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"Me senti humilhado", diz deficiente após brigar para usar elevador prioritário no metrô de SP

Fila do elevador preferencial na linha amarela do Metrô de São Paulo nesta segunda (1º) - Fernando Donasci/UOL
Fila do elevador preferencial na linha amarela do Metrô de São Paulo nesta segunda (1º) Imagem: Fernando Donasci/UOL

Fabiana Nanô

Do UOL, em São Paulo

02/10/2012 06h00

Os problemas na linha 4-amarela do metrô de São Paulo não param de aumentar. Controlada pela empresa privada Via Quatro, as cinco estações abertas da linha já sofrem com superlotação, mapas da malha metropolitana desatualizados, esteiras rolantes desligadas em horários de pico e, agora, com o desrespeito dos usuários em relação às pessoas com prioridade, entre elas gestantes e deficientes. No dia que a reportagem do UOL visitou a estação Pinheiros, havia até fila em frente aos elevadores de uso preferencial.

  • Arquivo pessoal

    Ângelo Maciel, que tem paralisia na perna esquerda e uma doença nos ossos, aguarda elevador de uso preferencial na estação Pinheiros do metrô de SP

Como todas as estações, ali existem elevadores para pessoas com deficiência, idosos acima dos 60 anos, gestantes e pessoas com carrinho de bebê ou com criança de colo. Mas, quem frequenta a estação todos os dias sabe que esses elevadores são utilizados por várias pessoas fora destas condições. 

O deficiente Ângelo Maciel, 49, que tem paralisia na perna esquerda e anda com uma bengala, contou ao UOL que chegou a discutir com um usuário do metrô no dia 9 de dezembro de 2011, e os dois foram parar na delegacia. A audiência do caso ocorrerá nesta terça-feira (2), no Fórum de Pinheiros, zona oeste da capital paulista.

“Nesse dia (9 de dezembro) estava com muita dor, e consequentemente de muito mau humor, então coloquei a bengala na porta do elevador e gritei para que alguém saísse”, conta. “Um homem no final do elevador disse para eu pegar o próximo e me perguntou se eu não era muito folgado. Eu entrei na marra, mas esbarrei e minha mão bateu nos óculos dele e as lentes caíram.”

De acordo com Maciel, começou “uma gritaria” e seguranças da Via Quatro chegaram ao local, “porque antes não havia ninguém”. 

Ele e José Afonso Silva foram levados em um camburão da Via Quatro para a delegacia da Barra Funda. “O pior para mim foi ter ido na parte de trás do camburão, com um segurança do meu lado, enquanto ele foi lá na frente, falando [por telefone] com advogados”, disse Maciel, que é fotógrafo aposentado. 

Na delegacia, ambos assinaram um termo circunstanciado e, nesta terça-feira, farão a audiência. Para Maciel, no entanto, o sentimento de “humilhação” é o que mais pesa na história. “Isso me deixou revoltado.”

Fila no elevador

A reportagem do UOL percorreu a estação Pinheiros e encontrou o problema relatado por Ângelo. Logo ao sair do vagão, pessoas fazem fila para usar o elevador. Janete Bucci, 76, teve que esperar a próxima leva – a primeira subiu lotada de usuários comuns.

“Toda semana é assim. O elevador é terrível. Os jovens entram e não querem saber se tem um idoso atrás. Eles querem entrar e acabou. Agora, a gente fica aqui esperando. Os funcionários não aparecem, nunca tem ninguém aqui”, diz. “Eu nem posso ir pela escada, porque tenho labirintite. Não basta ter que tomar remédio, agora chego aqui e tenho que ficar esperando os jovens passarem primeiro. Não é certo isso.”

Ao lado dela, Márcia da Silva, 32 anos e gestante de seis meses, também teve que esperar. “Todos os dias tem quebra-pau mesmo, porrada lá dentro [do elevador] quando fecha [a porta]. Ninguém nunca deixa passar”, conta.

Na fila, Lindaci Galli, 59, sugeriu que houvesse o serviço de “Posso Ajudar?” nos elevadores: “para controlar isso aqui”.

Outro lado

O UOL relatou os problemas à Via Quatro, que enviou uma nota na qual diz que “promove frequentemente ações nas estações para conscientizar o público sobre o uso correto de escadas rolantes, elevadores, embarque consciente e deslocamento dentro dos trens”.

“Diariamente, nos horários de pico, os colaboradores da concessionária realizam uma operação nos elevadores das estações Butantã, Pinheiros e Paulista, para orientar os usuários quanto ao acesso preferencial”, diz o comunicado.

Tanto Ângelo quanto Janete reconhecem que há funcionários da Via Quatro nos elevadores em horários de pico, mas sugerem que este serviço seja estendido para o dia inteiro, já que os problemas nos elevadores da estação Pinheiros são recorrentes.