Justiça torna réus PM e ex-PM acusados da morte do jovem Guilherme
Resumo da notícia
- Justiça de SP tornou réus sargento e ex-soldado, ambos da PM
- Ambos foram acusados de matar e torturar adolescente negro
- Justiça também decretou a prisão preventiva de ambos
- Defesa de Adriano alega inocência e diz que ele apresentará um álibi
A Justiça de São Paulo recebeu a denúncia do Ministério Público e tornou réus o sargento da PM Adriano Fernandes de Campos e o ex-PM Gilberto Eric Rodrigues, acusados de assassinar o adolescente negro Guilherme Silva Guedes, 15, em junho deste ano, na zona sul da capital.
O juiz Claudio Juliano Filho, da 1ª Vara do Júri, decretou a prisão preventiva de ambos, solicitada pelo Ministério Público. O sargento Adriano estava preso, temporariamente, desde 17 de junho. O ex-PM Gilberto está foragido desde 2015, quando fugiu do presídio Romão Gomes, da Polícia Militar. Ele estava preso desde 2013, acusado de participar de uma chacina.
A denúncia foi recebida no dia 14 de agosto, mesmo dia em que o MP denunciou e pediu a prisão preventiva dos acusados. O processo tramita em segredo de Justiça, mas o UOL obteve a confirmação com o MP e a defesa do réu Adriano.
Defesa diz que sargento tem álibi
O advogado Mauro Ribas, defensor de Adriano, afirma que seu cliente é inocente. "Ele não cometeu esse crime", afirmou.
Segundo o defensor, que atua no caso com o advogado Renato Soares Nascimento, seu cliente tem um álibi que será apresentado em juízo.
Após a apresentação da defesa prévia, será agendada uma audiência de instrução e, posteriormente, o depoimento do sargento Adriano, que até agora não deu sua versão para o caso e manteve-se calado nos depoimentos ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil.
"Em juízo ele falará", disse o advogado, que não quis falar qual seria o álibi de Adriano.
Sobre o vídeo no qual Adriano e Gilberto foram reconhecidos (veja abaixo) como os homens que sequestraram Guilherme antes de terem torturado e matado o jovem, o advogado não comentou. "No interrogatório, na Justiça, ele prestará todas as informações", disse.
A defesa de Gilberto Eric não foi localizada.
Após a fase de instrução, a Justiça decidirá se Adriano e Gilberto irão a júri popular. Não há previsão para o julgamento de ambos.
Sequestro, tortura e morte
Guilherme foi sequestrado, torturado e morto em 14 de junho deste ano na Vila Clara, zona sul de São Paulo.
O sequestro de Guilherme foi flagrado por uma câmera de segurança do bairro e ambos os autores foram identificados pela Polícia Civil. A família da vítima, com a ajuda de vizinhos, encontrou essa filmagem.
O sargento Adriano é dono da empresa Campos Forte Portaria, contratada para fazer a zeladoria, mas que prestava de fato serviços de segurança em um terreno da Sabesp, administrado pela empresa Globalsan, localizado no mesmo quarteirão onde o jovem morava. A Sabesp alega que o terreno é da Globalsan, mas todos os moradores do bairro conhecem o local como "o terreno da Sabesp".
Gilberto era funcionário de Adriano na Campos Forte e usava o codinome de Roberto na empresa, forma também como era conhecido pelo bairro.
O terreno era usado como passagem para acessar a área de um supermercado onde moradores do bairro recolhiam alimentos descartados próximo ao vencimento. O movimento aumentou no local em virtude da pandemia de covid-19. O sargento, afirmam os investigadores, alegava que o terreno era alvo de furtos, nunca reportados à polícia.
Na denúncia, o promotor do caso, Neudival Mascarenhas Filho, diz que a invasão ao terreno da empresa motivou o assassinato. "O crime foi cometido por motivo torpe, pois agiram os denunciados para se vingar dos invasores, sequestrando e matando o primeiro garoto que viram pela frente, para que servisse de exemplo", escreveu.
Para o promotor, os dois denunciados cometeram homicídio qualificado por motivo torpe, emprego de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
MP: "Crime foi extremamente cruel"
Ao UOL, o promotor explicou que o MP optou por qualificar o homicídio, com emprego de meio cruel, pois não teria elementos suficientes para denunciar os dois acusados pelo crime de tortura.
"O meio cruel da denúncia equivale à tortura. A tortura prevista em lei fala em violência para obtenção de confissão, mas não temos elementos de que esse era o objetivo dos autores. O policial preso não colaborou", disse.
"Mas o crime foi extremamente cruel. Houve um disparo não letal na boca da vítima, que atingiu os lábios de Guilherme", afirmou o promotor.
O UOL apurou que o sargento Adriano tentou ocultar os rastros que o ligavam o crime. Depois de sequestrar Guilherme ao lado da casa onde ele morava, o garoto foi levado até o carro do sequestrador e o policial deixou o celular no terreno do qual era segurança. "Ele não queria correr o risco de ser rastreado", disse uma fonte ligada ao caso.
Família pede Justiça e prisão
Na tarde de 14 de agosto, a família de Guilherme e representantes da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio estiveram reunidos com o promotor do caso e com o promotor Arthur Lemos, secretário especial de políticas criminais do MP paulista, e pediram por Justiça.
A mãe de Guilherme, Joyce Silva, disse que para isso é fundamental a prisão do ex-PM Gilberto, que segue foragido. "Que seja feita a Justiça e que o policial fugitivo seja localizado. Ele é acusado de vários homicídios, segundo a polícia, como que ele trabalhava com um PM da ativa como segurança?", questionou.
A família e a Rede de Proteção representaram ao MP pela abertura de um inquérito civil público para apurar a responsabilidade civil da Sabesp e da Globalsan na morte de Guilherme.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.