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Um ano depois, moradores dizem que violência na região do Pinheirinho diminui após reintegração

Frente do terreno da massa falida da empresa Selecta vira refúgio de usuários de crack  - Fernando Donasci/UOL
Frente do terreno da massa falida da empresa Selecta vira refúgio de usuários de crack Imagem: Fernando Donasci/UOL

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

21/01/2013 06h00

Moradores do bairro Residencial União, em São José dos Campos (a 97 km da capital paulista), disseram ao UOL que o índice de violência na região caiu "consideravelmente" desde a polêmica reintegração de posse do Pinheirinho, que completa um ano nesta terça-feira (22).

"Os assaltos e roubos aqui na padaria diminuíram muito desde então. Não significa que eles pararam, mas acontecem com bem menos frequência do que antes", afirma a balconista Verônica Oliveira Brito, 21, que diz se sentir mais segura tanto no trabalho como ao andar pelo bairro.

A diminuição da violência também foi sentida pelo empresário José Mário Ferreira Barros, 51, morador da região. "Nunca fui assaltado, nem antes e nem depois da saída dessas famílias. Ainda assim pude perceber que os relatos de roubos aqui diminuíram bastante", conta.

A sensação dos joseenses entrevistados pela reportagem do UOL também foi notificada nos dados do 3º Departamento de Polícia do município, que atende a região próxima ao Pinheirinho. Entre os meses de fevereiro e novembro de 2012, o índice de roubo na redondeza diminui 34% em comparação ao mesmo período de 2011. Em contrapartida, o número de furtos subiu 8%. Os outros indicadores de violência tiveram resultados semelhantes de antes da reintegração.

"O 3º DP atende todo o extremo sul de São José dos Campos, que abriga cerca de 200 mil pessoas. É uma área muito populosa e com índice de criminalidade grande. Portanto, não há como associar a redução dos roubos, tampouco o aumento dos furtos na região com a desocupação do Pinheirinho", afirma José Henrique Ramos, delegado responsável pelo 3º Departamento de Polícia.

Vítima do Pinheirinho diz que não é mais o mesmo após tiro

Mendigos

Mas as mudanças na redondeza não se resumem a violência. A comerciante Salete Siveres, 45, notou também a diminuição no número de pedintes no bairro. "Havia dia em que até cinco pessoas diferentes batiam em minha porta para pedir doação. Alguns até reclamavam quando você não dava ou dava algo que não era do agrado", conta.

Com tantas mudanças, Barros diz acreditar, inclusive, que a desocupação do terreno do Pinheirinho valorizou mais os imóveis do bairro. Percepção também notada pela dona de casa Maria Alves da Silva, 36, que mora nas redondezas há 12 anos.

Segundo ela, na época da ocupação do terreno de propriedade da massa falida da empresa Selecta, era muito difícil vender os imóveis. "Isso porque o bairro era desvalorizado, principalmente pela prostituição e pelo tráfico de drogas que rolavam solto na avenida em frente ao Pinheiro", diz ela, que reconhece a continuidade da existência de prostitutas e dependentes químicos no bairro, mas em menor proporção.

A valorização do bairro também está relacionada, na opinião de Maria, ao fim da poluição visual dos acampamentos. Mas, mesmo após um ano da reintegração de posse, algumas barracas ainda foram flagradas pela equipe de reportagem do UOL na calçada do terreno. Em uma batida policial, os moradores rapidamente desmontaram seus abrigos improvisados. Minutos depois, porém, a poucos metros do barracão dos seguranças que vigiam o Pinheirinho, lá estavam novamente as lonas penduradas no arame farpado que cerca o terreno baldio, atualmente tomado por mato.

E, em plena luz do dia, mulheres e homens de idades variadas dividiam um cachimbo de crack sem se importar com os carros que passavam pela avenida, tampouco com as pessoas que caminhavam pela calçada oposta. "São pessoas que viviam na comunidade e que, depois da reintegração de posse, por dificuldades financeiras, se entregaram ao vício", aponta a principal liderança do movimento sem-teto do Pinheirinho, Valdir Martins, conhecido como Marrom.

Área é desocupada pela PM
em São José dos Campos (SP)

  • Arte/UOL

Comércio registra perdas

Ainda que os moradores sintam-se satisfeitos com o fim da ocupação no Pinheirinho, os comerciantes locais lamentam a saída das cerca de 9.000 pessoas que moraram no terreno, principalmente pela redução das vendas. Os lucros na farmácia de José Gilvan Dias Gabriel, 58, por exemplo, caíram 50%, segundo ele. "Foi uma perda significativa", disse.

A papelaria do bairro também enfrenta uma baixa estimada em pouco mais de 50%, segundo Ordeli de Oliveira Nunes Nogueira, 41. "O ano de 2012 foi muito ruim para nós e muito diferente de 2011. Não vendemos o que esperava", afirma a comerciante, que também diz sentir falta da honestidade de seus antigos clientes. "Eles vinham aqui gastavam muito e pagavam direitinho."

Já na casa de ração, o prejuízo foi um pouco menor. "As vendas de farelos diminuíram bastante, mas, não afetou muito o negócio, já que esses produtos nunca foram o forte do negócio", aponta o comerciante Rogério Gorgonio Amorim, 38.

Entenda o caso

No dia 22 de janeiro de 2012, a Polícia Militar de São Paulo entrou no terreno conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos, interior de São Paulo, para cumprir o mandado de reintegração de posse da área, que pertence à massa falida da empresa Selecta, do grupo do empresário Naji Nahas. O terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, ocupado desde 2004, abrigava cerca de 9.000 pessoas.

A ordem de desocupação foi expedida pela juíza estadual Márcia Loureiro, mesmo após o TRF (Tribunal Regional Federal) ter suspendido a ação. Apenas na noite do fatídico dia 22 que o Superior Tribunal de Justiça emitiu uma decisão liminar que dava a competência sobre a permissão de reintegração de posse para a Justiça Estadual.

A ação, que durou três dias, foi marcada por violência. Ao menos uma pessoa ficou ferida com gravidade e pelo menos 22 foram detidas. O aposentado Ivo Teles dos Santos, que teria sido espancado por três policiais durante a ação, morreu em abril do mesmo ano de traumatismo craniano.

Todos os moradores desalojados foram identificados com uma pulseira e encaminhados para abrigos na cidade, como quadras e igrejas. Na ocasião, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, prometeu a construção de moradias para as famílias em até três anos e ofereceu um aluguel social no valor de R$ 500 até que as unidades habitacionais fiquem prontas.

Ao todo, 138 animais de estimação dos moradores da comunidade foram levados a dois canis particulares de São José dos Campos (SP). Os animais foram recolhidos por veículos do centro de controle de zoonoses e por empresas especializadas. Os gastos com cada animal foi quase o dobro do valor da bolsa aluguel pago às famílias despejadas.

No dia 31 de janeiro, organizações não governamentais encaminharam à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) um relatório denunciando violações de direitos humanos que teriam ocorrido durante a desocupação da área.

Até julho do mesmo ano, a Defensoria Pública de São Paulo já havia ingressado com cerca de 600 ações judiciais de indenização em favor dos ex-moradores do Pinheirinho.

Um leilão do terreno, avaliado em R$ 187,4 milhões, foi marcado para outubro de 2012, mas as famílias do Pinheirinho entraram com uma ação na Justiça questionando o pregão e conseguiram suspendê-lo por tempo indeterminado.