'Cantei Stayin Alive para salvar idosa em parada cardíaca durante 19 min'

Foram 19 minutos de muita tensão para os estudantes de enfermagem e medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e para Glória de Jesus Araújo, 66, que teve uma parada cardiorrespiratória e caiu ao lado do grupo, que ensinava manobras de primeiros socorros na Praça Mauá, centro da cidade.

Internada há nove dias, a idosa fez 66 anos no dia 21, se recupera bem e já faz planos para quando receber alta: "Minha maior vontade quando eu sair daqui é uma boa fatia de bolo com um copo de guaraná para comemorar meu aniversário. É só isso que eu quero", disse Glória ao UOL.

O que aconteceu

Na hora que a adrenalina bate, é bizarro, tudo que você vê e escuta fica muito seletivo. Eu não vi nem ouvi muita coisa além do que estava sendo feito com ela. Na hora que fui revezar a RCP (massagem cardíaca) então, eu só ouvia duas coisas: fiquei cantando na minha cabeça "Stayin' Alive" do Bee Gees, para conseguir acertar o ritmo das compressões e ouvi o menino que estava com o cronômetro ligado e avisava quando tínhamos que fazer o revezamento a cada 2 minutos, disse a aluna do 7º período de enfermagem Mariana Von Held, 22, presidente da Lates/UFRJ.

Essa foi a primeira vez que a estudante participou no salvamento de uma pessoa com parada cardiorrespiratória e compartilhou a história no TikTok.

"Nunca tive antes a oportunidade de participar de uma parada cardiorrespiratória. Apesar disso, eu sabia o que fazer. Estudamos e praticamos muito e isso foi essencial para que, mesmo sendo a primeira vez, eu soubesse o que fazer. Alguns dos alunos já tinham tido essa experiência (em ambiente hospitalar ou até mesmo na rua também), mas foi minha primeira vez de verdade e ter vivenciado isso com pessoas tão especiais e sendo a primeira presidente da enfermagem na história da Lates, foi muito especial e significativo", disse Mariana à reportagem.

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Estudantes de enfermagem e medicina da UFRJ socorreram a idosa durante treinamento de primeiros socorros
Estudantes de enfermagem e medicina da UFRJ socorreram a idosa durante treinamento de primeiros socorros Imagem: Arquivo Pessoal

Caso impressiona médicos

Não lembro de nada, a minha vista apagou, até agora não lembro como eu fui levada ao chão, sendo que não fiquei nem machucada. Só lembro até o momento que eu estava em pé. Ouvi de um médico: "seu santo é forte hein". E é verdade, disse a idosa à reportagem, que segue internada e ficou sem sequelas.

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"A moral da história é essa: aprenda primeiros socorros. Quando fazemos RCP, estamos bombeando o coração daquela pessoa com as nossas mãos e levando oxigênio para o cérebro dela. Isso foi essencial para que ela não tivesse sequelas. A literatura diz que a cada um minuto da pessoa parada, ela tem 10% a menos de chance de voltar. Ou seja, cada minuto é essencial para salvar aquela vida", disse a estudante.

Ela ficou lúcida o tempo todo. Depois que ela voltou a respirar, quando chegamos na primeira unidade de saúde, ela já chegou falando, querendo ir embora, porque o aniversário dela seria na segunda. Ela até brincou comigo: 'poxa, o negócio foi feio mesmo, mas eu já estou bem. Vamos embora? Preciso fazer o almoço'. Eu achei que ela fosse morrer no sábado à noite, pois ainda estava muito fraquinha, até que conseguimos uma transferência no dia seguinte e deu tudo certo. O caso da minha mãe, a ação dos alunos, impressionou todo mundo. Estamos muito gratos e mais aliviados agora. Viva o SUS, disse Vinicius Araujo dos Santos, 40, técnico em segurança do trabalho.

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