Topo

"Era minha alma gêmea", diz em carta marido de mulher que foi morta na frente da filha

Jaqueline do Nascimento, 29, morreu ao tentar proteger a filha de 2 anos durante tentativa de assalto - Reprodução/Futura Press
Jaqueline do Nascimento, 29, morreu ao tentar proteger a filha de 2 anos durante tentativa de assalto Imagem: Reprodução/Futura Press

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

10/12/2012 13h39

O sargento do Corpo de Bombeiros Anderson Costa, 35, publicou na noite deste domingo (9) em seu perfil no Facebook uma carta na qual conta a história de seu relacionamento de sete anos com a professora e estudante de engenharia Jaqueline Madeira do Nascimento, 29. Ela foi morta no sábado (8) na porta de casa, no bairro Colégio, na zona norte do Rio, ao tentar defender a filha de 2 anos de um assalto.

No relato, o marido conta que o casal construiu a residência juntos, na época em que Jaqueline estava grávida da filha mais velha, hoje com 7 anos. “Nos conhecemos ainda na infância, ela com 2 e eu com 7. O mundo deu voltas e quando ela tinha 19 começamos a namorar. Em 2005 ficamos sabendo que a Rafinha estava chegando e marcamos o casório. Não tínhamos nada e ela me ajudava a subir os tijolos com uma barriga de 3 meses”, diz na carta.

Por volta das 21h do sábado, a professora se preparava para colocar o carro na garagem de casa, quando foi surpreendida por bandidos em dois carros. Ela teria se assustado com a chegada dos criminosos e um deles acabou atirando quatro vezes. Um dos tiros atingiu Jaqueline e o outro quase pegou na filha de 2 anos. Anderson chegou a levá-la ao hospital com vida, mas ela morreu.

O corpo da professora foi enterrado hoje no Cemitério de Irajá, na zona norte. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios da capital, e a perícia foi realizada no carro, logo após o crime. O resultado sai em até 30 dias.

Até o momento, não há o retrato falado dos acusados, pois a vítima morreu e a única testemunha é a filha de 2 anos do casal. A suspeita é de que os bandidos sejam de uma das três comunidades da região: Jorge Turco, Sapê e Faz Quem Quer.

Confira a carta na íntegra:

“Amigos, eu tive a oportunidade de encontrar um anjo que se apresentou como gente na minha vida. Nos conhecemos ainda na infância ela com 2 e eu com 7, o mundo deu voltas e quando ela tinha 19 começamos a namorar, em 2005 ficamos sabendo que a Rafinha estava chegando e marcamos o casório. 

Não tínhamos nada e ela me ajudava a subir os tijolos com uma barriga de 3 meses. Fizemos nossa casa, e neste tempo moramos num quarto e depois numa meia água. Partimos pra dentro com apenas um quarto e banheiro e depois fomos fazendo as outras paredes, a Rafa já estava com uns 3 ou 4 meses.

Montamos nossa empresa e em 2007 terminamos nossa casa e em 2008 quebramos e passamos até por necessidades de alimentos, mas sempre estivemos juntos. Em outubro de 2008, ela me indicou para prestar serviços na empresa onde trabalhava e começamos a prosperar novamente. Tínhamos planos para os próximos 10 anos e ela era a única pessoa que sempre soube todos os passos, eu falava que se eu morresse ela iria tocar tudo e fazer o futuro das meninas (a Gabi chegou em 2010). 

Mas ontem Nosso Pai disse que já estava bom e a chamou para junto dele. Eu ficava horas conversando com a minha amiga, na sala, na cama, no café da manhã. Eu tive anos de verdadeira felicidade, pena que a missão dela teve que terminar. Ela era minha amiga, eu consegui encontrar o prêmio que todos procuram, eu encontrei a minha alma gêmea. Ela me ensinou a servir sem propósito, apenas pelo benefício do outro. Ensinou a ter propósito sem pegar na minha mão, eu não era nem tinha nada e hoje tenho projetos sólidos. Ela me tratava como um filho e eu queria protegê-la como uma joia. Eu só não tinha a resposta para este caminho que a vida nos levou. 

Eu confesso que não sou forte e apesar de discutir algumas vezes eu nunca teria peito pra sair de perto dela. Mas não tivemos escolha e agora me prendo ao que ela me ensinou nesta vida de exemplos. Eu não acreditava na pureza de sentimentos e na ingenuidade dos detalhes que ela observava, mas tudo isto me empurra a aceitar mais este desafio e eu realmente acredito que um dia vou encontrá-la e dizer "a missão foi cumprida".

Meus amigos, dediquem um minuto e façam uma oração pedindo paz e tranquilidade nesta nova jornada que ela atravessa. Na tarde passada nossa pequena família feliz dormia juntos depois do almoço e ontem mesmo ela ficou menor, mas temos que continuar a ser felizes e preencher o vazio com os sorrisos dela. Eu estou feliz porquê posso dizer que tenho duas joias, uma com a cara e outra com seu temperamento. Eu estou feliz porquê amei e fui amado, porquê tentei dar de tudo para ela e sei que ela mesmo sem fazer força ela foi muito melhor que eu. 

Que a paz de nosso Divino Deus esteja com você meu grande amor. Te amo para sempre.”