Topo

Prefeituras de capitais vão gastar R$ 172 milhões com o Carnaval, o equivalente a 3.000 casas populares

Carlos Madeiro*

Do UOL, em Maceió

08/02/2013 06h00

A festa de Carnaval de 2013 vai custar R$ 172,3 milhões aos cofres públicos das 26 capitais e do governo do Distrito Federal, segundo levantamento feito pelo UOL.

O valor inclui os gastos com infraestrutura, cachês de artistas, festas, publicidade, pagamentos extras a servidores e transferências a agremiações e blocos. Aracaju foi a única prefeitura que não informou gastos ou estimativas.

O dinheiro investido equivale, por exemplo, a um conjunto habitacional do "Minha Casa, Minha Vida 2" com 3.122 casas (cada unidade tem valor definido pelo governo federal de R$ 55.188).

Somente nos quatro principais polos de folia --Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador-- as prefeituras têm previsão de gastar R$ 130,9 milhões, valor que representa 76% dos gastos totais.

  • 5962
  • true
  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/02/08/as-prefeituras-deveriam-bancar-o-carnaval.js

Algumas prefeituras afirmam que o valor gasto é compensado pela vinda de turistas para as cidades e o movimento que eles geram na economia local. Somente Rio de Janeiro, Salvador e Recife estimam movimentar mais de R$ 3 bilhões durante os dias de folia.

Segundo estudo do Ministério do Turismo, o Carnaval 2013 deve movimentar R$ 5,7 bilhões em todo o país --R$ 200 milhões a mais que no ano passado.

Para Cícero Péricles, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Alagoas, as festas trazem também retorno social, além do econômico às prefeituras. Ele defende o investimento público na festa “mais tradicional” do país como forma de manter o controle e a tradição de cada cidade.

"O Carnaval é a principal festa no 'país do Carnaval' e o principal evento de cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife-Olinda. Esse valor equivale a apenas 1/6 do custo da reforma do Maracanã, por exemplo. Ou seja, é um valor muito baixo para entes públicos, cujo retorno é alto sob vários aspectos. O país recebe milhares de estrangeiros que vêm para o país somente ver o Carnaval”, afirma

Ranking de gastos com o Carnaval entre as capitais

LocalidadeValor em R$
Rio de Janeiro35 milhões
São Paulo33,9 milhões
Recife*32 milhões
Salvador*30 milhões
Vitória10 milhões
Distrito Federal7 milhões
Porto Alegre6 milhões
Belo Horizonte3,5 milhões
Fortaleza3,5 milhões
Manaus3,1 milhões
João Pessoa2,1 milhões
Belém2 milhões
Florianópolis1,8 milhão
Curitiba540 mil
Campo Grande500 mil
Natal500 mil
Teresina400 mil
Cuiabá350 mil
Macapá100 mil
Rio Branco100 mil
Boa Vistazero
Goiâniazero
Maceiózero
Palmaszero
Porto Velhozero
São Luíszero
AracajuNão informou
  • Fonte: Prefeituras
  • *Inclui cotas de publicidade

Para Péricles, mesmo nos casos onde não há atração expressiva de turistas, a economia acaba sendo movimentada pela população local.

“As prefeituras não poderiam deixar de reagir às demandas culturais e turísticas reais de cada uma das localidades. Carnaval é tradição. Seria como Juazeiro do Norte [no Ceará] ou Aparecida [em São Paulo] não se preocuparem com o fluxo religioso. Cabe às prefeituras fomentar e patrocinar suas manifestações”.

Carnavais mais caros

A prefeitura que informou maior gasto no país com o Carnaval foi a do Rio de Janeiro, com investimento total de R$ 35 milhões.

Os recursos são distribuídos entre as escolas de samba, blocos de rua, shows, bailes, entre outros eventos.

A estimativa é que as festividades rendam cerca de US$ 665 milhões (R$ 1,3 bilhão) de receita para a cidade. Segundo a Riotur (Secretaria de Turismo), aproximadamente 6 milhões de pessoas devem aproveitar o Carnaval na capital fluminense, dos quais 900 mil turistas.

Apesar de não estar entre as capitais com Carnaval mais tradicional, São Paulo terá o segundo maior investimento na folia no país. Este ano, o valor gasto pela prefeitura será de R$ 33,9 milhões.

Desse total, R$ 23,9 milhões vão para ajudar as 78 escolas de samba e blocos cadastrados pela prefeitura. Outros R$ 10 milhões serão gastos com a infraestrutura da festa.

Patrocínios ajudam no Nordeste

Em Recife, a previsão orçamentária é a maior entre as prefeituras do Nordeste. Apesar de ainda não ter fechado o orçamento, já que cotas publicitárias e negociações de cachês foram feitas também na semana do Carnaval, o valor previsto é de pelo menos R$ 32 milhões.

As empresas que investem no Carnaval passam a ter direito a estampar suas marcas nos palcos, anúncios de mídia e panfletos oficiais do evento. Já a prefeitura reinveste o valor arrecadado na festa.

Segundo balanço da prefeitura, em 2012 o Carnaval incrementou R$ 595 milhões na economia da capital pernambucana --os números não incluem receitas de Olinda, na região metropolitana, que também realiza um tradicional Carnaval.

Outro Carnaval grandioso no Nordeste, Salvador também terá gasto milionário e fica na quarta colocação no ranking nacional. Ao todo serão investidos R$ 30 milhões.

Desse total, porém, R$ 13 milhões serão de recursos públicos, já que os outros 17 milhões vêm de cotas de publicidade da iniciativa privada e governo do Estado.

O valor inclui todos os custos da festa, como camarotes, postos de observação e o mini-hospital montado no circuito Barra-Ondina. Além disso, há palcos espalhados pelos bairros custeados pelo poder público.

A estimativa para 2013 dos empresários é que o Carnaval gere em torno de R$ 1,3 bilhão em receitas. Cerca de 600 mil turistas devem curtir a folia na capital baiana, que começou oficialmente nesta quinta-feira (7).

Cancelamentos

Em meio a crises, algumas prefeituras também informaram que cancelaram as festividades e decidiram não investir recursos públicos. Em São Luís, por exemplo, a prefeitura destinou os R$ 2 milhões que seriam gastos na folia às secretarias de Saúde e de Educação, que enfrentam crise.

Maceió também foi outra capital que decidiu não patrocinar festas por conta de uma dívida herdada de R$ 149 milhões. Já Porto Velho informou que, por conta do pouco tempo de gestão, não teve como liberar recursos e ficará sem investimentos este ano.

As prefeituras de Natal e Macapá informaram que cortaram parte do investimento que seria feito por conta da crise financeira.

Teresina cortou quase 30% do recurso por conta de recomendação do Ministério Público. As administrações de Goiânia, Palmas e Boa Vista informaram que não custeiam festas carnavalescas.

*Com colaboração de Camila Neuman, em São Paulo; Elendrea Cavalcante, em  Manaus; Hanrrikson de Andrade, no Rio; e Rayder Bragon, em Belo Horizonte