PCC tentou contratar 'Lúcifer' para assassinar inimigo dentro de presídio federal
Bilhetes interceptados em um presídio do interior paulista revelam que o PCC (Primeiro Comando da Capital) tentou em 2017 usar um assassino conhecido como Lúcifer, sem elo com a facção, para matar um rival detido no presídio de segurança máxima de Campo Grande (MS).
A informação sobre o plano consta na denúncia da Operação Echelon, do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), que acusou, há uma semana, 75 pessoas pelo crime de organização criminosa por integrarem a facção.
O alvo do PCC era o traficante José Roberto Fernandes Barbosa, mais conhecido como Zé Roberto da Compensa. Ele é o chefe da FDN (Família do Norte) e mandante do "Massacre de Manaus", quando 56 presos foram assassinados durante o primeiro dia de 2017 na penitenciária da capital amazonense. Vinte e seis mortos eram integrantes do PCC.
A FDN e o PCC disputam o fluxo e venda de drogas da chamada "rota dos Solimões", além do controle da massa carcerária nas prisões da região Norte.
Segundo o depoimento confidencial de um preso amazonense, a ameaça do PCC, cujo plano de assassinato não foi concretizado, levou a direção da penitenciária federal em MS a colocar Zé Roberto em outra cela.
Lúcifer arranca vísceras de suas vítimas
Para matar Zé Roberto da Compensa e vingar aqueles que foram assassinados pela FDN, o PCC queria utilizar os serviços do detento Marcos Paulo da Silva, o Lúcifer. Preso há quase 20 anos, ele criou sua própria facção criminosa, a Cerol Fininho, conhecida por arrancar as vísceras de suas vítimas.
"Referente às ideias de tentar usar o Lúcifer para pegar o Zé Roberto FDN, é isso mesmo", diz um dos bilhetes interceptados por agentes da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na região oeste de São Paulo, onde se encontra parte da cúpula do PCC (veja a imagem acima).
"Pedimos para vocês fazerem esse salve [comunicado] chegar na meta [cela] dele que, se ele fecha nessa situação, ele terá todo nosso apoio no que precisar e poderá voltar para nossa cadeia como companheiro. Ele tem nossa palavra, pois ele tava ajudando vingar a morte de vários irmãos."
Lúcifer é conhecido no sistema penitenciário paulista por ter uma tatuagem com seu apelido no crime. Certa vez, ele matou, sozinho, cinco presos em poucos minutos. Já participou de assassinatos no cárcere em parceria com membros do PCC, de acordo com investigações da Polícia Civil de São Paulo.
Leia Mais:
Durante duas décadas em prisões, Lúcifer já foi colocado pelo menos quatro vezes no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), quando o detento comete uma infração grave e fica em isolamento.
Em 2017, Lúcifer passou por três penitenciárias federais, inclusive a de Campo Grande (MS), antes de voltar neste ano a cumprir pena em um presídio do interior de São Paulo.
"Ele é uma pessoa instável e foi vítima de agressões quando entrou ainda muito jovem no sistema penitenciário. A qualquer momento, pode cometer um ato violento. Por isso, tomava o banho de sol afastado dos outros detentos", afirmou ao UOL, sob sigilo, um agente penitenciário que conviveu com Lúcifer em um presídio federal.
Não se sabe ao certo se Lúcifer concordou em participar do plano do PCC para matar Zé Roberto da Compensa e, em caso positivo, qual a razão para o plano não ter sido executado. "Ele só faz o que quer", diz o agente.
Coordenação central do PCC arquitetou plano
O plano é atribuído pelo MP paulista aos integrantes da Sintonia dos Estados, espécie de coordenação central das ações do PCC. Cada setor da facção é chamado de sintonia.
Usar o chefe da Cerol Fininho era uma forma que o PCC encontrou para despistar a investigação sobre um eventual assassinato de Zé Roberto da Compensa.
"Seria interessante para o PCC, pois eliminaria inimigos históricos sem chamar a atenção, uma vez que 'Lúcifer' não faz parte da facção. Para 'Lúcifer' também seria interessante, pois como possui uma condenação altíssima, receberia do PCC uma espécie de 'ajuda' por ter assassinado estes desafetos", afirma o promotor de Justiça Lincoln Gakyia, autor da denúncia.
Além do chefe da FDN, outro "troféu" pedido pela cúpula do PCC a Lúcifer era o fundador da facção paulista José Márcio Felício, o Geleião --que atualmente cumpre pena em um presídio do interior paulista. Este foi expulso do PCC quando Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, assumiu a liderança da facção.
Bilhetes foram resgatados no esgoto
Os bilhetes sobre o plano do PCC de assassinar o chefe da FDN integram as dezenas de mensagens escritas que foram interceptadas pelo serviço de inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de São Paulo.
Os documentos foram jogados pelos detentos no esgoto da penitenciária paulista, porém os agentes conseguiram resgatá-los por meio de redes instaladas previamente com esse objetivo. Foram desinfetados, remontados e lidos e auxiliaram na investigação sobre ações da cúpula do PCC.
Defensora de Zé Roberto da Compensa, a advogada Kelly Hilário afirma desconhecer a existência de um plano para assassiná-lo. "Por uma questão de segurança, ele não tem contato no presídio com membros de facções rivais, mas isso é uma ação rotineira."
A reportagem não conseguiu localizar o advogado de Marcos Paulo da Silva, o Lúcifer.
O Depen enviou nota em que diz "não comentar assuntos de cunhos operacional ou de inteligência por questões de segurança". A nota acrescenta que nunca houve registro de homicídios em 12 anos de sistema penitenciário federal.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.