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Moradores relatam problemas antigos em moinho de Maceió; polícia investiga

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

08/04/2014 11h04Atualizada em 08/04/2014 13h58

A Polícia Civil de Alagoas abriu inquérito nesta terça-feira (8) para investigar o desabamento de uma torre com 1.600 toneladas de trigo, na tarde desta segunda-feira (8), em uma avenida movimentada de Maceió. O acidente deixou cinco feridos, sendo um deles em estado gravíssimo, e vários carros destruídos.

O caso será investigado pelo 2º Distrito Policial. A polícia aguarda o laudo técnico sobre o que teria causado acidente para investigar os responsáveis.

O Ministério Público do Trabalho em Alagoas também informou abriu inquérito civil para investigar o caso. Segundo o órgão, a empresa não era alvo de nenhuma denúncia ou investigação no Estado. 

A torre tinha capacidade de armazenamento de 1.600 toneladas de trigo e, segundo as primeiras informações, estava completamente lotada com o cereal congelado.

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Problemas estruturais antigos

Segundo moradores e empresários da região, havia problemas estruturais claros no prédio do moinho.

"Tem muito tempo que eles fazem paliativos nas rachadura, eles botam pedreiros. Isso era esperado, uma catástrofe anunciada”, disse o radialista e morador das proximidades, Antônio Torres.

Um outro proprietário de oficina da região afirmou que, em dezembro de 2013, uma placa do silo caiu e por pouco não provocou uma acidente grave. "A sorte é que desabou na madrugada e ninguém ficou ferido. Eles retiraram logo cedo, e não teve muita atenção. Mas o problema ali é antigo. Os donos da empresa nunca falaram nada, e ficamos agora com esse prejuízo grande”, disse.

Questionado pelo UOL, o coordenador da Defesa Civil Municipal, Dinário Lemos, afirmou que o órgão não foi procurado por nenhum integrante da empresa ou morador da região. “Nunca recebemos nada. Tem muita gente especulando, muito boato de povo de rua”, disse.

Ele também disse que não há previsão para liberação da avenida Comendador Leão, onde fica o moinho Motrisa, nem para regresso dos moradores que foram desalojados.

O coordenador da Defesa Civil Estadual, Edvaldo Nunes, também negou existência de problemas conhecidos na estrutura do prédio da empresa. “Nenhuma denúncia ou estudo nos foi entregue relatando isso”, afirmou.

Empresa fala em "casualidade

O diretor executivo do moinho Motrisa negou nesta terça (8) a existência de rachaduras e disse que a empresa realizava manutenções na torre. Em entrevista coletiva na porta da fábrica, Paulo Godoy afirmou que a última manutenção no local ocorreu há seis meses e que o acidente foi uma "casualidade".

“Não temos conhecimento de fissuras. Se tivesse rachaduras há anos, como disseram, teria desabado há anos. É lógico que existe manutenção regular. Há seis meses fizemos. No último dia 12 de março nossa empresa fez 50 anos em Alagoas, nunca criamos problema para ninguém. Foi uma casualidade”, disse.

Segundo o diretor, o desabamento não foi causado por explosão ou por bolsões de ar gerados pelo trigo ter sido estocado congelado, como chegou a informar o Corpo de Bombeiros.

“Não houve explosão. Não temos como passar a todos população o que aconteceu. Estamos averiguando. Vamos nos reunir com os engenheiros, fazer uma força-tarefa. Sobre o trigo estar congelado ter causado isso, não sei da onde a ideia foi tirada. Pelo nosso calor tropical ele teve tempo de ter descongelado”, afirmou.

A empresa ainda assegurou que está dando assistência a oito pessoas que moravam em três casas que foram atingidas pelo desabamento. “Por certo a empresa irá arcar e acompanhar todos os casos em que houve prejuízo a moradores. Por ora não tem estimativa do nosso prejuízo” afirmou. 

Entenda

Um silo de 20 metros de altura, lotado de trigo do moinho Motrisa, desabou por volta das 15h30 desta segunda-feira (7) na avenida Comendador Leão, no bairro do Poço, em Maceió, uma das principais avenidas da parte baixa da capital alagoana.

Segundo o coronel do Corpo de Bombeiros, André Madeiro, a avenida foi tomada por uma montanha de ao menos cinco metros de altura de trigo, que se espalhou por cerca de 500 metros da fábrica.

No desabamento, carros foram arrastados pelo trigo. Cem homens dos Bombeiros, médicos e voluntários participaram da operação com a ajuda de Quatro retroescavadeiras.

Segundo o major Carlos Buritiy, do Corpo dos Bombeiros, o trigo, vindo do Canadá, estava congelado, o que pode ter favorecido o desabamento. Ele explicou que os grãos teriam formado grandes blocos de gelo e criado bolsões de ar. Os espaços formados nesses bolsões permitiriam que os blocos se movimentassem com o aumento da temperatura, o que pode ter forçado a parede do silo.

A energia elétrica da área foi restabelecida por volta de meia-noite. Com isso, foi possível retirar todo o trigo armazenado em dois outros silos do moinho. “Com isso, diminuímos os riscos de desabamento, embora ele ainda exista, e agora vamos retomar a operação com mais calma”, afirmou o major.

O Corpo de Bombeiros de Alagoas retomou na manhã desta terça-feira (8) o trabalho de remoção do trigo, que havia sido suspenso às 23h30 de segunda (7). A chance de haver soterrados é remota, já que nenhum familiar procurou a corporação para informar sobre desaparecimentos.

Até o momento, cinco feridos foram levados para o hospital, onde um jovem permanece internado em estado gravíssimo, e três dos cerca de dez carros soterrados foram retirados do local. Jonas Natanael dos Santos Feitosa, 17, passou por cirurgia e está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele é filho de um pedreiro que estava em uma loja vizinha ao moinho. As outras quatro pessoas tiveram ferimentos leves e foram liberadas.

Na região do acidente, cerca de 60 casas ou estabelecimentos comerciais foram desocupadas por precaução, já que o risco de novos desabamentos não foi descartado. Entre os locais desocupados, estão 26 casas de uma vila que fica ao lado do moinho. Os desalojados estão sendo atendidos pela Defesa Civil municipal.

Testemunhas

Isabel Silva Oliveira, recepcionista de um escritório de arquitetura ao lado do moinho que desabou, disse que ouviu um estrondo antes de o silo desabar."Tremeu tudo. Saímos correndo e só vimos fumaça. Foi tudo muito rápido. Parecia um incêndio", afirmou.

Já Adelmo Pereira, corretor de imóveis, afirmou que estava de costas quando um amigo o alertou do acidentes. "Parecia o 11 de setembro. Quando olhei para trás, só vi poeira e pessoas correndo."

Outra testemunha, que pediu para não ser identificada, passou mal após o acidente. "Durou em torno de 10 segundos. Só deu tempo para alertar as minhas amigas", disse ela, que trabalhava em um posto de combustíveis que fica em frente ao moinho.

Imagens mostram moinho após acidente