Topo

"A Copa faz isso com o povo", diz sul-africana ao ver destruição na Alerj

Sul-africana Megan Jelley foi à Alerj para ver pessoalmente os estragos provocados pelos atos de vandalismo - Hanrrikson de Andrade/UOL
Sul-africana Megan Jelley foi à Alerj para ver pessoalmente os estragos provocados pelos atos de vandalismo Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

18/06/2013 17h26

A sul-africana Megan Jelley, 30, se disse chocada com os estragos provocados pelos atos de vandalismo que marcaram o final do quinto protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, na segunda-feira (17), no centro do Rio de Janeiro.

Nesta terça-feira (18), a professora de inglês foi à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) para ver pessoalmente a depredação do Palácio Tiradentes, principal alvo da ira dos manifestantes. Segundo ela, "a Copa faz isso com o povo".

"A gente também tinha problemas como esse em 2010 [ano em que a África do Sul sediou o Mundial]. Não tivemos nenhum grande protesto como esse, com cem mil pessoas na rua, mas a reclamação do povo era a mesma. Construíram estádios enormes, muito dinheiro sumiu antes deles ficarem prontos, e nada foi feito em benefício do povo", disse Jelley, que chegou ao Brasil há seis meses para dar aulas de inglês a funcionários de uma grande empresa de petróleo.

Cenas do protesto em SP

Elio Gaspari: Os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais
Existe terror em SP: "Fosse você manifestante, transeunte ou jornalista a trabalho, não havia saída. A cada arremesso de bomba, alguém pedia por vinagre ou o oferecia". Leia mais
Ataque à imprensa: Diversos jornalistas foram feridos e presos pela polícia durante a cobertura do ato. Vídeo mostra que um grupo se identifica, mas é atingido por tiros de borracha e de gás lacrimogênio mesmo assim. Assista
Nova postura: Após a violência do protesto da quinta-feira (13), o governo de SP se comprometeu a não acionar a tropa de choque, não prender quem levar vinagre ao protesto, respeitar o caminho escolhido pela manifestação, mesmo que seja a avenida Paulista, e não usar bala de borracha

"Assim como no Brasil, a mídia também fiscalizava muito. Os protestos eram pequenos, mas também existia a sensação de que o povo estava sendo enganado. Eu dou todo apoio ao povo brasileiro que foi às ruas, mas não concordo com o vandalismo", completou Jelley.

De acordo com a sul-africana, natural da cidade de Pretoria, a passagem de ônibus no país que sediou a Copa do Mundo de 2010 também é cara --ela, porém, não soube especificar o valor. Algumas obras de mobilidade urbana, tais como um trem que faz a conexão das cidades com os aeroportos, chegaram a sair do papel. "Mas aquilo não era para o povo. Era para os turistas. O povo mesmo não foi beneficiado", declarou.

O cenário de destruição no quarteirão da Alerj também atraiu turistas brasileiros que estão de passagem pelo Rio. O pernambucano Ademir Pereira da Silva, 28, afirmou ter acompanhado o protesto de ontem pela televisão, e diz que sentiu orgulho com o espírito de cidadania dos cariocas. Ele espera que o mesmo ocorra em breve em Recife, já que a capital pernambucana também é uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014.

"Os cariocas deram um exemplo de como se constrói a cidadania. A gente só tem a lamentar pelo vandalismo, mas o que aconteceu não representa nem 10% do que foi o protesto de ontem. Torço para que aconteça o mesmo em Recife. O povo precisa ir para a rua", afirmou.

Índio faz ritual em frente à Alerj

Um índio da tribo Ashaninka, identificado apenas como Ash, chamou a atenção dos populares que se aglomeram em frente às escadarias da Alerj ao realizar um ritual que, segundo ele, representa a "defesa da Pachamama" --termo indígena que significa "mãe natureza".

Ash é um dos índios que ocupavam a Aldeia Maracanã, no antigo prédio do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, na zona norte da cidade.

RITUAL NA ALERJ

  • Hanrrikson de Andrade/UOL

    Na frente da Assembleia Legislativa, Ash fez uma celebração para pedir proteção à Pachamama

"Apanhei muito da Tropa de Choque e fui preso em duas manifestações da Aldeia Maracanã. O Cabral conseguiu nos tirar de lá. Mas estou aqui de novo para denunciar a violência sofrida pelo povo indígena", afirmou.

Segundo Ash, o ritual se chama "profecia de Wiracocha", e é comumente feito pelos membros da tribo Ashaninka. Os sete policiais da Tropa de Choque da PM que reforçam a segurança no local acompanhavam a celebração sem esboçar qualquer tipo de reação.

Além de Ash, há pelo menos dez manifestantes que continuam nas escadarias da Alerj. Eles exibem cartazes com mensagens contra o vandalismo e repudiando o aumento da tarifa de ônibus.

Policial à paisana usa arma de fogo em protesto no Rio