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Antes de iniciar rebelião, presos em Teresina avisam família, advogados e imprensa

Restos de colchões que foram queimados pelos internos ficaram espalhados pelo pavilhão Especial --onde estão os presos de bom comportamento e os que trabalham em projetos sociais - Divulgação
Restos de colchões que foram queimados pelos internos ficaram espalhados pelo pavilhão Especial --onde estão os presos de bom comportamento e os que trabalham em projetos sociais Imagem: Divulgação

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

09/02/2013 20h51Atualizada em 10/02/2013 01h51

Presos da Penitenciária Regional Irmão Guido, localizada em Teresina, usaram telefones celulares para anunciar que iriam fazer uma rebelião na unidade prisional na tarde deste sábado (9). Eles fizeram contato com familiares, advogados e imprensa.

A unidade prisional tem capacidade para 324 presos e atualmente têm cerca de 400 presos.

Segundo o Sinpoljuspi (Sindicato dos Agentes Penitenciários e Servidores Administrativos das Secretarias de Justiça e Segurança Pública do Estado do Piauí), a penitenciária não possui aparelho ou porta para detectar a presença de metal, além disso, por força de uma liminar, os advogados não passam por revistas.

Segundo informações de uma advogada de um dos presos, foi o próprio cliente que telefonou de um celular avisando “estar apavorado” com o que poderia ocorrer durante o movimento.

A advogada, entrevistada pelo UOL e que pediu para não ter a identidade revelada, contou que os presos têm um telefone celular escondido e usam fazendo ligações com número privado para manter contato com pessoas de fora da penitenciária. “Detalhe: ninguém sabe desse telefone celular. Eles usam coletivamente.”

“O meu 'prediletão' quem ligou primeiro. Pediu que avisasse a imprensa. Eles confiam que estando a imprensa, tudo fica mais seguro”, disse a advogada por MSN.

A rebelião ocorreu no pavilhão B, durante o horário das visitas. Os presos quebraram em dois locais diferentes a parede que dá acesso ao corredor, que é de tijolo em vez de concreto, e que fica em frente ao pavilhão A e o Especial – onde estão os presos de bom comportamento e os que trabalham em projetos sociais na penitenciária. Lá os internos colocaram fogo em colchões e objetos inflamáveis. Ninguém ficou ferido. Os presos não divulgaram o motivo da rebelião.

Segundo agentes, os presos dos pavilhões A e Especial são visados pelos demais colegas por serem tidos como “informantes da polícia” e por questões de segurança eles ficam em pavilhões separados dos demais.

  • Divulgação

    A parede que dá acesso ao corredor e que fica em frente aos pavilhões A e Especial foi quebrada em dois locais diferentes, para facilitar a dispersão 

Os internos do pavilhão A e do pavilhão Especial colocaram fogo em colchões e objetos inflamáveis para que não fossem pegos como reféns e até protegeram as visitas. Ninguém ficou ferido. Os presos não divulgaram o motivo da rebelião, porém agentes explicaram que a rebelião pode ter sido motivada após uma vistoria nas celas, ocorrida o período da manhã, na qual encontraram quatro aparelhos de telefone celular, 11 baterias e dois cadeados abertos.

“Todos os dias são designados dois presos para fazerem a limpeza das celas e eles fecham os cadeados. Quando os agentes fizeram a vistoria descobriram dois cadeados abertos e encontraram os celulares e as baterias. Os presos da limpeza foram colocados na triagem para serem interrogados pela administração da penitenciária e saber a culpabilidade deles em deixar os cadeados encostados. Acreditamos que a rebelião foi em retaliação a medida disciplinar tomada pelos agentes”, explicou o presidente do Sinpoljuspi, Vilobaldo Carvalho.

O movimento foi controlado com a chegada de policiais militares do Rone (Ronda Ostensivas de Naturezas Especiais).

Carvalho informou que apesar de ter sido controlado o motim o clima continua “delicado”.

“São dois policiais militares e 10 agentes para vigiar cerca de 400 homens. É impossível fazer um pente fino e coibir a entrada de celulares na penitenciária com a lotação que está atualmente”, disse Carvalho destacando que os agentes penitenciários trabalham num clima tenso devido ao perigo de entrar armas no presídio “porque se os presos têm acesso a celulares já é metade do passo para conseguirem armas. Precisamos de detectores de metal para ajudar nesse trabalho”, dissecriticou.

A reportagem do UOL entrou em contato com o secretário de Estadual de Justiça, Henrique Rêbello, e com o diretor do sistema prisional do Piauí, Anselmo Portela, mas os telefones deles estavam desligados ou fora da área de cobertura, no início da noite deste sábado.

Até a publicação deste texto nenhuma das autoridades policiais retornou as ligações para explicar o porquê da falha no sistema de vistoria que permite a entrada de celulares.