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'Sombra e água fresca' ficam até 67% mais caras nas praias do Rio com chegada do calor

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

30/12/2012 06h00

Não é só a temperatura das areias cariocas que está alta neste início de verão: os preços de sombra e bebidas vendidas nas praias também chegaram às alturas. Na praia de Ipanema, o aluguel de um guarda-sol, que custava R$ 6, agora já está custando  R$ 10 (alta de 67%). Refrigerantes saltaram de R$ 3, a latinha de 350 ml, para R$ 4,50 (aumento de 50%). E a cerveja, também em latinha de 350 ml, saiu de R$ 4 e foi para R$ 5 (aumento de 25%).

O produtor Thiago Masotti mora há oito anos em Nova York e diz se surpreender cada vez que chega à praia. Em sua segunda passagem pelo Rio em 2012, ele constatou que os preços de agora estão mais altos do que há seis meses. Acompanhado do amigo americano Philip Thomas, ele disse que é comum vendedores cobrarem preços diferentes para turistas.

“Para carioca a cerveja é R$ 3, para alguém de fora do Rio é R$ 4 e para ele é R$ 6”, diz, apontando para o amigo estrangeiro. “O dinheiro que você gasta aqui na praia com comida, bebida, barraca e cadeira você come superbem em um restaurante bom de Nova York, mesmo convertendo para dólar.”

Para fugir dos altos preços, os amigos Leandro Barbosa, Marcell da Matta e Maicon Beira Mar apostam no bom e velho isopor com gelo, que chega vazio e é 'recheado' em algum supermercado perto da praia. “Quando acaba a cerveja, a gente tem que pechinchar com os ambulantes. Mas nessa época tem tanta gente que fica difícil ganhar um desconto”, diz Marcell.

“Deixa a gente ganhar um pouquinho”

A orla regularizada pela prefeitura e pela Ascolbra (Associação do Comércio Legalizado de Praia) vai da praia do Flamengo à do Recreio, tem cerca de 35 km de extensão e 1.126 barraqueiros cadastrados.

Segundo Paulo Joarez Vargas, presidente da associação, a alteração dos preços, em todas as praias, ocorreu pelo aumento geral do valor das bebidas. “Somente neste ano, as empresas aumentaram o preço para nós em 10% três vezes. Infelizmente, nós temos que repassar isso para os consumidores”, disse ele.

"A gente passa horas andando nesse sol, deixa a gente ganhar um pouquinho agora, vai", diz o ambulante que prefere ser chamado apenas de Mangueira. Há 30 anos trabalhando no Posto 9, em Ipanema, o uruguaio Milton González culpa o baixo número de guarda-sóis e cadeiras pelo aumento do preço, opinião que é compartilhada por muitos barraqueiros da praia de Ipanema.

Em 2009, um contrato firmado entre a prefeitura e a Ascolbra, órgão que representa os comerciantes, regularizou a quantidade de guarda-sóis e cadeiras a que cada um teria direito. Hoje são 40 guarda-sóis, todos padronizados em tom pastel, e 80 cadeiras.

Tratamento vip

“A gente trabalhava com 80, 90 guarda-sóis. A regularização diminuiu nosso lucro em 40%, mais ou menos. Essa lei precisa ser revista, porque é impossível trabalhar com essa quantidade no verão do Rio. A gente precisaria de no mínimo cem. Por causa disso, os preços acabaram aumentando desde 2009”, afirma.

“Quando a gente não tem guarda-sol, o cliente vai embora. Se você viola e coloca mais, você recebe multas pesadas. Temos que buscar uma solução, de repente ter mais guarda-sóis só durante os três meses do verão”, diz González.

A maneira encontrada pelos comerciantes para atrair os turistas mesmo com os altos preços é investir no tratamento VIP e mimar os clientes. González faz sanduíches de linguiça com chimichurri, molho tipicamente uruguaio, todos os dias e conversa em espanhol com turistas latinos.

Já na barraca da Sônia, no Posto 8, os banhistas podem tem comandas separadas com tabela de preços de todos os produtos que ela vende. “A gente não enrola ninguém aqui. Se o turista quiser, a gente empresta um balde com gelo para eles colocarem as bebidas”, disse Sônia, que prefere ser chamada somente pelo primeiro nome.

Guarda-sol

O problema do número limitado de guarda-sóis, considerado pequeno pelos barraqueiros, pode ter gerado uma inflação. Segundo três comerciantes, que não quiseram se identificar, os guarda-sóis padronizados estavam sendo vendidos a eles por R$ 60 cada um, em dinheiro e sem nota fiscal, de forma a burlar a cota de 40 unidades por comerciante.

A Secretaria Municipal de Ordem Pública disse que desconhece essa informação, mas vai apurá-la junto à Ascolbra, que é a responsável pelos guarda-sóis padronizados, e, se comprovada a venda, punir os responsáveis.