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Com contrações, grávida de 8 meses diz "penar" em fila de hospital no Rio

Segundo a grávida, apenas uma médica está trabalhando na maternidade do Hospital Estadual Rocha Faria - Zulmair Rocha/UOL
Segundo a grávida, apenas uma médica está trabalhando na maternidade do Hospital Estadual Rocha Faria Imagem: Zulmair Rocha/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

05/01/2016 11h21

"Estou penando aqui. Me deram uma injeção para a dor e disseram para eu voltar para casa. Mas eu não saio daqui de jeito algum.” Assim Patrícia Pereira da Silva, 21, descreveu a dificuldade encontrada por ela para conseguir atendimento no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (5).

Caminhando para o nono mês de gestação, com 37 semanas, ela disse ter chegado à fila da unidade por volta das 7h. Segundo a grávida, apenas uma médica está trabalhando na maternidade. A paciente relatou ter recebido uma injeção de Buscopan para aliviar as dores e ter sido orientada a voltar para casa. "Como assim voltar pra casa? O certo seria me internar. Meu filho pode nascer a qualquer momento."

O Estado do Rio vive uma grave crise na saúde pública, em virtude do atraso no pagamento de salários e da falta de materiais e condições adequadas de atendimento. O Rocha Faria é uma das unidades mais afetadas. Nos últimos dias, houve relatos de pessoas que receberam alta mesmo com problemas sérios de saúde, além de exames de imagem não serem realizados.

Patrícia disse não ter recebido comprovante da injeção que recebeu ao chegar no Rocha Faria e que só soube que tratava-se de Buscopan porque sua mãe questionou a enfermeira. Segundo ela, foi feito ainda um exame de toque, e ela teria ouvido da equipe de saúde que a dilatação não era adequada. "Me mandaram de volta para casa, mas eu não saio daqui. E se eu entrar em trabalho de parto no meio do caminho?", indagou.

A gestante afirmou temer pela vida do bebê. "Já tive dois filhos [duas meninas, de cinco e dois anos] e não sei o que vai ser do menino que estou esperando. Tenho medo de que ele também venha prematuro e precise ficar incubado. Como eu vou conseguir atendimento para ele com os hospitais nessa situação?”, questionou. “É um sentimento muito grande de revolta."

De acordo com Patrícia, todo o atendimento durante a gestão vinha sendo realizado normalmente na rede pública, incluindo o pré-natal. As dificuldades começaram apenas no final de 2015. "Falta médico, falta material, falta tudo. Estamos abandonados", reclamou.

Abordados pela reportagem do UOL, funcionários do hospital afirmaram que não estão autorizados a comentar o assunto. Por volta das 10h, uma equipe da Defensoria Pública do Estado chegou à emergência do Rocha Faria. Uma defensora entrou rapidamente na unidade, sem dar declarações.