Zelador de prédio de médico relata ataque com martelo: 'Me escondia dele'
Outro zelador de um dos prédios onde morou Bruno D'Angelo Cozzolino, 40, flagrado em imagens de câmeras de vigilância agredindo funcionários de um bairro de classe alta de São Paulo, relatou novos episódios de violência envolvendo o médico. Em entrevista ao UOL, disse que D'Angelo atacou a cabine onde ele trabalhava com golpes de martelo e que o local só não foi destruído porque era blindado.
O mesmo zelador testemunhou um caso de injúria contra outro funcionário. Em dezembro de 2019, o médico se dirigiu a um vigilante do prédio e, segundo ele, disse: "Lugar de macaco é no zoológico". A reportagem entrou em contato com o médico por telefone, email e WhatsApp, mas não obteve resposta. À TV Globo a defesa do médico disse que não se manifestaria.
Mudança de comportamento
O zelador, que pediu para não ser identificado, disse que os ataques ocorreram há cerca de dez anos, quando o médico morava com os pais em um prédio de alto padrão em Campo Belo, zona sul da capital paulista. Ele relatou ainda que houve uma mudança brusca de comportamento de D'Angelo na época.
"No começo, ele era tranquilo. Mas depois que terminou com uma namorada, começou a surtar. Ele dava soco nas portas, chutava as lixeiras. As crianças que moravam aqui ficavam com medo." Segundo o zelador, os pais chegaram a relatar que D'Angelo tinha problemas com drogas.
"Ele passou a ser internado em clínicas de reabilitação. Sempre que voltava, estava calmo. Depois, voltava a surtar. Até os pais têm medo dele", conta o zelador.
Uma vez, ele [D'Angelo] desceu do apartamento com uma faca, dizendo que queria matar alguém. Aí, um segurança tirou a faca da mão dele. Depois disso, o condomínio registrou uma ocorrência. Como eu fui na delegacia como testemunha, ele começou a pegar no meu pé. E só não me abordava diretamente porque eu me escondia dele quando via pelas câmeras que ele estava descendo no elevador.
Ataque com martelo
O zelador detalhou como foi um ataque de fúria de D'Angelo. Segundo ele, o pai do médico pediu ao zelador que ligasse para o seu apartamento. Ele aparentava medo e queria saber se o filho ainda estava lá, conforme relatou o funcionário do condomínio.
"Ele [D'Angelo] atendeu, escutou a minha voz e perguntou: 'O que você quer?'. Eu respondi dizendo que queria falar com a mãe dele. Ele perguntou se o pai dele estava comigo, mas eu não respondi. Aí, ele insistiu: 'Seu lixo! Fala comigo!'. Eu desliguei", lembra.
Ao ver o filho descendo pelo elevador, o pai dele teria pedido para permanecer na cabine, segundo relatou o zelador. "Ele está muito nervoso", teria justificado o pai do médico, ainda de acordo com o funcionário do condomínio.
Ele pegou um martelo e bateu duas vezes. O vidro da cabine ficou trincado e só não quebrou porque era blindado. Foi aí que o condomínio proibiu que ele entrasse no prédio, porque ele estava colocando funcionários, moradores e crianças em risco.
Depois disso, os funcionários do condomínio foram orientados a chamar a polícia sempre que ele aparecesse. Aí, ele apareceu, nós chamamos a polícia e ele se escondeu. Depois, voltou irritado, fez insultos racistas contra um vigilante e tentou agredi-lo. No meio da confusão, ele disse que, se o vigilante vacilasse, iria levar uma facada, um tiro ou ser atropelado.
'Ele não gosta de pretas e gordas'
Duas mulheres que trabalharam com o médico relataram ao UOL que foram perseguidas, ofendidas, discriminadas e ameaçadas por ele em 2022. Segundo elas, D'Angelo as ofendeu com expressões como "vão tomar no cu", "putinhas gordas", "vadias gordas" e "hipopótamos".
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Quero receber"Ele não gostava de pessoas pretas e gordas", afirmou Nayane Jane Rodrigues de Queiroz, em entrevista à reportagem. Ela e Joyce Nato Alves fizeram um boletim de ocorrência contra D'Angelo em outubro por injúria, calúnia e ameaça.
Ambas decidiram ir à polícia após uma série de ofensas contra ambas e uma tentativa de agressão contra Nayane, enquanto trabalhavam na recepção de um prédio onde o médico atendia em uma sala alugada para consultório, conforme relatam.
As ofensas e a tentativa de agressão ocorreram após as recepcionistas terem se negado a acionar a polícia, a pedido do médico. Ele exigia que elas tomassem uma atitude para que um rapaz em situação de rua fosse retirado das imediações.
Era na calçada ao lado. Mas como ele não estava nas dependências do prédio, eu achei que não fazia sentido.
Joyce Nato Alves, funcionária ofendida pelo médico
"Ele dizia que tínhamos a obrigação de chamar a polícia. Quando negamos, começou a gritaria", relatam no BO. "Ele quebrou a câmera de identificação e começou a gritar 'suas gordas, hipopótamos'".
Quem é o médico
D'Angelo se formou em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos em 2008, segundo o site de sua clínica. No mesmo portal, ele cita que é pós-graduado em dermatologia, medicina estética e medicina do esporte pela Fundação Souza Marques.
Fundou em 2022 o Instituto D'Angelo "para auxiliar pessoas a esculpirem seus corpos e fazerem deles a marca pela qual elas serão lembradas no mundo." O UOL não conseguiu contato com na clínica por telefone e email.
Em 2021, a defesa do médico apresentou um relatório psiquiátrico que apontava que ele sofria de transtorno de humor bipolar, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo grave. O documento foi apresentado após uma mulher com quem ele manteve relacionamento prestar queixa à polícia e afirmar que já teria sido enforcada e levado socos, chutes, empurrões e puxões de cabelo.
A reportagem também entrou em contato com a advogada Samantha Di Carlo, que já representou o médico. Mas também não obteve resposta.
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