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Moradores de bairro nobre do Rio fazem panelaço em protesto contra construção de estação de metrô

Do UOL, no Rio

22/10/2012 10h34

Um grupo de moradores de Ipanema, bairro nobre da zona sul do Rio de Janeiro, realiza na manhã desta segunda-feira (22) um panelaço em novo protesto contra a construção de uma estação de metrô na praça Nossa Senhora da Paz.

A manifestação ocorre paralelamente à instalação de um canteiro de obras no local, onde os engenheiros da concessionária Metrô Rio trabalharão nos próximos quatro anos --o novo ramal, que faz parte do traçado da linha 4, deve ser entregue em 2016.

De acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro, o processo de construção das estações que integram o projeto será executado de forma gradual, isto é, os tapumes que delimitam o perímetro dos canteiros serão colocados aos poucos a fim de reduzir o impacto da obra no cotidiano dos moradores.

Também serão construídas estações de metrô na praça Antero de Quental e no Jardim de Alah, no Leblon, zona sul. A primeira fase das obras prevê que 62% das áreas serão preservadas no sentido de manter espaços de lazer, segundo o governo municipal. Posteriormente, apenas 26% não serão ocupados por máquinas, tapumes ou outros itens relacionados à construção.

Há exatamente um ano, o mesmo grupo de moradores realizou o primeiro protesto contra a construção de uma estação metroviária na praça Nossa Senhora da Paz, que foi marcado por um abraço coletivo formado por mais de 200 manifestantes.

Questão ambiental

O grupo voluntário PSI (Projeto de Segurança Ipanema), responsável por organizar o panelaço, argumenta que a praça Nossa Senhora da Paz, um dos espaços urbanos históricos do bairro, não pode ser descaracterizada --o local é tombado pelo Decreto Municipal nº 23.161, aprovado no dia 21 de julho de 2003.

De acordo com os organizadores, a construção de uma estação de metrô "acumula muitos aspectos desfavoráveis", tais como a derrubada de árvores centenárias e o fim das atividades de lazer no local, principalmente para os idosos.

Além disso, o grupo argumenta que Ipanema não precisaria de mais uma estação de metrô --atualmente, o bairro conta com uma estação na praça General Osório, da Linha 1, e uma outra a ser construída no Jardim de Alah, que também levará este meio de transporte para os moradores do Leblon.

Segundo Grace Fabor, uma das organizadoras do protesto, o objetivo é "demonstrar para as autoridades o quanto aquele aprazível local é importante para seus frequentadores, moradores ou não". Além disso, a aposentada afirma que mais de 90% das 1.168 pessoas que votaram em uma enquete promovida pelo PSI se manifestaram contra a construção da estação de metrô.

"O governo do Estado, ao insistir nessa obra, estará contrariando a vontade manifestada pelos moradores de Ipanema: 91,37%, segundo nossa enquete. Contra a tradição, a natureza e o tombamento, ou seja, desrespeito total! Foi lembrado, inclusive, que assim que a estação Jardim de Alah estiver concluída, a estação ora pretendida ficará ociosa, esvaziada, como já ocorre com a estação Cantagalo [situada em Copacabana, bairro vizinho]", questiona.

Os comerciantes do bairro reclamam ainda da instalação de "respiradores" (estrutura de ventilação), que ocupariam espaços importantes para os lojistas que atuam na região. Além disso, o processo de construção é longo e a rotina dos pedestres seria afetada, na visão dos manifestantes.

Linha 4

Assim como a estação Jardim de Alah, o projeto de construção de um ramal na praça Nossa Senhora da Paz integra o planejamento da Linha 4 (fará a conexão entre Ipanema e a Barra da Tijuca, no Jardim Oceânico).

O governo do Estado considera a obra fundamental para desatar o nó no trânsito entre a zona sul e a Barra, um problema que a cidade precisa solucionar a fim de evitar transtornos durante os Jogos Olímpicos de 2016.

O novo trecho, na prática, será uma extensão da Linha 1 (Saens Peña - Ipanema/General Osório). Os trens sairão da Pavuna e seguirão direto até a Barra com tempo médio de percurso de 35 minutos.

Em SP, churrascão da gente diferenciada

Em maio do ano passado, cerca de 300 pessoas fecharam a avenida Higienópolis, em frente ao shopping local, zona central da capital paulista, em protesto pela intenção do governo de São Paulo de mudar o local de uma estação de metrô na avenida Angélica, após pedido feito por uma associação de moradores.

Depois, a manifestação se deslocou pelas ruas do bairro até a esquina da avenida Angélica com a rua Sergipe, local onde inicialmente estava projetada a estação. Churrasqueiras portáteis foram instaladas no local e assaram chuchu, em referência ao apelido do governador paulista, Geraldo Alckmin. Não foram registrados atos de violência no ato que teve forte presença policial e da CET, a companhia de trânsito paulistana.

O "Churrascão da Gente Diferenciada", nome dado ao protesto por seus organizadores a partir de página na rede social Facebook, mobilizou estudantes, moradores e integrantes de movimentos sociais, que levaram um ambiente popular pelas ruas do sofisticado bairro.

O nome da manifestação surgiu após uma declaração de uma moradora de Higienópolis em entrevista à Folha de S.Paulo. "Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada...".