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Após um ano, suspeitos mudam versões sobre autoria da morte de Bernardo

Criança presta homenagem a Bernardo na época do crime - Rudinéia El Hajjar/Futura Press/Estadão Conteúdo
Criança presta homenagem a Bernardo na época do crime Imagem: Rudinéia El Hajjar/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Porto Alegre

04/04/2015 06h00

Um dos crimes mais rumorosos ocorridos no Rio Grande do Sul completa um ano neste sábado (4). No dia 4 de abril de 2014, Bernardo Boldrini, na época com 11 anos, foi morto por uma forte dose de sedativo e enterrado. Poucas semanas após se iniciarem os depoimentos dos réus no processo criminal que apura as responsabilidades, ainda existe a dúvida sobre quem fez o quê e como. Mas não para o MP e para a polícia, que possuem certeza do envolvimento e dos papéis dos quatro.

Os acusados do assassinato, cujo processo está na fase de testemunhos, são o pai do garoto, o médico Leandro Boldrini; a madrasta, Graciele Ugulini; e a amiga do casal, Edelvânia Wirganovicz. O irmão dela, Evandro Wirganovicz, é tido como um auxiliar no acorbetamento do crime.

Enquanto o tempo passa, os réus mudam suas versões. Para as autoridades, Leandro é autor intelectual do crime. Ele nega qualquer responsabilidade e diz ter sido surpreendido pelo crime.

Graciele afirma que a morte se deu sem intenção, devido a uma superdosagem de sedativo dado ao menino.

Já Edelvânia recentemente apareceu em um vídeo feito na prisão em que ela diz que seu primeiro depoimento à polícia, quando deu detalhes do crime, foi feito sobre coação. Agora, a assistente social tenta sustentar que a morte de Bernardo ocorreu depois de ele ser medicado, o que vai ao encontro do que diz Graciele, e inocenta o irmão. 

Bernardo - Reprodução - Reprodução
Cartaz usado na época do desaparecimento de Bernardo
Imagem: Reprodução

O que é certo

O que se tem amplamente comprovado é a péssima relação que Leandro e Graciele tinham com Bernardo. Depois de se tornar órfão, pelo suposto suicídio da mãe, Odilaine Uglione, o menino passou a viver com o pai na companhia da madrasta.

Neste momento, brigas e um flagrante descaso para com a criança foram contabilizados por testemunhos de conhecidos e vizinhos, por vídeos feitos pelo casal e pelo próprio MP e Conselho Tutelar de Três Passos, que foram acionados para intervir na família.

Já foram ouvidas cerca de 60 testemunhas de defesa e acusação no processo criminal. A expectativa inicial era que os réus começassem a ser ouvidos em fevereiro deste ano. Porém, há ainda uma testemunha de defesa arrolada por Graciele para ser inquirida nos próximos 30 dias. Passado este prazo, caberá ao Judiciário marcar as sessões com Leandro, Graciele, Edelvânia e Evandro.

Depois de ouvidos, seus respectivos advogados terão um prazo para apresentarem suas defesas. Após todo este trâmite, caberá ao juiz do caso, Marcos Luís Agostini, decidir se os quatro vão a júri popular. O magistrado já negou pedidos de habeas corpus a todos os réus e a solicitação feita por Graciele para poder recebera visita da filha dela, de dois anos, com Leandro, na prisão.

Provas suficientes

Para a promotora Silvia Jappe, as provas colhidas são suficientes para levar os réus a júri.

"As testemunhas da acusação e, inclusive, algumas da defesa, evidenciaram a situação vivida pelo menino Bernardo, no que diz respeito ao descaso por parte do pai e da madrasta, que o consideravam um estorvo. Também, foi demonstrado que, como pano de fundo dessa tragédia, havia interesse patrimonial dos envolvidos", avalia. 

Segundo Demetryus Eugenio Grapiglia, advogado de Edelvânia, o inquérito policial foi "deficiente e tendencioso".

"O depoimento na delegacia de Três Passos foi combinado. Há várias lacunas. Parece que quando nos preparamos para provar a tese defensiva dos réus, ninguém se disponibiliza a investigar.  A policia investigou só o que ela queria e isso tem reflexo numa série de coisas", lamenta o defensor.

Ele cita o fato de que câmeras de vigilância de uma farmácia não terem gravado o momento em que Graciele e Edelvânia supostamente compram o sedativo que matou Bernardo.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Leandro Boldrini. Já o advogado que representa Graciele foi procurado, pediu para retornar, mas não foi mais encontrado.

O caso 

Bernardo Boldrini desapareceu no dia 4 de abril de 2014, na cidade de Três Passos, no noroeste gaúcho. Dois dias depois, seu pai, o médico Leandro Boldrini, registrou ocorrência na polícia sobre o desaparecimento do filho.

O corpo do menino foi encontrado por policiais em 14 de abril, enterrado em um matagal na área rural do município vizinho de Frederico Westphalen. No dia 16, a polícia pediu a prisão temporária de Leandro, da madrasta, Graciele Ugulini, e da amiga do casal Edelvânia Wirganovicz, como suspeitos do crime. 

Em 13 de maio os três foram indiciados. Dois dias depois, o MP ofereceu denúncia contra os envolvidos, mais o irmão de Edelvânia, Evandro Wirganovicz, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Segundo a promotoria, Leandro foi o mentor do crime, executado por Graciele, com apoio de Edelvânia. Evandro teria cavado o buraco em que o corpo de Bernardo foi jogado. Os quatro estão presos.