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"Se eles morreram na chuva, é na chuva que estaremos para homenageá-los", diz familiar de vítima do acidente da TAM

Silvia Masseran Xavier, que perdeu a filha Paula Masseran, que tinha 23 anos, participa de evento que lembra os cinco anos do acidente da TAM - Ana Paula Rocha/UOL
Silvia Masseran Xavier, que perdeu a filha Paula Masseran, que tinha 23 anos, participa de evento que lembra os cinco anos do acidente da TAM Imagem: Ana Paula Rocha/UOL

Ana Paula Rocha

Do UOL, em São Paulo

17/07/2012 16h18Atualizada em 17/07/2012 20h00

Familiares das vítimas do voo 3054 da TAM, que se acidentou há cinco anos matando 199 pessoas em São Paulo, realizaram uma manifestação na tarde desta terça-feira (17) no aeroporto de Congonhas, zona sul da cidade –local da tragédia. O ato, que contou com cerca de 50 pessoas, foi realizado horas antes da inauguração de uma praça em homenagem às vítimas.

“Se eles morreram na chuva, é na chuva que estaremos para homenageá-los”, afirmou Silvia Masseran Xavier, que perdeu a filha Paula Masseran, que tinha 23 anos. “ O acidente aconteceu em um dia exatamente como este. Uma terça-feira chuvosa. E se, naquele dia, o avião tivesse sido impedido de pousar aqui, nada disso teria acontecido”, lamentou. Silvia afirma que, após o acidente, nunca mais usou o aeroporto de Congonhas.

Entre as causas apontadas pela tragédia está a liberação da pista para pousos mesmo sem o grooving, as ranhuras que facilitam o escoamento da água em dias de chuva.

Silvia, que atua na Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (Afavitam), informa que os familiares estão à procura de patrocinadores para apoiar atividades na praça que será inaugurada hoje para marcar os cinco anos do acidente. ''Queremos que este se torne cada vez mais um local de vida."

Leonardo Soares/UOL
A árvore que sobreviveu tem um significado de vida e de resistência de como superar esta tragédia

Dario Scott, que perdeu a filha, sobre a árvore mantida no memorial às vítimas (foto)

A praça que homenageia as vítimas, batizada de Memorial 17 de Julho, foi inaugurada no mesmo local onde o Airbus 320 da empresa se chocou contra um prédio da mesma companhia, na avenida Washington Luiz.

Uma missa campal começou a ser celebrada no local (avenida Baronesa de Bela Vista, altura do nº 196 – Campo Belo) por volta das 17h50 e, em seguida, houve a cerimônia de inauguração. Às 18h51, horário exato da explosão do avião, foi feito um minuto de silêncio. 

As obras começaram em dezembro do ano passado. Com área total de 8.318 m² e investimento de R$ 3,6 milhões --provenientes da Prefeitura de São Paulo--, a praça tem espaço de convivência e um espelho d’água com os nomes de todas as vítimas, que também são lembradas nas 199 lâmpadas de LED instaladas no local. Também foram colocados 25 postes, com três focos de luz cada um --as luzes estão dispostas de tal forma que fazem um círculo de 360º. A amoreira que resistiu à tragédia é um dos principais símbolos usados no memorial.

Para o presidente da Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAMJJ3054 (Afavitam), Dario Scott, manter a árvore lembra o apego que se deve ter à vida. “Ali é um solo sagrado. A árvore que sobreviveu tem um significado de vida e de resistência de como superar esta tragédia”, afirma. Para ele, a inauguração do memorial é um marco para a cidade e fará com que as autoridades, as companhias aéreas e as pessoas que trabalham no aeroporto e no entorno nunca esqueçam do que aconteceu. Dario perdeu a filha de 14 anos no acidente.

