Por que tantas árvores caem em São Paulo?

As chuvas que atingiram São Paulo na última sexta-feira (3) deixaram pelo menos oito mortos. Internada após ser atingida por uma árvore que caiu, a última vítima foi confirmada nesta terça-feira (7), em Ibiúna, no interior do estado.

Mais de 2.000 árvores caíram apenas na cidade de São Paulo após o temporal da semana passada. Os números são da prefeitura da capital paulista.

Além das fatalidades, milhares de pessoas ficaram sem luz por conta dos estragos. As chuvas contaram com ventos superiores a 100 km/h, a maior velocidade registrada no estado desde 1995.

"Ventos acima de 60 km por hora podem derrubar árvores boas e ruins", afirma o agrônomo Demóstenes Ferreira da Silva Filho, professor do Departamento de Ciências Florestais da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo).

Sufoco nas calçadas

A ocupação do entorno das árvores também pode levar a quedas. Em grande parte dos casos, o espaço destinado às espécies nas calçadas é inadequado. É como se as espécies ficassem sufocadas, com dificuldades para respirar.

"Existem dificuldades de desenvolvimento das raízes nas calçadas. O solo abaixo das calçadas, seu substrato básico para nutrição e sustentação mecânica, não foi pensado para as árvores", afirma o professor Silva Filho.

De acordo com o pesquisador, o desenvolvimento superficial deixa as árvores "suscetíveis ao ataque de fungos apodrecedores de madeira" por causa do acúmulo de umidade. "O apodrecimento ocorre de baixo para cima como um cone se formando dentro da base da árvore".

Desse modo, prossegue Silva Filho, as árvores plantadas na cidade se tornam menos resistentes que as que vivem nas florestas. É necessário, diz ele, planejar melhor as calçadas para torná-las menos hostis às espécies.

Podas malfeitas e falta de diagnóstico

A poda é outra causa para as quedas. O professor da USP classifica como "agressões" os cortes feitos de maneira equivocada. Uma poda malfeita tende a tirar o equilíbrio da árvore e a deixá-la vulnerável. É preciso conhecer a estrutura da espécie para fazer um corte correto.

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"Existem normas para a poda de árvores", acrescenta o engenheiro agrônomo Joaquim Cavalcanti, diretor regional da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana e ex-diretor de parques como o Ibirapuera.

Se há árvores doentes ou desequilibradas e sujeitas a cair, é porque falta um bom trabalho de controle da floresta urbana. Eis, então, outro motivo de tantas quedas.

"A prefeitura deve investir em diagnóstico, cadastro e avaliação das árvores. A primeira medida é ter um sistema de informação geográfica para as árvores e contratar equipes para avaliar as árvores individualmente e abastecer o sistema com diagnósticos visuais. Após essa etapa, as piores árvores devem ser substituídas e as árvores com risco devem ser monitoradas por meio de equipamentos que mensuram ocos e problemas de raízes", diz Silva Filho.

"A árvore é um ser. Ela tem que ser examinada periodicamente. Dá para fazer o diagnóstico, com avaliação visual, passando de carro pelas ruas a 40 km/h. Quando se verifica um erro na árvore, aí entra a avaliação técnica, com equipamentos de última geração, que identificam as falhas", afirma Cavalcanti.

Como avisar a prefeitura

Se uma árvore caída interdita uma casa ou oferece riscos à população, o morador deve ligar para o número 199 e acionar a Defesa Civil. A solicitação de poda na prefeitura pode ser feita pelo número 156 ou pelo aplicativo 156 da administração municipal.

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