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Líder rebelde nega que tropas sírias são retiradas, e oposição denuncia mais de 40 mortes

Do UOL, em São Paulo

10/04/2012 09h14Atualizada em 10/04/2012 10h53

Embora expire hoje o prazo para o cumprimento do plano de paz proposto pela ONU na Síria, o número dois do Exército Livre Sírio (ELS), Malek Kurdi, negou que o regime esteja retirando suas tropas das cidades e assegurou que a única ação empreendida foi mudar de lugar os tanques em algumas localidades.

“O Exército nem recuou nem vai recuar suas tropas. Conhecemos suas mentiras à comunidade internacional. Ele continua com seus massacres, detenções e ataques a cidades”, denunciou Kurdi.

O líder reconheceu que as operações de combate lançadas pelos soldados são de menor escala hoje, embora "haja algumas detenções e existam preparativos para uma ampla operação que pode acontecer em qualquer parte".

Na visão do militar desertor, o Exército do ditador sírio, Bashar al Assad, considera que agora o ELS está menos forte e por isso tentará lançar um ataque contra eles.

Segundo Kurdi, o ELS não realizou nenhuma operação hoje, "manteve a calma e só respondeu aos ataques do Exército sírio em Aleppo (norte), Hama (centro) e Deraa (sul)".

"As tropas de Bashar al Assad estão tentando invadir bairros de alguns povoados distantes e entraram em lugares onde há ativistas. O ELS só se defende e nunca desenvolveu uma operação que não fosse para defender o povo dos ‘shabiha’ (atiradores) que assassinam cidadãos", indicou.

Mortes e confrontos

Segundo a rede opositora Comitês de Coordenação Local, nesta terça morreram pelo menos 45 pessoas, a maioria delas crianças e mulheres. Destas baixas, 25 ocorreram durante bombardeios do regime no bastião opositor de Homs, no centro do país.

Também houve mortes nas províncias de Idleb (norte), Hama (centro), Deraa (sul), Dir Zur (leste) e na periferia de Damasco.

Os Comitês acrescentaram que no município de Marea, na província nortista de Aleppo, soldados de segurança e atiradores invadiram a cidade, saquearam e destruíram várias casas, além de prender um número indeterminado de moradores.

As autoridades sírias por enquanto não confirmaram as informações.

Acordo mútuo

Porta-voz dos rebeldes, o coronel Qassem Saad al Deen reiterou que a oposição está comprometida com o cessar-fogo proposto pela ONU, mas apenas se as tropas sírias fizerem o mesmo. Segundo ele, os rebeldes continuarão lutando se Assad não retirar suas tropas e tanques das cidades até esta quinta (12).

Já o grupo de oposição Conselho Nacional Sírio assegura que a oposição a Assad não aceitará um cessar-fogo parcial e quer que as forças do governo parem com toda a violência hoje, de acordo com o plano de paz, disse a porta-voz Basma Kodmani em uma coletiva de imprensa em Genebra.

O plano de paz de Kofi Annan, emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, estipula o fim da violência por parte de todos os envolvidos, a retirada das forças armadas das cidades e o restabelecimento da autoridade do Estado em todo o território. Tanto o regime sírio como o ELS têm até hoje para aplicar essa iniciativa e retirar as tropas das cidades, e até o dia 12 para pôr fim de forma definitiva às hostilidades.

Síria e Rússia

Em entrevista coletiva, o chanceler russo, Serguéi Lavrov, frisou que o prazo para a retirada total das tropas sírias das cidades não termina nesta terça. “Neste primeiro passo, o Conselho (de Segurança da ONU) chamou o governo para começar a retirada das unidades militares de uma forma clara, que seja possível de ser vista, mas não retirá-las em sua totalidade”, disse Lavrov, ao lado do chanceler sírio, Walid al Mualem.

“Sobre o definitivo e completo cessar-fogo, deve ser cumprido por todas as partes sob uma eficaz supervisão internacional”, continuou. O russo assegurou que Damasco confirmou ter começado a aplicar o plano de Annan, e pediu aos Estados Unidos e outras potências ocidentais a pressionar a oposição síria para que faça o mesmo.

“Os Estados Unidos e os outros países que têm uma influência direta sobre os grupos opositores sírios deveriam utilizar essa influência para fazer de verdade com que todos deixem de disparar uns contra os outros.” Lavrov acrescentou que fará o mesmo apelo amanhã, durante a cúpula do G8 em Washington.

Já o chanceler sírio acusou a Turquia de armar a oposição e ajudá-la a entrar no território sírio. “A Turquia apoia grupos armados ilegais sírios. Entrega armas e contribui para a entrada ilegal de militantes na Síria”, disse Mualem. “Isto é contrário ao plano de Annan.”

Emissário especial

Annan, por sua vez, desembarcou nesta terça na Turquia para visitar os campos de refugiados sírios na fronteira entre os dois países. A visita ocorre um dia após disparos efetuados da Síria ferirem quatro sírios e dois turcos em território da Turquia.

O emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria pretende visitar campos em Hatay, província turca na fronteira com a Síria que abriga muitos refugiados. Também deverá sobrevoar de helicóptero a área de Kilis, onde ocorreu o incidente de segunda. (Com AFP, EFE e Reuters)