"A Copa faz isso com o povo", diz sul-africana ao ver destruição na Alerj
A sul-africana Megan Jelley, 30, se disse chocada com os estragos provocados pelos atos de vandalismo que marcaram o final do quinto protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, na segunda-feira (17), no centro do Rio de Janeiro.
Nesta terça-feira (18), a professora de inglês foi à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) para ver pessoalmente a depredação do Palácio Tiradentes, principal alvo da ira dos manifestantes. Segundo ela, "a Copa faz isso com o povo".
"A gente também tinha problemas como esse em 2010 [ano em que a África do Sul sediou o Mundial]. Não tivemos nenhum grande protesto como esse, com cem mil pessoas na rua, mas a reclamação do povo era a mesma. Construíram estádios enormes, muito dinheiro sumiu antes deles ficarem prontos, e nada foi feito em benefício do povo", disse Jelley, que chegou ao Brasil há seis meses para dar aulas de inglês a funcionários de uma grande empresa de petróleo.
Cenas do protesto em SP
Elio Gaspari: Os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais |
Existe terror em SP: "Fosse você manifestante, transeunte ou jornalista a trabalho, não havia saída. A cada arremesso de bomba, alguém pedia por vinagre ou o oferecia". Leia mais |
Ataque à imprensa: Diversos jornalistas foram feridos e presos pela polícia durante a cobertura do ato. Vídeo mostra que um grupo se identifica, mas é atingido por tiros de borracha e de gás lacrimogênio mesmo assim. Assista |
Nova postura: Após a violência do protesto da quinta-feira (13), o governo de SP se comprometeu a não acionar a tropa de choque, não prender quem levar vinagre ao protesto, respeitar o caminho escolhido pela manifestação, mesmo que seja a avenida Paulista, e não usar bala de borracha |
"Assim como no Brasil, a mídia também fiscalizava muito. Os protestos eram pequenos, mas também existia a sensação de que o povo estava sendo enganado. Eu dou todo apoio ao povo brasileiro que foi às ruas, mas não concordo com o vandalismo", completou Jelley.
De acordo com a sul-africana, natural da cidade de Pretoria, a passagem de ônibus no país que sediou a Copa do Mundo de 2010 também é cara --ela, porém, não soube especificar o valor. Algumas obras de mobilidade urbana, tais como um trem que faz a conexão das cidades com os aeroportos, chegaram a sair do papel. "Mas aquilo não era para o povo. Era para os turistas. O povo mesmo não foi beneficiado", declarou.
O cenário de destruição no quarteirão da Alerj também atraiu turistas brasileiros que estão de passagem pelo Rio. O pernambucano Ademir Pereira da Silva, 28, afirmou ter acompanhado o protesto de ontem pela televisão, e diz que sentiu orgulho com o espírito de cidadania dos cariocas. Ele espera que o mesmo ocorra em breve em Recife, já que a capital pernambucana também é uma das cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014.
"Os cariocas deram um exemplo de como se constrói a cidadania. A gente só tem a lamentar pelo vandalismo, mas o que aconteceu não representa nem 10% do que foi o protesto de ontem. Torço para que aconteça o mesmo em Recife. O povo precisa ir para a rua", afirmou.
Índio faz ritual em frente à Alerj
Um índio da tribo Ashaninka, identificado apenas como Ash, chamou a atenção dos populares que se aglomeram em frente às escadarias da Alerj ao realizar um ritual que, segundo ele, representa a "defesa da Pachamama" --termo indígena que significa "mãe natureza".
Ash é um dos índios que ocupavam a Aldeia Maracanã, no antigo prédio do Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, na zona norte da cidade.
RITUAL NA ALERJ
Na frente da Assembleia Legislativa, Ash fez uma celebração para pedir proteção à Pachamama
"Apanhei muito da Tropa de Choque e fui preso em duas manifestações da Aldeia Maracanã. O Cabral conseguiu nos tirar de lá. Mas estou aqui de novo para denunciar a violência sofrida pelo povo indígena", afirmou.
Segundo Ash, o ritual se chama "profecia de Wiracocha", e é comumente feito pelos membros da tribo Ashaninka. Os sete policiais da Tropa de Choque da PM que reforçam a segurança no local acompanhavam a celebração sem esboçar qualquer tipo de reação.
Além de Ash, há pelo menos dez manifestantes que continuam nas escadarias da Alerj. Eles exibem cartazes com mensagens contra o vandalismo e repudiando o aumento da tarifa de ônibus.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.