Brasileiro que fugiu da ditadura quer voltar ao país, mas teme valor da aposentadoria
Quando chegou em Portugal, em 1976, Enoir Oliveira da Luz não imaginava que comandaria o primeiro restaurante de comida brasileira do país, com donos brasileiros. Mais de três décadas depois, no entanto, a crise econômica que atinge a Europa faz o empresário pensar em voltar para o Brasil.
Aos 75 anos, ele quer uma reparação por considerar-se um refugiado político, o que não coincide com a posição do governo brasileiro, segundo seu relato. “Como eu não fui julgado, eles alegam que eu não sou refugiado político”, diz. Sem a reparação, ele afirma, sua aposentadoria não será suficiente para viver no Brasil.
Em sua terra natal, o brasileiro que ficou conhecido em terras lusitanas como Juca ou ainda “brazuca”, era um sindicalista ativo, atividade que o teria “obrigado” a abandonar o país em 1972, por conta de perseguições políticas.
Ao deixar o Brasil com a mulher, seu primeiro destino foi a Rússia. “Escolhemos Moscou porque poderíamos aproveitar para estudar ciências políticas, economia... Pretendíamos ficar uns dois, três meses, e depois voltar. No entanto, como a polícia começou a prender todo mundo, não deu para voltar”, lembra.
Depois de mais de três anos na capital russa, o casal mudou-se para Portugal. “Viemos para Portugal por causa da língua, e porque tínhamos a possibilidade de trazer os nossos filhos”.
Em Lisboa, Juca continuou com as suas atividades políticas, indo trabalhar na reprografia do Sindicato da Construção Civil. A entrada no mercado de restaurantes aconteceu de forma inesperada. “Em 1977 resolvemos fazer uma feijoada de solidariedade, para ajudar os brasileiros, numa cooperativa que tinha um restaurante que chamava “A Voz do Operário” (...) Amigos que estavam em Paris mandaram o feijão preto para nós, porque aqui não havia, e eu e a minha mulher fizemos a feijoada que foi um sucesso”.
A partir daí, ele não conseguiu mais parar de cozinhar. Novos convites foram surgindo, até que em 1978, em conjunto com outros dois brasileiros, ele abriu o restaurante “Brazuca”. O negócio estimulou o cultivo do feijão preto em Portugal. “Alguns amigos resolveram plantá-lo aqui, em estufa, e tivemos um rendimento enorme. Não tínhamos onde estocar tanto feijão, visto que naquela época só nós tínhamos o hábito de comer feijão preto”.
O restaurante, conta, virou reduto de personalidades nacionais e internacionais e referência para brasileiros que se mudavam para Portugal. Pratos servidos no local – que estava sempre lotado – foram premiados em concursos de culinária. Mas, a partir da década de 90, Juca diz que o negócio começou a sentir os efeitos do que chama de “primeira crise de Portugal”. Hoje ele é o único dono do estabelecimento, que mantém com uma estrutura familiar.
Atualmente, a presença de turistas norte-americanos e canadenses é o que mantém as portas do restaurante abertas, segundo o proprietário. Isso é o que faz com que ele queira voltar para o Brasil, mesmo depois de sua família já ter se acostumado a viver em Portugal.
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