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Um mês após estupro e morte de jovem, polícia de SC aguarda teste de DNA

"Ela era nossa caçula", disse o pai, Plínio Philippi - Renan Antunes/UOL
"Ela era nossa caçula", disse o pai, Plínio Philippi Imagem: Renan Antunes/UOL

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Içara (SC)

13/04/2015 10h19Atualizada em 13/04/2015 11h06

A polícia de Santa Catarina tem quatro suspeitos pelo estupro e assassinato da universitária Vivian Lais Philippi, 17, ocorrido a um quarteirão de casa, em Içara, a 190 quilômetros de Florianópolis, em 4 de março. 

Vivian foi arrastada pelo agressor para uma construção às 16h, sem que os vizinhos percebessem, após haver saído de casa para procurar emprego. Moradores contaram à polícia ter visto rondando por ali momentos depois do crime um jovem desconhecido, de altura mediana, moreno, de pele clara e cabelos encaracolados. Ele não foi mais visto. Centenas de outras denúncias anônimas foram investigadas, sem sucesso. 

As autoridades aguardam resultados de testes de DNA com material genético encontrado sob as unhas dela --o legista atestou que ela arranhou o agressor e lutou bastante até ser subjugada, asfixiada e morta.

Os suspeitos estão em liberdade, mas seus nomes não foram divulgados. Eles doaram sangue para o teste DNA de forma voluntária. O IGP (Instituto Geral de Perícias) não informou quando deve sair o resultado.

Segundo o delegado Rafael Iasco, a investigação aponta para um crime de oportunidade: "Tudo indica que foi só um homem, possivelmente drogado, que estava escondido num barraco de obras na rua por onde ela passava".

Vivian Lais era a quinta filha do casal Plínio e Anna Philippi, descendentes de alemães e italianos: "Ela era nossa caçula", disse o pai. Os Philippi deram entrevista no seu novo apartamento, no centro de Içara: "Nós não poderíamos continuar na casa onde vivíamos com ela", afirmou.

Eles se mudaram da casa, no Jardim Silvana, bairro de classe alta onde ocorreu o crime, por não conseguir suportar as lembranças: "Não dava mais pra ficar, era um lugar que ela enchia de vida, ficou só o vazio", diz o pai.

A família tem recebido apoio da comunidade. Na semana passada, quase mil pessoas participaram de um ato pedindo justiça --a cidade é importante no polo carvoeiro e industrial da região de Criciúma. O delegado Evaldo Gregório disse que "foi o crime mais brutal e sem sentido que eu lembre nos últimos 15 anos". 

Vivian nasceu em Blumenau, e o padrão de vida dos Philippi é elevado. O chefe da família é inspetor de qualidade de tratores, e Vivian tinha de todo conforto na casa. Os irmãos dela já deram aos avós quatro netos. Na hora da dor, eles se apoiaram uns nos outros. "Os filhos é que estão nos dando muita força, somos uma família unida" conta Philippi. 

Ele mostra o álbum de formatura escolar da filha aos visitantes, com dezenas de fotos de Vivian. O pai aponta a foto onde se lê uma tatuagem no braço direito dela, com os dizeres "Endless Love" (amor infinito). "Minha filha era amorosa e inocente", diz.  

A mãe passou a maior parte da entrevista deitada no quarto do casal, abraçada a uma almofada em forma de coração, feita com fotos deles com a filha: "A gente perde o rumo, o sentido", murmura.

Pela casa, várias fotos dela estão espalhadas em diferentes molduras, tamanhos e cores. A mãe foi a última pessoa a falar com ela. "Vivian tinha voltado da universidade (onde estudava farmácia), almoçou e dormiu pouco", conta Anna.  

A jovem acordou perto das 15h, fez várias cópias do seu currículo e disse à mãe que sairia para distribuí-los em farmácias, onde queria obter um emprego. "Era um sonho dela. Trabalhar e ser independente", lembra o pai. "Seu outro desejo era morar um tempo na Califórnia."

"Lá pelas 18h30 eu estava voltando para casa quando vi um bombeiro numa esquina do bairro. Parei para ver se ele precisava de ajuda. Ele perguntou se eu morava por ali”, conta o pai da garota. “Eu disse que morava na casa amarela. Ele perguntou se eu conhecia uma menina de 17 anos e me mostrou os documentos de Vivian.”

Philippi diz que ficou atordoado e só lembra que o bombeiro estava chorando. "Quero que tirem este monstro das ruas, para que não aconteça com outras famílias", diz. Ele conta que não quis ver o corpo da filha. "A irmã dela foi fazer o reconhecimento", diz. "Sabe o que é pior? Ela morreu do lado de casa. Num minuto estava viva, segura e feliz. No outro, a tragédia".