'Meu filho morreu como herói', diz pai de vítima de enchente no Paraná
Pedro Borodiak, um pedreiro aposentado de 66 anos, sempre viu no filho Leandro, 28, a vocação para ajudar os outros. Militar do Exército durante sete anos e segurança patrimonial, Leandro resolveu ficar para trás para auxiliar os vizinhos a fugirem da enxurrada na madrugada do último sábado (7), em Guarapuava, região centro-sul do Paraná.
Acabou se tornando um dos dez mortos após as enchentes que atingiram Paraná e Santa Catarina. Ele se afogou e teve o corpo resgatado apenas no final da manhã seguinte por um amigo que possuía um bote.
“Ele sempre esteve por perto para ajudar todo mundo, até no último momento. É um herói”, diz o pai, abrigado em uma igreja com a mulher e o outro filho, de 13 anos, de onde conversou com a reportagem do UOL por telefone. A mulher de Leandro e o filho deles de quatro anos dividem o mesmo alojamento. “Aqui na cidade todo mundo está homenageando ele.”
Por volta das 2h de sábado, os moradores de Vila São Vicente foram acordados pela água que invadia casas com espantosa velocidade. O bairro não tinha no histórico nenhuma enchente. As famílias decidiram imediatamente se abrigar na igreja, o ponto mais alto da região.
Leandro morava a uma quadra da casa dos pais. Após ajudar na evacuação da família, começou a orientar os idosos e ajudar vizinhos a retirar os pertences. Por volta das 4h, se afogou em frente da casa, inundada com mais de 1,5 metro de água.
As casas do pai e do filho, construções simples de madeira, foram cobertas de lama e devem ser demolidas. “Perdemos praticamente tudo. Só não fiquei sem os documentos porque estavam dentro do carro”, diz Pedro. “Mas a única coisa que não a gente não podia perder era o filho.”
O sepultamento de Leandro ocorreu no domingo (8). Nesta terça (10) pela manhã, Pedro teve um princípio de infarto e foi atendido pelos enfermeiros de plantão no abrigo.
Estado de emergência
Guarapuava, com 175 mil habitantes, foi uma das cidades que mais sofreram com as enchentes. Além de Leandro, houve outra morte no município. Um homem foi arrastado pela correnteza e se afogou. O bombeiro que tentou realizar o resgate foi enforcado pelos cabos de segurança e teve de ser “ressuscitado” pelos colegas.
Ao meio-dia desta terça, 500 pessoas permaneciam desalojadas (em casa de parentes ou outra acomodação) e 234 estavam desabrigadas (em abrigos públicos). Vários pontos de acesso à cidade pela BR-277 estão com bloqueio total ou parcial.
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