Sangue e alga: os detalhes que levaram ao assassino de Mércia Nakashima
Mizael Bispo, 53, está em liberdade. Depois de 11 anos preso, o ex-policial militar foi beneficiado pela Justiça com a progressão para o regime aberto e vai cumprir em casa o restante da pena.
Condenado em 2013 a 22 anos e 8 meses de prisão pela morte da advogada Mércia Nakashima, Bispo cumpria pena na Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo, e já estava no regime semiaberto desde setembro de 2018.
Relembre o crime
O crime aconteceu em 23 de maio de 2010. Mércia, que tinha 28 anos, foi atingida por um tiro no rosto. Depois do tiro, o carro dela foi empurrado para dentro de uma represa em Nazaré Paulista (SP), onde ela morreu afogada. O corpo só foi achado em 11 de junho daquele ano, por um pescador na Represa de Atibainha.
O casal havia namorado por quatro anos e era sócio em um escritório de advocacia. O relacionamento terminou em 2009, e Mércia desapareceu em 23 de maio de 2010. A vítima foi vista pela última vez na casa da avó.
Atenção da mídia. Os irmãos de Mércia, Cláudia e Márcio, registraram um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento da irmã, mas o caso só ganhou notoriedade na imprensa nacional quando Márcio deu uma entrevista para um programa de televisão.
Na investigação do caso, as suspeitas contra Mizael Bispo surgiram desde o começo, quando ele se esquivou de ajudar a família nas buscas.
Os álibis citados por ele em seus depoimentos foram contestados e derrubados por provas consistentes. Também foi achado sangue em um par de sapatos recolhidos na casa do advogado, além de fragmentos microscópicos de uma alga de água doce idêntica à que se encontra na represa. Ao rastrear as chamadas telefônicas feitas por Bispo no dia em que Mércia desapareceu, a polícia descobriu que ele havia realizado 16 ligações para o vigia Evandro Bezerra da Silva, apontado como seu cúmplice.
Para o Ministério Público, Bispo não aceitava o fim do relacionamento dos dois. O vigilante o ajudou na fuga.
Condenação
Bispo teve a prisão decretada em dezembro de 2010. No entanto, antes de ser preso, o policial militar reformado ficou mais de um ano foragido. Ele se entregou somente em 24 de fevereiro de 2012.
Julgamento em março de 2013. Devido à exploração midiática do caso, seu julgamento foi o primeiro da história do judiciário brasileiro a ser transmitido ao vivo pela TV.
Bispo foi condenado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, cruel e sem possibilidade de defesa da vítima) e também por ocultação de cadáver. A princípio, a pena determinada era de 20 anos de reclusão. Após apelações da defesa de Mércia e do MP-SP (Ministério Público de São Paulo), a pena foi redefinida para 22 anos e 8 meses.
Mizael foi condenado por um júri de cinco mulheres e dois homens. Ao todo, os jurados analisaram seis quesitos para responder sim ou não e decidir se o policial reformado era ou não culpado pelo crime. Entre eles, figurou, por exemplo, se o crime foi praticado "por motivo torpe, em razão da insatisfação com o rompimento" do relacionamento amoroso. Ainda foi questionado aos jurados se o crime foi cruel.
Em 2020, Bispo deixou a penitenciária de Tremembé, no interior paulista, por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que entendeu que ele deveria cumprir pena em regime domiciliar por estar no grupo de risco da covid-19 em agosto. No entanto, ele retornou ao presídio em dezembro após revogação da determinação.
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Em abril de 2022, o TJM-SP (Tribunal de Justiça Militar de São Paulo) decidiu expulsar Bispo, que era cabo. Segundo decisão, além de ser expulso da corporação e perder sua patente, ele ainda teria cassação de eventuais condecorações e do registro de arma de fogo.
*Com reportagens publicadas em 05/02/2018, 26/01/2021 e 20/04/2022
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