão”, disse Sara Neves, que veio de Belém com uma delegação da Articulação das Mulheres Negras Brasileiras.

De acordo com ela, representantes de movimentos indígenas têm reclamado que seus líderes não têm o mesmo acesso ao microfone que outras lideranças durante as manifestações. “Nós mesmas sentimos necessidade de defender direitos das mulheres negras que não encontram expressão nem no movimento negro, nem no movimento feminista.”

O que é

A Rio+20 é a Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, que vai até o dia 22 de junho, no Rio.

Em paralelo, acontece a Cúpula dos Povos, organizada por movimentos sociais para discutir o desenvolvimento sustentável com o viés e a organização própria dos movimentos sociais. Desde terça-feira (19), acontecem as “Plenárias dos Povos”, de onde – assim como na Rio+20 – sairá um documento final da Cúpula dos Povos.

Fabian Alvarado, que foi ao Rio com uma delegação de 19 pessoas da Rede Ecológica do Chile e participou da manifestação desta quarta (20), resumiu o propósito da Cúpula dos Povos. “Não pode sair nada de bom de negociações que se baseiam no capitalismo selvagem. Não queremos reformas, queremos outra civilização”, disse ele.

Samuel Braga, servidor público de Fortaleza e fundador do recém-criado Partido Ecológico Nacional (PEN), participa da programação tanto na Rio+20 quanto da Cúpula dos Povos. Em 1992, quando era vereador, ele também participou dos dois fóruns internacionais no Rio – a Rio92 e a Cúpula da Terra, que reuniu representantes da sociedade civil.

Braga foi assistir a um debate organizado por ONGs brasileiras sobre avanços e retrocessos da política ambiental desde 1992. “Faço questão de participar dos dois, mas acho que as discussões mais interessantes estarão aqui (na Cúpula dos Povos).”