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PM desocupa a Câmara do Rio; uma pessoa é detida e quatro ficam feridas

Policial revista mochila de manifestante durante protesto que acontece nesta quarta-feira (31), no centro do Rio de Janeiro - Gustavo Maia/UOL
Policial revista mochila de manifestante durante protesto que acontece nesta quarta-feira (31), no centro do Rio de Janeiro Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

31/07/2013 17h00Atualizada em 31/07/2013 23h00

Com o uso de cacetetes, spray de pimenta, armas de choque e até um extintor de incêndio, a PM (Polícia Militar) desocupou nesta quarta-feira (31) a Câmara do Rio, que havia sido invadida nesta noite. Uma pessoa foi detida. Quatro pessoas ficaram feridas --três manifestantes e um policial.

Durante a ocupação havia a preocupação entre os manifestantes, em sua maioria mascarados, de que nada fosse quebrado. Eles  ocuparam o primeiro e o segundo andar da edificação e uma das galerias. Após a confusão, manifestantes atearam fogo a sacos de lixo em ruas próximas à Câmara.

O vereador Marcelo Piuí (PHS), que estava dentro da Câmara, afirmou ao UOL que a sala da Presidência foi depredada. A PM alegou que a desocupação ocorreu a pedido do vereador, que estaria representando a Casa.

Um segurança da Câmara apelava, durante o ato, para que aos manifestantes que saíssem do prédio. "Só tem funcionário aqui. Não tem nenhum vereador", gritava.

O recesso dos vereadores, iniciado no fim de junho, se encerrou nesta quarta-feira. A previsão era que eles voltassem ao trabalho nesta quinta (1º).

Ao entrar na Câmara, os manifestantes  cantavam "ô abre alas que eu quero passar" e "daqui não saio, daqui ninguém me tira". A PM fez um bloqueio na entrada do prédio para impedir a entrada de mais manifestantes. Há centenas de outros ativistas do lado de fora.

Segundo o tenente coronel Mauro Andrade, os policiais continuarão no local com os manifestantes até que o administrador do prédio reclamasse a posse do local. Ele informou aos manifestantes que representantes da OAB estão no local para "garantir a integridade" deles.

O protesto, que reúne pelo menos 2.000 pessoas, começou por volta das 16h30. O objetivo era pressionar o MPE (Ministério Público Estadual) para que o órgão peça a revogação do decreto 44.302/2013, que criou a Ceiv (Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas). Eles pedem ainda a saída do governador Sérgio Cabral (PMDB).

O ato, convocado pelo grupo Black Bloc, no Facebook.

O sumiço do pedreiro Amarildo, morador da Rocinha desaparecido desde o último dia 14, também é lembrado.

Cem PMs do Grupamento de Policiamento de Proximidade de Multidões, que começou a atuar em manifestações públicas na última semana, fazem o policiamento. Eles não impediram a ocupação do prédio do Legislativo.

 

Comandados pelo tenente-coronel Mauro Andrade, os militares avisaram em megafones que, "por motivos de segurança", iriam revistar bolsas e mochilas dos manifestantes e começaram a fazer as revistas. O grupo respondeu: "revista o P2".

 

P2 é o nome dado a policiais militares que trabalham sem farda, no setor de inteligência. Os manifestantes dizem que há policiais como esses infiltrados nos protestos.

 

Além desses policiais, há outras dezenas de PMs reforçando a segurança da região.

 

Os ativistas saíram da Cinelândia, em caminhada, por volta das 18h, com integrantes do Black Bloc na linha de frente.

O ato passou primeiro pela sede do MPE. Lá, por volta das 19h30, o procurador-geral do MPE, Marfan Vieira, falou aos manifestantes em um megafone. Cada frase dita por ele era repetida pela multidão. Marfan afirmou que quase todas as reivindicações contidas na carta entregue pelo grupo já são objeto de investigação do Ministério Público.

Ele afirmou ainda que as apurações serão apresentadas, ponto a ponto, no site da instituição.  "Vamos mudar radicalmente nossa comunicação social", declarou. Quando os manifestantes cobraram rapidez na resolução dos processos, o procurador-geral explicou que isso também depende da Justiça.

Depois de deixarem a sede do MPE, os manifestantes chegaram em frente à Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). No local, no dia 17 de junho, houve um confronto entre polícia e manifestantes. Em seguida, o grupo invadiu a Câmara.

Fórum de Lutas

Integrantes do Fórum de Lutas que se reuniram na noite desta terça (30), no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) entregaram uma carta ao MPE que lista nove reivindicações ao órgão. O texto cobra a ação da Promotoria lembrando que, no início dos protestos, os manifestantes foram às ruas contra a PEC 37.

Entre os pedidos, há a solicitação de abertura de investigação dos desvios de conduta e abusos praticados pela PM, das contas do governo do Estado e da Prefeitura do Rio e dos gastos públicos com a Copa do Mundo de 2014 e com as Olimpíadas de 2016.

Segundo um dos integrantes do fórum, o biólogo marinho Pedro Mattos, 25, o documento começou a ser escrito coletivamente pela internet e foi finalizado com o auxílio de advogados e professores. As pautas foram escolhidas por votação.