MP denuncia sargento da PM e ex-soldado pela morte do adolescente Guilherme
Resumo da notícia
- MP denunciou hoje um sargento e um ex-soldado da PM pelo assassinato do adolescente Guilherme Guedes
- O crime ocorreu na madrugada de 14 de junho; o jovem negro foi sequestrado, torturado e morto
- Os acusados foram denunciados por homicídio qualificado por motivo torpe e emprego de meio cruel
- A defesa de ambos os acusados alega inocência
O Ministério Público de São Paulo denunciou o sargento da PM Adriano Fernandes de Campos e o ex-soldado da PM Gilberto Eric Rodrigues pelo homicídio do adolescente negro Guilherme Silva Guedes, 15. Segundo as investigações, Guilherme foi sequestrado, torturado e morto em 14 de junho deste ano na Vila Clara, zona sul de São Paulo.
O sequestro de Guilherme foi flagrado por uma câmera de segurança do bairro e ambos os autores foram identificados pela Polícia Civil. A família da vítima, com a ajuda de vizinhos, encontrou essa filmagem.
O sargento Adriano tinha uma empresa de zeladoria que prestava serviços de segurança em um terreno da Sabesp, administrado pela empresa Globalsan, localizado no mesmo quarteirão onde o jovem morava.
O terreno era usado como passagem para acessar a área de um supermercado onde moradores do bairro recolhiam alimentos descartados próximo ao vencimento. O movimento aumentou no local em virtude da pandemia de covid-19. O sargento, afirmam os investigadores, alegava que o terreno era alvo de furtos, nunca denunciados à polícia.
Além de denunciar os dois homens, o MP pediu a prisão preventiva de ambos. Adriano está preso temporariamente desde junho. Gilberto está foragido desde 2015. Ele ficou preso por menos de dois anos no presídio Romão Gomes, por envolvimento em uma chacina. Enquanto aguardava julgamento, Gilberto fugiu pulando o muro da prisão.
O UOL procurou a defesa de ambos os denunciados e aguarda um posicionamento. Em notas anteriores, os advogados de ambos os acusados alegam inocência.
Para o promotor Neudival Mascarenhas, os dois denunciados cometeram homicídio qualificado por motivo torpe, emprego de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Meio cruel foi tortura
Ao UOL, o promotor explicou que o MP optou por qualificar o homicídio, com emprego de meio cruel, pois não teria elementos suficientes para denunciar os dois acusados pelo crime de tortura.
"O meio cruel da denúncia equivale à tortura. A tortura prevista em lei fala em violência para obtenção de confissão, mas não temos elementos que esse era o objetivo dos autores. O policial preso não colaborou", disse.
"Mas o crime foi extremamente cruel. Houve um disparo não letal na boca da vítima, que atingiu os lábios de Guilherme", afirmou o promotor.
O UOL apurou que o sargento Adriano tentou ocultar os rastros que o ligavam o crime. Depois de sequestrar Guilherme ao lado da casa onde ele morava, o garoto foi levado até o carro do sequestrador e o policial deixou o celular no terreno do qual era segurança. "Ele não queria correr o risco de ser rastreado", disse uma fonte ligada ao caso.
Família cobra por Justiça
Na tarde de hoje, a família de Guilherme e representantes da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio estiveram reunidos com o promotor do caso e com o promotor Arthur Lemos, secretário especial de políticas criminais do MP paulista, auxiliar direto do Procurador-Geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, e pediram por Justiça.
"É isso que a gente quer: Justiça, para que não seja mais um crime que fique impune. Eu sou tia e dói, imagina a mãe", disse a tia avó de Guilherme, Tânia Amorim, 61.
A mãe de Guilherme, Joyce Silva, disse quer a a prisão do ex-PM acusado, que segue foragido. "Que seja feita a Justiça e que o policial fugitivo seja localizado. Ele é acusado de vários homicídios, segundo a polícia, como que ele trabalhava com um PM da ativa como segurança?", questionou.
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