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No Zoológico do Rio, picolé de fruta e sorvete de carne ajudam os animais a aguentarem o verão

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

09/01/2013 18h03

Paulinho, 27, Neto, 14, e Carla, 40, não conversam sobre o assunto, mas os três concordam: o calor está "o bicho". Deitados na sombra, quietos e molhados de suor, o chimpanzé, o tigre e a elefanta, respectivamente, são os animais do Zoológico do Rio que mais sofrem com as altas temperaturas do verão carioca.

Para amenizar os impactos do calor, de dezembro até março, os mamíferos e répteis recebem cuidados especiais na alimentação e na infraestrutura de suas "casas". Os pinguins têm direito a um ambiente com ar condicionado, para manter a temperatura baixa. Já os macacos ficam bem só com ventilador e com os borrifadores de água. As jaulas dos répteis não têm as árvores podadas, para que eles possam ter mais sombra.

“Os répteis precisam do sol para converter em energia. No verão, o metabolismo deles acelera, fazendo com que eles precisem comer mais vezes ao dia. Nós não podamos as árvores, para que haja sombra e o metabolismo não aumente demais. Para os mamíferos, nós fazemos uma dieta de verão, com uma alimentação menos calórica. Damos frutas mais leves e ricas em água, como melancia, melão, abacaxi e manga, para eles não desidratarem, já que suam muito”, diz a zootecnista Carla Cunha, responsável pelos animais.

“Como eles ficam muito cansados, eu faço um mimo para eles, há cinco anos: sorvete de carne para os felinos e picolés de fruta para os ursos e macacos. Bato a fruta pura ou a carne no liquidificador, depois congelo com palitinho, para os animais menores, e dentro de um balde, para os maiores”, conta, sobre os sorvetes que chegam a pesar 30 quilos, como é o caso dos que são feitos para os ursos e para os tigres.

Zé Colméia, o urso pardo natural do Alaska, recebe o sorvete enquanto nada em seu tanque de água gelada. Carla, a elefanta, toma 20 litros de suco de melancia, em menos de 30 segundos, três vezes ao dia. Entre os felinos, o sorvete de carne é dado para uma vez para os tigres e outra para os leões em dias alternados da semana. Os chimpanzés, macacos e orangotangos recebem picolés de manga uma vez ao dia, durante toda a semana. O mimo é tanto que chega a causar inveja nos jovens. "O macaco está melhor do que a gente. Também vou querer um picolé, mãe!", pede a estudante Julia Bittencourt, 14.

Toda a alimentação é preparada na cozinha do zoológico. Liquidificadores industriais batem os quatros litros de suco que os chimpanzés tomam por dia e os 60 litros diários de suco de melancia dos elefantes.

“Tudo é feito aqui, sem conservantes e sem açúcar. Mas é necessário se programar, porque a geladeira não dá vazão para tanta demanda. O sorvete de 30 litros, por exemplo, demora três dias para congelar”, conta Carla. “A gente faz tudo para deixar o ambiente o mais parecido com o habitat deles e também para não precisar raspar os pelos do macacos, e não mexer na biologia deles”, afirma.

Altas temperaturas

O Zoológico do Rio tem 2.700 animais e fica em São Cristóvão, bairro que pertence à zona meteorológica da Saúde, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Para janeiro, a previsão do instituto é de que a região tenha a maior temperatura média da cidade: 33,1ºC.

"Os bichos estão melhores do que a gente. Aqui está o maior calorão e eles estão ali no fresquinho, recebendo chuveirada", se diverte a professora Ruth Stenden, de Salvador, que levou o neto Henrique, 10, pela terceira vez ao Zoo do Rio. "Eu quero ser leão, me coloca na jaula, vó?", pediu o estudante.

Quando o verão acaba, a alimentação passa por um fase de transição para se adaptar ao cardápio de inverno, mais rico em vitaminas, iogurtes e legumes cozidos. Com o fim do inverno, todo o processo começa novamente.

Para a alegria dos animais e dos 140 mil visitantes que vão ao zoológico todo mês. “Os bichos às vezes ficam horas lambendo o sorvete. Eles se refrescam, e se distraem também. As pessoas acham engraçado, tiram fotos e eles ficam se exibindo”, conta Carla.