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Cabral anuncia que Exército ocupará o Complexo da Maré

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

24/03/2014 13h07Atualizada em 24/03/2014 16h39

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), anunciou no início da tarde desta segunda-feira (24), que homens do Exército atuarão no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. O governador fez o anúncio após uma reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o secretário José Mariano Beltrame, da Segurança, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi.

Segundo Cabral, o auxílio federal para combater os ataques de criminosos a UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) será uma aplicação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que costuma ser aplicada quando há situações que geram risco à segurança pública. “A decisão está tomada”, afirmou o governador, explicando que a Maré é uma região estratégica para o Rio.

Cabral ressaltou que o conjunto de favelas da Maré é uma área estratégica da cidade, com impacto no "direito de ir e vir da população" e afirmou que as comunidades estão próximas às linhas Amarela e Vermelha, vias que integram diferentes regiões da capital fluminense, além da avenida Brasil e do BRT Transcarioca. A Maré também está situada no caminho para o aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador.

Com a tomada do território da Maré, a Secretaria Estadual de Segurança Pública cumprirá o cronograma de UPPs (Unidades Polícia Pacificadora), disse o governador, ressaltando a relação entre a decisão sobre invadir a comunidade e os recentes ataques às UPPs, que provocaram mortes de policiais militares.

Segundo ele, a previsão era ocupar a área no segundo semestre de 2014. "A diferença em relação à ocupação do Complexo do Alemão é que ela não estava no nosso cronograma. As ações de novembro --ataques de criminosos em série-- anteciparam essa ocupação. Já o Complexo da Maré está dentro da previsão para o segundo semestre", disse.

A população das favelas da Maré passa dos 140 mil habitantes, e o Bope (Batalhão de Operações Especiais) já está presente, desde a semana passada, quando houve ataques de bandidos às UPPs. A região foi escolhida pela posição estratégica, uma vez que a favela fica na área das vias de entrada e saída da capital, cortando, a avenida Brasil, além das Linhas Amarela e Vermelha, pontos cruciais de escoamento durante a Copa do Mundo.

Bope

O Bope, com o apoio de outras unidades da Polícia Militar do Rio, fará uma "limpeza de terreno" --termo que designa as incursões feitas antes de ocupações de favelas-- no Complexo da Maré para que a região seja entregue posteriormente aos cuidados do Exército, segundo o secretário de Segurança.

De acordo com o secretário, a missão de "entrar" na Maré será das forças policiais do Estado, cabendo às forças do Ministério da Justiça a ocupação permanente do território --o prazo ainda será definido.

"Vamos entrar lá e depois passar para o Exército", resumiu o secretário. Beltrame disse ainda que a operação no conjunto de favelas é uma resposta a "retaliações covardes e absurdas do tráfico, inclusive com policiais assassinados pelas costas".

A primeira reunião entre a cúpula da segurança pública fluminense e o CML (Comando Militar do Leste) com o objetivo de definir os detalhes da passagem de comando acontecerá na tarde desta segunda-feira. Beltrame afirmou garantir que a PM tem o efetivo necessário para invadir a Maré e dar início a um trabalho de inteligência, visando a eventuais prisões e apreensões de armas e drogas.

Sem prazo

O ministro da Justiça afirmou que não há prazo para a permanência das tropas federais no Complexo da Maré. "Vamos ficar o quanto for necessário para o cumprimento dessa primeira etapa e os prazos são ajustáveis a essa necessidade". A primeira etapa a qual ele se refere é a ocupação da Maré pelas forças federais para preparar a implantação da UPP, prevista para o segundo semestre deste ano.

O Complexo da Maré já possui um Batalhão próprio, o 22º BPM, com cerca de 600 policiais que, com a chegada das Forças Armadas, deverão se submetidas às decisões federais. Perguntado sobre a relação entre os ataques à UPP do Mandela, no Complexo de Manguinhos, na zona norte, e a ocupação do Complexo da Maré, o governador do Rio, Sérgio Cabral, foi evasivo. "Direta e indiretamente (a ocupação da Maré) tem a ver com as ações em Manguinhos".