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Ataque em Tubarão (SC) indica que facção continua ativa mesmo com reforço

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

17/02/2013 09h56

Mesmo com Santa Catarina usando forças federais e todo contingente estadual para enfrentar o crime organizado, mais um ataque foi registrado na madrugada deste domingo (17), indicando que a facção criminosa que encabeça os incidentes continua ativa. Segundo a Polícia Militar, o carro de um policial fora de serviço foi incendiado por volta de 3h, em Tubarão (140 km de Florianópolis). Com isso, sobe para 107 o número de ataques, em 34 cidades, na onda de violência iniciada no Estado em 30 de janeiro.

Santa Catarina recebe soldados da Força Nacional

Na sexta (15) e no sábado (16), as autoridades conduziram três ações para combater os ataques, que, de acordo com a Secretaria de Segurança, são comandados de dentro das cadeias por líderes da facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense). Mesmo com o incidente em Tubarão, este foi o período de maior trégua dos últimos tempos.

Na primeira ação, tropas da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) transferiram 40 líderes do PGC para cadeias federais no Rio Grande do Norte e no Mato Grosso do Sul, numa tentativa de cortar a comunicação deles com as ruas e assim impedir que ordenem ataques. No Presídio Federal de Mossoró (a 278 km de Natal) foram colocados 37 dos líderes.

A polícia não divulgou o nome dos transferidos, mas a direção do presídio de Mossoró informou que foram 37 “cabeças” do PGC que estavam em três unidades prisionais em Santa Catarina em Criciúma, São Pedro de Alcântara e Florianópolis. Segundo a polícia, eles participaram de articulações dos ataques em cidades catarinenses. Três outros integrantes do PGC foram levados para a Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).

Na segunda, simultânea, uma megaoperação da Polícia Civil catarinense prendeu 70 pessoas do total de 97 acusadas de levar mensagens do PGC aos comparsas nas ruas, incluindo mulheres de presos e advogados.

Na terceira, o ministério da Justiça lançou a Operação Divisa, composta de bloqueios em portos, aeroportos e rodovias em busca de armas e drogas.

No sábado pela manhã, o governador Raimundo Colombo havia dito que as ações "cortaram a cabeça do crime organizado".

Policiamento nas ruas

O reforço no policiamento ostensivo é evidente nas ruas de Santa Catarina. Os ônibus urbanos da capital recomeçaram a circular no horário normal de 6h às 23h, depois que a prefeitura e o governo do Estado reforçaram a escolta nas linhas noturnas.

Em Blumenau, um destacamento com cerca de 40 agentes da Força Nacional ocupou o presídio local na noite de sexta. Segundo o delegado Rodrigo Marchetti, dez presos da cidade deverão ser transferidos para presídios federais.

Outro destacamento está em Joinville, a maior cidade do Estado. O presídio local é considerado altamente problemático, porque foi ali que foram gravadas imagens de agentes do Deap (Departamento de Administração Prisional) disparando balas de borracha contra presos, incidente considerado um dos que deflagraram a onda de violência. Um inquérito foi aberto para apurar a ação dos agentes, mas seu resultado ainda não é conhecido.

Entenda

Segundo a polícia, as ações foram ordenadas por líderes de facções criminosas que atuam de dentro dos presídios catarinenses. Os presos alegam que sofrem tortura, não têm atendimento médico e odontológico, nem abastecimento regular de água, além de poucos agentes para que todos posam tomar o banho de sol.

No fim do ano passado, a ouvidora da Secretaria Nacional de Direitos Humanos foi a Santa Catarina, constatou uma série de problemas, e solicitou providências. Na atual série de crimes, os presos, na visita da equipe da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, disseram que os problemas não foram resolvidos, entre eles o não término da apuração dos casos de tortura.

Os detentos, no entanto, questionaram a rapidez da Polícia Civil em investigar a morte da agente prisional Deise Alves, ocorrida em agosto, com o indiciamento de 11 pessoas. Há suspeita que os atentados do ano passado possam estar relacionados com o crime, já que o alvo, segundo a Polícia Civil, seria o marido dela, Carlos Alves, diretor da penitenciária de São Pedro de Alcântara, que pediu afastamento do cargo após a morte de Deise. Alves atribuiu o assassinato à uma das facções que age no estado e controlaria o presídio.

Os detentos dizem que, após a morte da agente prisional, a situação ficou insustentável e chegaram a denunciar a violência praticada pelo diretor e um grupo de agentes em um vídeo gravado pelos próprios detentos. As imagens mostram uma suposta revista em uma cela acompanhada de choques elétricos, tapas e ameaças. Os recentes atentados também são atribuídos à transferência de alguns presos. (Com Renan Antunes de Oliveira, do UOL, em Florianópolis, Agência Brasil e Valor)

Mapa de ataques em Santa Catarina

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