É um lugar mágico, um local de conforto

Soélen Silva, que perdeu a irmã, sobre o memorial em homenagem às vítimas

Para a estudante de enfermagem Soélen Silva, 21, que perdeu a irmã Madalena Silva –que tinha 20 anos e era comissária de bordo da TAM havia dez meses– o memorial é um lugar de conforto. “É um lugar mágico, um local de conforto, onde podemos recordar boas lembranças”, afirmou. Sua família é do Rio Grande do Sul e seu pai, que se mudou para São Paulo, realiza uma “peregrinação” a Congonhas ao menos uma vez por semana.

Já a estudante Roberta Cristina de Sousa, 25, que perdeu o pai Osvaldo Luiz de Sousa –funcionário da TAM que estava no prédio atingido pelo avião– vê a inauguração como um alívio. “É um alívio poder circular aqui, porque é o último local em que ele esteve. É o fim de um ciclo”, afirmou.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Pacheco dos Guaranys, participa da cerimônia e afirmou aos jornalistas que Congonhas é um aeroporto seguro. "É difícil precisar se é mais ou menos seguro que há cinco anos, mas estamos sempre aprimorando", disse. "Cada tragédia que acontece gera vários ensinamentos para nós, para melhorar nossa regulação.” 

Julgamento

O processo criminal que acusa três pessoas de atentado contra segurança de transporte aéreo pelo acidente da TAM ainda corre em primeira instância no Tribunal Regional Federal de São Paulo. Atualmente, o juiz analisa o processo para despacho e decisão. Após a análise, ele decide se os réus devem continuar ou não a serem julgados.

São acusados a ex-diretora da Anac Denise Abreu, o ex-vice-presidente de Operações da TAM Alberto Fajerman e o ex-diretor de Segurança de Voo da TAM Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro. Castro ainda atua na companhia como piloto.

Denise Abreu, que perdeu o cargo em meio à crise provocada pela tragédia, é acusada de imprudência por ter liberado a pista de Congonhas para pousos mesmo sem o grooving, e sem ter feito "inspeção após o término das obras de reforma nas pistas”. A reportagem não conseguiu contato com o advogado dela para saber qual a estratégia da defesa.

Já em relação aos representantes da TAM, a Procuradoria os acusa de serem negligentes por terem permitido que os aviões da empresa pousassem em Congonhas, mesmo sabendo das condições da pista em dias de chuva. O advogado de Fajerman e Castro, Antônio Cláudio Mariz, diz que eles não têm responsabilidade pelo acidente, pois não cabia a eles autorizarem a aterrissagem na pista. De acordo com Mariz, Fajerman não estava em São Paulo no dia do acidente.

"Assim como o acidente teve uma repercussão nacional, esperamos que o julgamento dos três acusados tenha a mesma visibilidade, para que a justiça seja feita e não haja omissão. Este é um lugar que lembra pessoas que amamos, mas que, acima de tudo, deve servir como um alerta", disse Archelau de Arruda Xavier, vice-presidente da Afavitam e marido de Silvia Masseran Xavier, referindo-se ao memorial.

Indenizações

A TAM informou que já foram fechados acordos com 193 famílias de vítimas, mas não divulga o valor total de indenizações pagas. De acordo com a companhia, foram gastos cerca de R$ 17,3 milhões com as famílias, para cobrir despesas gerais, como hospedagem e alimentação, e cerca de R$ 1,5 milhão em reembolso de despesas gerais.

O acidente

Quando chegou no aeroporto de Congonhas no fim da tarde de 17 de julho de 2007, o Airbus 320 que fazia o voo JJ3054 da TAM, vindo de Porto Alegre, não conseguiu parar, passou por cima da avenida Washington Luiz, que fica em frente ao aeroporto, e se chocou contra um prédio da TAM, explodindo e matando 199 pessoas.

A  análise da caixa-preta revelou que os pilotos pousaram com um manete do avião em posição errada, o que manteve a aceleração em um dos motores. As condições da pista e a falta de uma área de escape no aeroporto de Congonhas também contribuíram para o acidente.