Roubos em Santa Teresa sobem 93%, e morador diz: "Conheço todos os ladrões"
Em 2013, os roubos a transeuntes nas ruas e ladeiras de Santa Teresa, famoso bairro do centro histórico do Rio de Janeiro, cresceram 93,2% em relação ao ano anterior, na comparação entre os meses de junho, julho, agosto e setembro.
No ano passado, o acumulado do quadrimestre foi de 114 ocorrências na delegacia da região (7ª DP), 55 casos a mais do que o acumulado do mesmo período em 2012. Também cresceram os índices de roubos em geral (77,5%), furtos (28%) e roubo a celular (duas ocorrências a mais).
Apenas em julho de 2013, ocorreram 41 casos de roubo a transeunte no bairro, 32 a mais em comparação com o ano anterior. Entre junho e setembro de 2012, a média mensal desse tipo de crime era de 14,7. Em 2013, a mesma média subiu para 28,5.
Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informou que, a partir deste mês, serão inauguradas dez companhias destacadas da Polícia Militar a fim de reforçar o patrulhamento urbano. A PM está à espera da formatura de 600 recrutas.
Além disso, informou a Seseg, "a Polícia Civil formou este mês 1.114 inspetores e 135 delegados, que serão deslocados para as Delegacias de Homicídios da Baixada e Niterói e no recompletamento das delegacias distritais. Com essa medidas, a secretaria espera obter redução nos índices".
CALVÁRIO DO TURISTA
3.jan.2014 Cerca de cem pessoas ficaram presas durante duas horas em um dos trens do Corcovado, na última sexta-feira (3). A composição apresentou um problema técnico
3.jan.2014 Os turistas que visitam o Rio sofrem com a onda de forte calor na cidade. Na última sexta (3), a sensação térmica chegou a 50ºC,. As praias ficaram lotadas
1.jan.2014 - Um tiroteio assustou os turistas que passavam pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, a poucos minutos da queima de fogos do Réveillon em Copacabana
30.dez.2013 - Turistas enfrentam filas para pegar a van no Cosme Velho até o Corcovado, no Rio de Janeiro. O tempo de espera para as vans que levam até o ponto turístico era, em média, de duas horas
26.dez.2013 - Os espanhóis Cristian (camiseta vermelha) e Alejandro (verde) são resgatados após se perderem numa trilha da Floresta da Tijuca
1.abr.2013 - Uma turista norte-americana foi estuprada dentro de uma van por três homens na frente do namorado da vítima. O caso ganhou repercussão internacional
Nelson Lopes, 62, que mora em Santa Teresa há 26 anos, afirmou que todos os que vivem no bairro têm consciência de quais são os locais mais perigosos, em especial à noite. Lopes diz, inclusive, "conhecer todos os ladrões", e cita a existência de um protocolo típico das comunidades dominadas por tráfico de drogas: moradores não podem ser roubados.
"A situação está ruim em toda a cidade, mas Santa Teresa sofre com um velho estigma. O policiamento só existe na teoria. Toda hora muda alguma coisa, mandam policiais novos, que não conhecem o bairro, mas qualquer morador aqui sabe onde estão as áreas mais perigosas", disse. "Eu mesmo conheço todos os ladrões."
"Eles seguem a regra de que só turista pode ser assaltado. Não assaltam moradores. Quem assalta o morador é o bandido de fora, que vem de outro lugar para roubar aqui", completou.
Os moradores do bairro relatam que os locais mais frequentados por turistas, como Largo dos Guimarães, Largo das Neves e Largo do Curvelo, concentram a maior parte dos delitos de rua, assim como as ladeiras que ligam Santa Teresa à Lapa.
Além disso, há grande incidência de furtos nas proximidades do Morro dos Prazeres e da favela do Escondidinho, segundo o morador Jorge Siqueira da Silva, 65.
À noite, afirmou Silva, alguns locais se tornam inviáveis em razão da periculosidade. Nascido e criado em Santa Teresa, o morador afirmou que o cenário de 15 anos atrás era bem diferente: "A gente deixava a porta aberta aqui e sabia que nada iria acontecer. Era um clima tranquilo. Hoje em dia tem que dormir com um olho no peixe e outro no gato".
