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Jovem baleado em protesto no Rio não ouviu nem sentiu o tiro, diz delegado

O jovem Rodrigo Azoubel ainda deve ser submetido a uma segunda operação - Reprodução/Facebook
O jovem Rodrigo Azoubel ainda deve ser submetido a uma segunda operação Imagem: Reprodução/Facebook

Giuliander Carpes

Do UOL, no Rio

16/10/2013 14h22Atualizada em 16/10/2013 15h42

O jovem Rodrigo Azoubel, 18, baleado durante a manifestação em apoio aos professores na noite de terça-feira (15) no centro do Rio de Janeiro, nem sequer ouviu ou sentiu o tiro que o atingiu, segundo contou o delegado da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone. Ele colheu, na tarde desta quarta (16), o primeiro depoimento do jovem após o incidente. 

“Conversamos com ele e a família. Ele não sabe dizer de onde veio o disparo. Ele nem sequer ouviu o tiro”, afirmou Zaccone. “Apenas sentiu os braços dormentes.” O caso está sendo transferido pela chefia da Polícia Civil para a 5ª DP (Mem de Sá), que ficará responsável por investigar a responsabilidade pelo disparo. 

Para o presidente da comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcelo Chalreo, é provável que o tiro tenha saído da arma de um policial. “Desde junho estamos acompanhando as manifestações e nunca verificamos nenhum manifestante armado. Então é lamentável que, a princípio, o tiro tenha partido da polícia. Estamos pasmos com este tipo de combate”, disse o advogado.

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Segundo Chalreo, a família afirmou que agentes da Corregedoria da Polícia Militar estiveram duas vezes, durante a madrugada, na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul do Rio, onde Azoubel está internado. Os familiares do jovem contaram que os policiais queriam recolher o projétil que atingiu o manifestante. Só não lograram êxito porque o tiro atravessou os braços e se perdeu.  

“Se isso é fato, trata-se de uma conduta absolutamente reprovável. Não é o papel da Corregedoria da PM interferir na investigação. Investigar é o papel da Polícia Civil”, explicou o advogado, que considera a situação mais um indício de envolvimento de policiais no disparo. “Isso traz mais suspeita sobre a conduta da PM.”

Azoubel passará por um exame de corpo de delito por peritos do Instituto Médico Legal. O jovem teve fraturas abertas, passou por uma cirurgia durante a madrugada e precisará ficar pelo menos uma semana internado. Neste período, deve ser submetido a outra operação.  

Veja onde são as delegacias para onde foram levados os manifestantes

  • Arte/UOL

O representante da OAB afirma que as primeiras análises indicam que o tiro sofrido por Azoubel foi disparado de pequena distância. “Segundo as primeiras fotos do ferimento, havia pólvora nos braços”, afirmou Chalreo. 

No perfil do Facebook do jovem podiam ser encontradas várias fotos de Rodrigo com máscaras em manifestações, que foram retiradas do ar. “Se ele participa de movimento, não vem ao caso. Estamos numa democracia. Se a pessoa comete algum excesso, tem que responder conforme a lei”, afirmou o advogado. “Não se pode tratar manifestação à bala.”

O secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, afirmou que ligou para a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, e pediu prioridade na identificação dos autores dos disparos durante a manifestação dos professores. "Além de fazer disparo para o alto ser crime, temos que apurar se esta ação tem alguma relação com o jovem que foi atingido", disse Zaqueu, em nota.

Rodrigo é filho de Roberto Azoubel, assessor técnico do Ministério da Cultura em Recife, e Flavia Lacerda, diretora da TV Globo. Eles não quiseram dar entrevista.