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Promessa petista, ponte sobre local de naufrágio em Salvador está há 8 anos no papel

Foto: reprodução
Imagem: Foto: reprodução

Janaina Garcia e Gustavo Maia

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

25/08/2017 00h04Atualizada em 25/08/2017 14h13

O naufrágio que deixou ao menos 18 mortos nessa quinta-feira (24) na baía de Todos os Santos --entre os quais, uma criança de seis meses e uma idosa de 70 anos-- aconteceu entre Salvador e a Ilha de Itaparica pouco depois de a lancha Cavalo Marinho I deixar Vera Cruz, na região metropolitana da capital baiana.

O trajeto que hoje é feito por via marítima convive há mais de oito anos com a promessa de construção de uma ponte ligando as duas localidades, mas a obra ainda não saiu do papel. Atualmente, as lanchas fazem o trajeto Salvador-Mar Grande de hora em hora, das 7h às 20h, 14 vezes ao dia cada trecho.

De acordo com a Secretaria de Comunicação do governo de Rui Costa (PT), a licitação para a ponte de 12,1 km de extensão, orçada em R$ 6,1 bilhões, está aberta, e os estudos de impacto ambiental já foram realizados.

O governo baiano agendou para o próximo dia 29 de setembro um chamamento público para que as empresas interessadas apresentem estudos de fundagem física, sísmica, hidráulica e marinha, além de projeto básico de engenharia e estudos urbanísticos, jurídicos e financeiros.

A obra havia sido anunciada em 2009 pelo então governador Jaques Wagner, também do PT, durante evento em Salvador com a participação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o jornal "A Tarde", à época, Wagner estimara custo de R$ 1,5 bilhão para a obra.

"Já não contente com tudo o que recebe, o Wagner me apresenta proposta de um projeto, levando aqui, a ponte atravessando até Itaparica. E ele já me disse que a obra custa mais de R$ 1 bilhão. Certamente, certamente o projeto será olhado com carinho, com paixão e, certamente, Wagner, se eu não fizer, outro fará. Não posso prometer", declarou Lula na ocasião.

Em 2011, já no governo de Dilma Rousseff (PT), o então governador apresentou um projeto desenvolvido pelas construtoras OAS, Odebrecht e Camargo Corrêa, e disse que a obra tinha previsão de início para 2014 e deveria estar concluída em 2018. O financiamento, segundo ele, seria feito pelos governos federal e estadual e pela iniciativa privada.

"Quando se tem bons projetos, o dinheiro aparece - e vamos conseguir esse dinheiro", declarou Wagner em 2011, durante a apresentação do projeto. Mas a ideia empacou e só foi retomada anos depois.

24.ago.2017 - Projeto de ponte que unirá Salvador e Itaparica - Divulgação/Governo da Bahia - Divulgação/Governo da Bahia
Projeto de ponte que unirá Salvador e Itaparica
Imagem: Divulgação/Governo da Bahia
Se concretizada, a ponte, segundo a Secom, integrará o Sistema Viário Oeste, orçado em R$ 7,9 bilhões e que prevê, além da estrutura, a construção de outras obras, como viadutos e túneis em Salvador, a requalificação da BA-001, em Itaparica, e a construção de uma nova rodovia expressa para tráfego pesado, além de outras benfeitorias.

A previsão é que o sistema impacte diretamente 4,4 milhões de habitantes em 45 municípios e, indiretamente, quase 10 milhões de pessoas em 250 municípios baianos.

Além de lanchas, o transporte marítimo entre Itaparica e Salvador é feito hoje via catamarã, ferry-boat (que também transporta veículos) e lancha comum, como a que naufragou nesta quinta. Menos comum para o trajeto, a via terrestre é também mais longa que a marítima.

João Ubaldo e Geraldo Majella

A promessa de construção da ponte já despertou polêmica no Estado envolvendo personalidades públicas como o escritor João Ubaldo Ribeiro, morto em 2014. Naquele ano, o baiano, que era natural da ilha, pediu o fim do projeto --ao qual se opusera já desde 2009-- alegando que Itaparica se transformaria “em uma espécie de subúrbio de Salvador e, provavelmente, [seria] favelizada", como afirmou em entrevista à revista digital Terra Magazine.

"Essa ponte nunca vai ser construída. Contra ela, há diversos argumentos. A prioridade de uma ponte dessa, diante do acúmulo das necessidades do país, é baixíssima", afirmou o escritor, na ocasião.

Em 2010, porém, o governo baiano ganhara como aliado da obra o cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, então arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, para quem a implantação da ponte, segundo o "A Tarde", reduziria distâncias de quem viaja o território baiano.

“Eu acho que vai ser bom. Temos muitas pessoas que usam a passagem pela ilha para ir mais para o sul do nosso Estado. Se tivermos uma ponte, o tempo e os custos da viagem vão ser abreviados”, alegou o religioso, à época.

O governo atual ainda não definiu a fonte de recursos para a obra. Não está descartado, por exemplo, o modelo de PPP (Parceria Público Privada).