"Já cheguei em casa durante a madrugada e tive que esperar lá em baixo para poder subir ao amanhecer. Não se anda tranquilo em Santa Teresa durante a madrugada. A chance de se dar mal é grande", afirmou.
O casal argentino Maria Pardo e Franco Romanelli visitou o Rio pela primeira vez no mês de dezembro de 2013. Durante o passeio pelas ruas históricas do bairro, a turista relatou ter visto poucos PMs patrulhando o bairro.
Segundo ela, as características de Santa Teresa lembram a capital argentina: "Dá para se sentir em Buenos Aires com tanta beleza, a arquitetura, a fachada das casas. Mas lá também tomamos cuidado com certos locais".
Para o cientista político e diretor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio), Geraldo Tadeu Monteiro, Santa Teresa tem uma característica diferente dos outros bairros.
"Os criminosos sobem para roubar em vez de descer. Na grande maioria dos bairros do Rio, a área pobre está colada com a área rica. Santa Teresa não é diferente, pois está em um morro rodeado por comunidades como Morro dos Prazeres, Fallet e Fogueteiro. Isso cria uma zona de passagem muito fluida", disse.
Monteiro também argumenta que a grande concentração de turistas estrangeiros circulando pelo bairro faz com que os criminosos identifiquem uma oportunidade de obter mais dinheiro. "Sempre que houver turistas estrangeiros e concentração de riqueza, há uma oportunidade para o roubo, o furto e outros crimes", declarou.
Já o antropólogo Roberto Kant de Lima, da UFF (Universidade Federal Fluminense), afirmou ser mais complexa a análise dos números coletados pelo ISP, e que as variações não necessariamente significam que as áreas turísticas estão ou não mais violentas."Roubo a turista? Um monte de gente que eu conheço que foi roubada na Espanha, na França, em Nova York, em Paris. É o que mais tem", disse.
Na visão do presidente do SindRio (Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio), Pedro de Lamare, o aumento dos indicadores de criminalidade também está vinculado à política das UPPs, uma vez que o tráfico de drogas seria "asfixiado", segundo ele, fazendo com que criminosos buscassem outras formas de obter dinheiro.
"A sensação de segurança, vivida intensamente nos primeiros anos de implantação das UPPs, foi reduzida em 2013, como mostram as estatísticas. Nas áreas turísticas, essa sensação é ainda mais palpável, com furto de celulares e assaltos a pedestres e, também, a bares, restaurantes e albergues. Este aumento é consequência direta da ação policial nas comunidades. Com o tráfico asfixiado, a fonte de renda de algumas pessoas envolvidas com esta engrenagem precisou ser deslocada para outras áreas", disse.
Lamare afirma acreditar, porém, que o crescimento da criminalidade em bairros turísticos não vai "impactar na maneira como Rio vem sendo visto dentro do país e no exterior".
"Qualquer grande metrópole no mundo sofre com turistas tendo celulares e carteiras levados, além da prática de outros pequenos golpes. Com o Rio, que vem recebendo cada vez mais visitantes, não seria diferente, mas é preciso aumentar o policiamento nas áreas em épocas críticas, como Carnaval e Réveillon. É nos momentos de aglomeração que há mais casos e eles são mais simples de serem evitados", declarou.
Gávea e Tijuca
No mesmo período, as delegacias responsáveis pelas regiões da Gávea (15ª DP), da Tijuca e do Alto da Boa Vista (19ª DP) registraram aumento de 135% no indicador de roubo a celular. Também houve crescimento percentual do número de roubos (21,77%)
Somadas, as distritais tiveram apenas 37 ocorrências entre junho e setembro de 2012. Já no quadrimestre de 2013, foram 87 casos. O perímetro atendido pelas duas delegacias inclui o Parque Nacional da Tijuca --onde estão a Pedra da Gávea, o Corcovado e a Floresta da Tijuca.
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