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Ditadores da Síria, Iêmen e Bahrein resistem no poder e mantêm forte repressão a protestos

Fabiana Nanô<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

30/10/2011 07h00

Mais de 3.000 pessoas foram assassinadas pelas forças de segurança na Síria, um ataque ao palácio presidencial quase matou o ditador do Iêmen em junho, no Bahrein as manifestações em praça pública foram dispersadas com uso extremo da violência. Apesar de tudo, os líderes dos três países resistem, assim como a população que exige mudanças.

Síria: aliados fortalecem regime

Alvo de denúncias de instituições internacionais por conta da forte repressão às manifestações que começaram em março, o regime da Síria não dá sinais de fragilidade. Mas os protestos continuam, e os opositores de Bashar al Assad já pedem até proteção internacional. Querem que a Organização das Nações Unidas aprove a criação de uma zona de exclusão aérea, como foi feito na Líbia, onde a intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) contribuiu a queda do ex-ditador Muammar Gaddafi, morto no último dia 20.

Na Síria, Assad afirma que seus opositores fazem parte de grupos armados. Especialistas ouvidos pelo UOL Notícias ressaltam que o apoio ao governo ainda é considerável. "A maioria da população está contra o regime, mas há alicerces sólidos, principalmente dos grupos comerciantes”, diz a diretora do Centro de Estudos Árabes da USP (Universidade de São Paulo, Arlene Clemesha. Ela lembra que os protestos estão espalhados pelo país e não chegaram à capital Damasco. A especialista destaca, no entanto, que o cenário caminha para a necessidade dos manifestantes de se armarem, o que provocaria uma guerra civil no país.

O cientista político e diretor de Relações Internacionais do Instituto de Cultura Árabe (Icarabe), José Farhat, lembra que nas principais cidades do país, como Damasco e Aleppo, ocorrem grandes manifestações de suporte a Assad. Ressalta ainda que a Síria conta com o apoio da China e da Rússia, motivo que leva Assad a apresentar uma postura irredutível em relação às pressões dos Estados Unidos - em discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente Barack Obama fez críticas ao regime e defendeu sanções.

Iêmen: ditador "mentiroso" e risco de guerra civil

Apesar de ter sofrido um ataque em seu palácio que o deixou com queimaduras por todo o corpo, o ditador do Iêmen, Ali Abdallah Saleh, mantém-se no poder. Ele já declarou diversas vezes que facilitaria a transição, sem tomar nenhuma atitude. “O Abdallah Saleh é um dos grandes mentirosos do mundo árabe. Se ele não sair, a guerra civil vai acontecer. O Iêmen está caminhando para isso”, afirma Farhat.

Clemesha destaca o peso da Arábia Saudita na região. Segundo ela, em todo o golfo Pérsico, a Arábia Saudita é a grande influência que tem barrado o processo democrático. O país representa o “maior regime fundamentalista de todo o Oriente Médio. Lá, a população está totalmente dominada, é uma situação pavorosa”,diz.

Por temer que os sauditas se rebelem influenciados pelos países vizinhos, o regime tem dado suporte aos ditadores do Iêmen, Bahrein e Omã. Tanto que abrigou Abdallah Saleh por quase quatro meses e ofereceu tratamento a ele após o ataque a bomba a seu palácio em Sanaa, capital iemenita.

Em reconhecimento à "luta não violenta pela segurança das mulheres e pelo seus direitos a participar dos processos de paz", o Comitê Nobel norueguês concedeu o Nobel da Paz deste ano à ativista iemenita Tawakul Karman. Além dela, outras duas mulheres da Libéria também foram premiadas.

Clique nos países do Oriente Médio e conheça a situação de cada um deles

Bahrein: massacre em praça pública

No Bahrein, a Arábia Saudita tem ajudado o regime ditatorial de Khalifa bin Salman al Khalifa enviando tropas para reprimir os protestos, que foram alvo de massacre em praça pública, segundo Clemesha.

Embora não seja o fator determinante das revoltas, a religião se mistura aos fatores político e social no Bahrein. “Há uma minoria sunita que é rica e está no poder, enquanto os xiitas são pobres, mas compõe a maioria da população”, diz Farhat.

O professor também ressalta que não interessa aos EUA uma revolta no país, já que há uma base militar americana instalada na nação árabe. Tampouco interessa um levante à Arábia Saudita, que se preocupa, entre outros fatores, com a influência do xiismo do Irã.