Topo

"Quero passar o Natal com meus filhos", diz mãe de cinco crianças adotadas à força na Bahia

Silvânia Mota da Silva chora ao falar dos cinco filhos que foram adotados contra a sua vontade, na Bahia  - Anderson Sotero
Silvânia Mota da Silva chora ao falar dos cinco filhos que foram adotados contra a sua vontade, na Bahia Imagem: Anderson Sotero

Anderson Sotero

Do UOL, em Salvador

31/10/2012 15h27

“Quero passar o Natal com meus filhos. Quero eles de volta.” O apelo é da mãe das cinco crianças baianas que foram encaminhadas há um ano e cinco meses para quatro famílias paulistas, Silvânia Mota da Silva, 25 anos.

Na manhã desta quarta-feira (31), em Salvador, ela contou ao UOL como tem sido os meses de espera e expectativa. “Tem sido muito difícil porque eu sou mãe e não quero que aconteça com ninguém o que estou passando. Está todo mundo sofrendo muito, principalmente minha mãe, que ajudava a cuidar das crianças”, disse Silvânia.

Ela chegou a Salvador nesta madrugada, após ter sido ouvida em Brasília pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas da Câmara Federal.

A CPI do Tráfico de Pessoas investiga a suposta existência de uma quadrilha para traficar crianças do sertão da Bahia. Os filhos de Silvânia, quatro meninos (7, 6, 4 e 2 anos) e uma menina (1 ano e 8 meses), foram retirados “à força” de casa.

Primeiro, levaram a menina, no dia 13 de maio do ano passado. Os meninos foram levados em seguida, no dia 1º de junho. Segundo relato da mãe, uma das crianças estava tomando banho na hora e foi levada nua.

“Eu achava que eles tinham ido para o orfanato. Dois deles fizeram aniversário em outubro e outro em dezembro. Eu queria passar o aniversário com eles”, afirmou a dona de casa.

Silvânia disse ainda que vivia com os cinco filhos com a ajuda dos avós, que pagavam aluguel e alimentação. “Eu ainda tinha quatro bolsas (Bolsa Família).” Segundo a mãe, ela nunca falou pessoalmente com juiz Vítor Manoel Sabino Xavier Bizerra, responsável por autorizar a guarda provisória das crianças.

Ela conta ainda que nunca usou drogas, ao contrário do que destacou o juiz ao UOL.
“Meu filhos não eram largados. Estavam na creche e na escola. Eu criei todos com leite de vaca e nunca teve nada. O agente de saúde ia na [sic] minha casa,”.

Defesa

De acordo com o setor jurídico do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-BA), uma audiência de instrução, para ouvir testemunhas, estava marcada para 12 de novembro, mas foi remarcada para o início de dezembro.

Em 26 de outubro, os advogados do Cedeca-BA, Maurício Freire e Isabella da Costa Pinto Oliveira, entraram com um segundo pedido de retorno das crianças para a família em Monte Santo

“Reforçamos o pedido que já tínhamos feito em 3 de setembro. O juiz (Luiz Roberto Cappio Guedes Pereira) pediu que a gente aguardasse até ele ter os resultados dos estudos sócias com as crianças e famílias paulistas”, diz Freire. Ainda de acordo com os advogados, um dos quatro estudos sociais já foi entregue ao juiz.

“Pedimos também que enquanto o juiz não decide queremos que as famílias sejam intimadas a se apresentarem semanalmente nas Varas da Infância de Campinas e Indaiatuba para que não possam fugir. As crianças também devem ser levadas ao Centro de Referência da Assistência Social para estudo social e que a opinião delas seja ouvida”, disse o advogado. “Queremos evitar a alienação parental (que as crianças esqueçam os vínculos com os pais biológicos).”

“O juiz tem dado declarações de que até dezembro quer dar a sentença”, complementou Isabella. O UOL entrou em contato com o juiz Cappio, novo titular da Comarca de Monte Santo, mas ele não foi localizado.

Tráfico

A participação de uma mulher identificada como Carmem em uma suposta rede de tráfico de crianças para adoção foi confirmada por Silvânia. “Ela aparecia sempre lá, e, quando eu estava grávida, ela me disse que eu podia dar para adoção. Ela me deu leite, fraldas, e eu disse que iria pensar”, afirmou.

No entanto, Silvânia diz que desistiu. “Não tive coragem.” Segundo os advogados do Cedeca-BA, a CPI do Tráfico de Pessoas pediu que o sigilo bancário das famílias paulistas seja quebrado para investigar se houve algum tipo de pagamento.

Vídeo

Um documentário está sendo finalizado sobre o caso de Monte Santo, segundo informações do Cedeca-BA. A fotógrafa Marta Torres está colhendo depoimentos de familiares e de crianças amigas dos filhos de Silvânia. A previsão é que até o final da semana já esteja editado.