Assad acusa estrangeiros e promete eleições na Síria
O presidente sírio, Bashar al-Assad, que enfrenta há meses uma rebelião popular, anunciou nesta terça-feira (10) a organização de um referendo em março para mudar a atual Constituição, que confere um papel dominante ao partido Baath, pouco depois de afirmar que as partes estrangeiras estão procurando "desestabilizar" a Síria.
"Quando a comissão sobre a nova Constituição encerrar seus trabalhos, acontecerá um referendo na primeira semana de março", disse Assad. "E esta consulta poderá ser seguida por eleições gerais em maio, já com a nova Carta Magna em vigor", completou.
Sobre o futuro governo, o presidente se recusou a falar de um Executivo de unidade nacional, mas disse que quer um gabinete com todas as tendências, inclusive os adversários.
Durante o discurso de cerca de uma hora e meia na Universidade de Damasco, Assad afirmou que "interesses regionais e internacionais que estão tentando desestabilizar a Síria não podem mais falsificar os fatos e os eventos".
Assad afirmou também que não deixará o cargo, porque ainda tem o “apoio do povo sírio”, apesar de meses de protestos contra o governo em todo o país. “Quando eu deixar o cargo será pela vontade do povo”, disse.
Segundo Assad, "a vitória está próxima" porque as forças estrangeiras "não encontraram um ponto de apoio na revolução pela qual esperavam". Ele negou que as forças de segurança do país receberam ordens para atirar contra os manifestantes.
Liga Árabe
O presidente da Síria também atacou a Liga Árabe durante seu discurso, afirmando que alguns de seus membros, sem citar nomes, buscam aumentar seu papel "incendiando toda a região".
"Não nos surpreendem as aventuras de alguns países que buscam ter um papel utilizando a Liga Árabe, embora seja em troca de incendiar toda a região", destacou.
Assad disse que seu país não "feche as portas" para uma solução mediada pela Liga Árabe para a crise de 10 meses, desde que respeitada a soberania da Síria. Ele afirmou ainda que foi sua a ideia de enviar observadores da Liga Árabe para a Síria “para descobrir a verdade”.
A Liga Árabe suspendeu o país e enviou uma equipe de observadores para avaliar se o regime está cumprindo um plano de paz árabe, que foi aceito por Assad em 19 de dezembro.
Meios de comunicação
O presidente sírio defendeu a proibição do governo sobre a mídia estrangeira, dizendo que no início todos os meios de comunicação tinham sido autorizados a trabalhar livremente no país. "Mas mentiras nos convenceram a colocar um controle sobre isso", acrescentou.
Ainda, segundo Assad, os meios de comunicação internacionais tentam incessantemente "derrubar a Síria", mas apesar do fracasso, "eles não se dão por vencidos".
"Tentaram atingir o líder (da Síria) falsificando minha entrevista ao canal norte-americano ABC", afirmou. No início de dezembro, a Síria já havia acusado o canal de ter alterado "deliberadamente" as declarações de Assad ao editar a entrevista com o presidente sírio, para mostrar o país por um lado negativo.
Durante o discurso, Assad prometeu usar "mão de ferro" para enfrentar o terrorismo, poucos dias depois de um atentado que matou 26 pessoas em Damasco, um ataque atribuído pela oposição ao próprio regime.
"Não pode existir alívio para o terrrorismo, o combateremos com mão de ferro. A batalha contra o terrorismo é uma batalha nacional, não uma batalha do governo", concluiu o chefe de Estado.
É a primeira vez que o presidente sírio fala desde que concordou no mês passado com um plano da Liga Árabe para tentar acabar com a repressão contra os manifestantes. Segundo a ONU, a repressão do governo já provocou mais de 5.000 mortes desde março do ano passado.
(Com AFP e EFE)
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