Quatro igrejas foram destruídas pelo rompimento de barragem em Mariana (MG)
Pelo menos quatro igrejas católicas da Arquidiocese de Mariana (MG) foram destruídas com a invasão da lama de rejeitos da mineradora Samarco, ocorrida no último dia 5.
Levantamento preliminar da arquidiocese apontou que a onda de lama destruiu os prédios da Igreja de São Bento, no distrito de Bento Rodrigues, da Capela de Santo Antônio, no subdistrito de Paracatu de Baixo, da Capela Nossa Senhora Aparecida, no subdistrito de Ponte do Gama, ambos no distrito de Monsenhor Horta, e da Capela de Santo Antônio, no subdistrito de Pedras, no distrito de Furquim.
Os prédios não eram tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas faziam parte do inventário municipal, onde são catalogados bens materiais de Mariana para posterior processo de acautelamento federal.
A arquidiocese destaca que uma das principais perdas do patrimônio religioso aconteceu com o arruinamento da Igreja de São Bento, fundada no século 18. A igreja fazia parte do inventário histórico municipal desde o ano de 2004. Segundo a arquidiocese, a igreja ficou totalmente coberta pelos rejeitos das barragens da Samarco, restando apenas um pedaço do telhado à mostra.
A edificação colonial da Igreja de São Bento, padroeiro de Bento Rodrigues, foi construída ao lado de um cemitério desativado. A fachada era simples, com duas janelas em madeira esculpida e pintada na cor azul, uma cruz latina em cima da cumeeira, um óculo centralizado, talhado em madeira e fechado com vidro. O piso da igreja era em ardósia na entrada e tabuado na área interna.
O altar da igreja era esculpido em madeira e abrigava uma imagem de São Bento, de 60 cm, talhada em madeira banhada a ouro, que fazia parte do acervo da igreja junto com as imagens de Nossa Senhora do Rosário e Nosso Senhor dos Passos e outras mais 30 peças antigas, algumas banhadas em prata. Uma cruz de prata identificada como pertencente ao acervo da igreja foi encontrada quilômetros depois no mar de lama que se formou no município de Mariana. A peça foi levada para Ouro Preto.
Paracatu perde capela e Festa de Reis
A Capela de Santo Antônio, mais conhecida como Igreja de Paracatu, fica em um terreno plano próximo às margens do rio do Carmo. A sua construção é de 1990, porém o retábulo do altar e o sino são do final do século 19, aproveitados do antigo prédio da capela. Durante a invasão da lama no povoado, apenas as duas torres da igreja ficaram à mostra. Os objetos em madeira, como altar e bancos, foram danificados. A arquidiocese informou que ainda não fez a lista dos danos do prédio.
A destruição em Paracatu de Baixo também ameaça a tradicional Folia de Reis do Menino Jesus, considerada patrimônio imaterial catalogado no inventário de Mariana. A festa acontecia desde 1954. O festejo começava sempre no dia 26 de dezembro e ia até o dia 6 de janeiro. Um grupo saía de porta em porta cantando e contando a história da visita dos Reis Magos. A Folia de Reis percorria Paracatu, Furquim, Monsenhor Horta e Bandeirantes.
A capela Nossa Senhora Aparecida, no subdistrito de Ponte do Gama, ficou submersa na lama de rejeitos das barragens da Samarco e teve todos os objetos destruídos. Segundo a Associação de Moradores e Amigos de Ponte do Gama, a capela foi construída na mesma época que o povoado começou a existir, no final do século 19.
Segundo o líder comunitário Miguel Sena, a igreja não possuía objetos de valor, mas tinha valor religioso e sentimental dos moradores locais. “Quem nasceu aqui foi batizado e se casou lá na igreja. Lá não tinha objetos de valor porque somos uma comunidade pobre, mas tem o valor sentimental porque a história da comunidade estava ali”, diz Sena.
A capela de Santo Antônio, no subdistrito de Pedras, no distrito de Furquim, não tem idade precisa da sua construção. Segundo o inventariado de bens imóveis de Mariara, a capela tem mais de cem anos. Tem fachada simples, simétrica, contendo quatro vãos. A construção tem duas janelas rasgadas até a altura do coro e guarda-corpo em balaustra de madeira plana com arcos invertidos. A parte superior possui uma janela sineira de verga reta e uma cruz sobressalente ao reboco. Dentro da igrejinha havia um quadro pintado a óleo em 1961 por um artista local. As imagens do altar eram em gesso com pintura comum.
O padre Paulo Barbosa, coordenador de comunicação da arquidiocese de Mariana, disse que os prejuízos para a Igreja são irreparáveis, pois não há como recuperar os prédios arrastados pela lama.
O Iphan classificou como “incalculável” os danos causados ao patrimônio local atingido pela enxurrada de lama. “Todos estes bens e núcleos atingidos eram de grande importância para a identidade local e foram devidamente valorados pelo município, independentemente de haver tombamento por parte do Iphan ou não”, afirmou o chefe do escritório técnico do Iphan em Mariana, Felipe Pires.
Pires informou que ainda não há registros de dano direto ao patrimônio material sob tutela do instituto.
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