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"Eu escorreguei e parei em um dos botes", diz capitão do Costa Concordia

Do UOL, em São Paulo

19/01/2012 11h33Atualizada em 19/01/2012 11h55

Durante interrogatório na quarta-feira (18) o comandante italiano do navio Costa Concordia, Francesco Schettino, disse que escorregou e caiu em um bote salva-vidas para explicar o motivo pelo qual não coordenou a retirada dos passageiros da embarcação.


Segundo Schettino, ele tentava fazer com que os passageiros entrassem nos botes, quando escorregou. "Eu não tinha um colete salva-vidas, porque dei para um dos passageiros. Estava tentando levá-los para os botes de forma ordenada. Como o navio estava a uma inclinação entre 60 e 70 graus, eu escorreguei e parei em um dos botes. É por isso que eu não estava lá", declarou.

Schettino confirmou ainda que, de fato, passou pela ilha de Giglio --onde o navio colidiu com uma formação rochosa-- para saudar o capitão aposentado Mario Palombo, e estava no telefone com o amigo no momento do acidente. Ele disse que não estava sob o efeito de drogas.

Um telefonema entre o capitão do Costa Concordia e a Capitania dos Portos, publicado na terça-feira (17) na imprensa italiana, confirma que ele deixou o navio antes da retirada de todos os passageiros e não voltou apesar de ter recebido ordem para retornar.

A transcrição da conversa revela que o capitão ocultou o motivo do naufrágio e que se recusou a voltar para o navio para ajudar na retirada dos passageiros. Segundo o jornal "Corriere della Sera", a Capitania perguntou a Schettino às 0h32 (21h32 de Brasília) quantas pessoas ainda restavam a bordo. Embora a embarcação estivesse cheia, o comandante respondeu que apenas entre 200 e 300 pessoas estavam no navio.

A resposta fez levantar suspeitas à Capitania, que perguntou se ele ainda estava a bordo, fazendo Schettino confessar que ele havia deixado a embarcação.
 

"Mas como que abandonou a nave?", perguntou o capitão Gregorio De Falco, da Capitania. "Volte imediatamente a bordo, suba pela escada de segurança e coordene a evacuação. Deve nos dizer quantas pessoas há lá dentro: crianças, mulheres, passageiros, o número exato de cada categoria."

"Comandante, é uma ordem, agora comando eu. Anteriormente o senhor declarou que havia abandonado o navio, volte à proa e coordene o resgate porque há mortos", completou De Falco.

Schettino, que estava em terra firme e não retornou ao transatlântico, perguntou quantos corpos havia.

"É o senhor quem tem de me dizer quantos [corpos]. O que quer fazer? Ir para sua casa? Volte imediatamente e nos diga o que é preciso fazer, quantas pessoas restam e o que necessitam", disse De Falco.

O comandante garantiu que voltaria, mas testemunhas e investigadores que cuidam do caso afirmam que ele não voltou e o viram pegar um táxi em direção a um hotel.

O acidente

O cruzeiro Costa Concordia colidiu contra as rochas em águas da ilha italiana de Giglio na sexta-feira (13) à noite.

A companhia proprietária da embarcação, Costa Cruzeiros, admitiu que houve "erro humano" e que o capitão não respeitou o regulamento, aproximando-se até 150 metros da costa.

Schettino é acusado de homicídio culposo múltiplo (sem intenção de matar), naufrágio e abandono do navio, crimes pelos quais pode ser condenado a até 15 anos de prisão.

(Com agências internacionais)