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Vinte anos após massacre no Rio, violência é a mesma, diz Anistia Internacional

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

29/08/2013 06h00

O Rio de Janeiro de 2013 pode ser diferente da cidade que se assombrou com o massacre orquestrado por um grupo de extermínio formado por policiais militares que deixou 21 mortos na favela de Vigário Geral no dia 29 de agosto de 1993.

Para Anistia Internacional, no entanto, os últimos 20 anos não foram suficientes para mudar a cultura de violência presente na relação entre a polícia e as comunidades mais pobres.

Assessor de direitos humanos da Anistia, Maurício Santoro lembra as dez pessoas mortas no Complexo da Maré por agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) há dois meses, depois que um sargento da corporação foi morto por traficantes da favela. 

"Temos a persistência de um padrão de impunidade. Não só em Vigário como em outros lugares, como a Maré", afirma. Segundo a Anistia, 52 policiais militares foram acusados de envolvimento na chacina de Vigário Geral, mas apenas sete foram condenados.

Além disso, cinco acusados morreram antes do julgamento e dois policiais permanecem foragidos até hoje. "Mesmo no caso em que há uma punição, como o Carandiru, que está sendo julgado, o tempo desestimula as pessoas, muitos dos policiais envolvidos em crimes voltam a trabalhar. Isso quando os crimes são investigados", afirmou. 

Santoro diz acreditar que os protestos que tomaram as ruas do país recentemente ajudaram em parte a mudar a percepção da violência policial pelo "asfalto" depois que ativistas de classe média também sofreram com essa truculência. "Mas em um grau menor do que nas favelas, onde esses protestos sempre existiram", diz.

Para a Anistia, a diferença com a presença das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que não existiam a época da chacina em Vigário Geral, é que o convívio com a polícia passa a ser muito frequente, "para o bem e para o mal". 

"Já tinham ocorrido casos de agressão policial antes em UPPs. O Amarildo não é um raio em um céu azul", diz, ao citar o caso do ajudante de pedreiro desaparecido no dia 14 de julho na favela da Rocinha depois de ser levado algemado por PMs da UPP, principais suspeitos do crime. "São pequenos avanços frente a um mar de problemas não resolvidos."

ENTENDA A CHACINA DE VIGÁRIO GERAL

  • Zeca Guimarães/Folhapress

    A chacina de Vigário Geral ocorreu no dia 29 de agosto de 1993. No total, 21 moradores morreram durante a ação criminosa de policiais militares que integravam um grupo de extermínio conhecido como "Cavalos Corredores". A motivação do crime teria sido quatro homicídios contra PMs do 9º BPM (Rocha Miranda) supostamente cometidos por traficantes da comunidade. No dia da vingança, porém, só havia inocentes na favela. Dos 52 acusados em um processo complexo, marcado por polêmicas e que posteriormente foi desmembrado, apenas sete policiais foram condenados, dos quais três conseguiram a absolvição em um segundo julgamento e um acabou sendo morto após fugir da prisão. Dos três que continuaram detidos, apenas um continua na prisão: o PM Sirlei Alves Teixeira, apontado como o mais violento do grupo de extermínio. Ele chegou a fugir do sistema prisional, em 2007, mas posteriormente foi preso em flagrante após participar de um assalto a uma agência da Caixa Econômica Federal, pelo qual foi condenado a oito anos de prisão pela Justiça Federal.