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Antiga fonte de água potável, rio Carioca é agora canal de esgoto de 7 km

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

07/12/2014 16h34

Quem passa pela rua das Laranjeiras, uma das principais vias da zona sul do Rio de Janeiro, nem imagina que por baixo dela corre o rio Carioca. Responsável pelo gentílico que batiza os moradores da cidade, o rio foi, até o fim do século 19, a principal fonte de água potável do município. Hoje, no entanto, suas águas, soterradas pela urbanização, correm como um valão de esgoto até desembocar no mar, na praia do Flamengo.

Ao todo, o Carioca, que nasce aos pés do Cristo, no morro do Corcovado, e corta as favelas Cerro-Corá, Vila Cândido e Guararapes e os bairros do Cosme Velho, Laranjeiras e Flamengo, tem 7,1 quilômetros de extensão. Apenas a cabeceira, dentro da Floresta da Tijuca, permanece preservada.

“Se você joga esgoto, você reduz o rio a uma única função: transportar esgoto”, afirma o engenheiro e professor da Fiocruz, Alexandre Pessoa, que fez um estudo sobre o manancial, quase inteiramente poluído pelo esgoto e lixo lançados pelas edificações localizadas no seu entorno.

Na manhã deste domingo (7), Pessoa e outros participantes do movimento “Carioca, o rio do Rio”, que luta pela preservação do manacial, realizaram uma caminhada pelas ruas por onde o rio passa de forma subterrânea a fim de chamar atenção para a necessidade de sua recuperação.

Segundo o engenheiro, o rio perdeu sua função ao passar a ser tratado como um esgoto pela população –no passado, as águas do Carioca abasteciam boa parte da cidade e deram origem ao antigo aqueduto da Carioca, composto, entre outras obras, pelos Arcos da Lapa.

Durante a conferência ECO 92, lembra o professor, foram fechados 150 pontos de esgoto que desembocavam no rio, atividade proibida.

O Carioca ainda é visível em alguns pontos de seu trajeto, como o Largo do Boticário, pequena praça cercada de casarões antigos próxima a entrada do túnel Rebouças e do trem que leva ao Cristo Redentor.

Ali, apesar do mau cheiro causado pelo esgoto despejado diariamente em suas águas, o Carioca mantém feições de rio e atrai animais, como garças.  Mais à frente é possível ver o ponto em que o rio é canalizado, reaparecendo apenas na estação de tratamento, na praia do Flamengo.

“Tudo isso é rio, a gente sempre vê como esgoto”, diz, impressionada, a aposentada Graça Carap, 65, ao reconhecer o rio nas águas que correm por uma vala de cimento logo após o largo.

O movimento propõe, além da despoluição das águas do Carioca, a retomada de alguns trechos do rio, que poderiam ser desencanados e trazidos a superfície.

“Talvez seja impossível renaturalizá-lo inteiro, mas por que não trazer testemunhos do rio ao longo do trajeto?”, questiona Silvana Gontijo, presidente da Ong Planetapontocom, que organizou a caminhada, e moradora do Bairro Cosme Velho.

Pessoa lembra ainda entre os problemas de abastecimento das grandes cidades, como Rio e São Paulo, esta em não buscar as causas da poluição dos rios, atentando para o problema apenas na foz dos manaciais.

“A gente continua no paradigma romano. Você bebe, bebe, bebe e depois vai procurar uma fonte mais distante”, afirma.