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Mulher é investigada por colar bilhetes racistas em condomínio de Santos

Mulher escreveu ofensas na porta do apartamento de uma das vizinhas em abril - Reprodução/Google Maps e arquivo pessoal
Mulher escreveu ofensas na porta do apartamento de uma das vizinhas em abril Imagem: Reprodução/Google Maps e arquivo pessoal

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

10/05/2021 15h08

Moradores de um condomínio localizado no bairro do José Menino, em Santos, litoral de São Paulo, denunciaram à polícia uma moradora de 56, nutricionista, por escrever e colar na porta de seu apartamento e outras dependências do prédio recados racistas e ameaças contra vizinhos e funcionários.

O edifício, com unidades de classe média e média alta, fica numa região bem localizada, perto do Orquidário, na Avenida General Francisco Glicério, uma das mais importantes e movimentadas da cidade.

No sábado (08), duas moradoras registraram boletim de ocorrência contra a mulher após ela afixar em suas portas bilhetes em letras grandes, com ofensas e ameaças onde se referia a elas, por serem negras, como pessoas de "espíritos imundos" e "escória da sociedade".

bilhetes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mulher cola recados em dependências do condomínio
Imagem: Arquivo pessoal

Ontem (09), a mulher voltou a colar, desta vez em sua própria porta, novos recados ofensivos contra quem a denunciou. "Porca e vadia! Caluniadora. Prevalece-se porque vive em um País onde Direitos Humanos favorecem bandidos. É preta retinta, como apresenta-se ser".

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Nutricionista faz novo ataque em bilhete
Imagem: Arquivo pessoal

A mulher, considerada pelos moradores como uma pessoa reclusa e de comportamento agressivo, chegou a ser presa no dia 5 de abril, após a tentativa de agredir duas vizinhas com uma barra de ferro. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as ocorrências.

O delegado que cuida do caso, Jorge Álvaro Gonçalves Cruz, afirmou que o primeiro inquérito, que resultou em flagrante, foi relatado e está sendo encaminhado ao fórum. A suspeita foi presa por injúria racial, dano e ameaça, e liberada após uma audiência de custódia.

"As vítimas desse tipo de agressão devem registrar o fato na delegacia e, se possível, instruir com fotografias, arrolando testemunhas, sem prejuízo da perícia que será requisitada pela Autoridade Policial. Dependendo da situação, é preciso chamar a polícia até o local para análise do fato, sendo possível a prisão em flagrante".

O UOL entrou em contato com a administradora do condomínio para obter um posicionamento, mas até o fechamento desta matéria não havia obtido resposta.

Histórico de agressões

O desentendimento que causou a primeira detenção da nutricionista se iniciou depois que ela escreveu, com tinta permanente, ofensas na porta do apartamento de uma das vizinhas e também na área comum do condomínio em abril deste ano.

quadro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mulher também deixou ataques em quadro de energia
Imagem: Arquivo pessoal

"Porca imunda", "vagabunda dos crimes" e "negro quando não faz na entrada faz na saída" foram algumas das frases registradas em um quadro de energia e numa porta corta-fogo pela mulher.

Ao ser questionada por sua atitude, a nutricionista saiu do apartamento com uma barra de ferro para agredir as vizinhas e chegou a perfurar a porta de um dos apartamentos com as pancadas.

Rendida com a ajuda do subsíndico do edifício e impedida de retornar ao seu apartamento, a mulher foi presa com a chegada da polícia. Ela foi levada pelos policiais à delegacia, mas acabou sendo liberada após uma audiência de custódia.

Além do episódio, o zelador Arilton Souza de Carvalho também foi alvo de agressões da nutricionista. Trabalhando há 14 anos para o condomínio como porteiro e atualmente como zelador, ele conta que já foi atacado fisicamente pela mulher.

Em 27 de novembro de 2020, segundo boletim de ocorrência registrado no 7º DP de Santos, quando Arilton estava saindo do prédio ao final do expediente, a mulher saltou de um táxi em movimento e começou a ofendê-lo e agredi-lo. Entre tapas e pontapés, ela gritava: "Vagabundo, negro encardido, estuprador".

"Isso tudo é muito humilhante. A gente só quer trabalhar com honestidade e dignidade, eu até evito comentar o que está acontecendo em casa, para minha filha pequena não ouvir. Ela ainda não tem mentalidade para entender esse tipo de coisa", diz o zelador.

Em março deste ano, após humilhar e xingar novamente o zelador enquanto ele recolhia o lixo dos apartamentos no andar térreo, a nutricionista subiu até o seu apartamento para apanhar uma garrafa de uísque, desceu novamente e, com violência, a arremessou contra o vidro de proteção da guarita da portaria. A intenção era de atingir uma funcionária e acabou danificando o vidro.

Carvalho conta que, desde que passou a trabalhar no edifício, já notava que a mulher sempre o olhava "torto". E que as agressões efetivamente começaram quando, no início do ano passado, ele se viu obrigado a acompanhar um oficial de Justiça até a porta de seu apartamento, como testemunha de entrega de uma intimação judicial.

"Ela é uma mulher bonita, branca, loira de olhos azuis. Isso que ela está fazendo não é só injúria, não. É racismo puro", desabafa. "Essa mulher é perigosa, violenta. Eu e os outros funcionários vivemos sob pressão, sempre tendo que fugir do caminho dela."