Atirador da Noruega se diz inocente pela morte de 77 pessoas em julho do ano passado
O julgamento do extremista de direita Anders Behring Breivik pelo assassinato de 77 pessoas na Noruega em julho do ano passado começou nesta segunda-feira (16) em Oslo, com a presença do acusado. Anders Behring Breivik, que admitiu ser o autor da matança, declarou-se inocente. "Reconheço os fatos, mas não reconheço minha culpa no sentido penal", disse o acusado, acrescentando que atuou em estado de "legítima defesa".
A juíza Wenche Elizabeth Arntzen iniciou as deliberações após a entrada de Breivik na sala. Ele cumprimentou os presentes -- em parte familiares das vítimas -- com o punho direito fechado, saudação da extrema-direita. Também se apresentou como um “escritor” e questionou a legitimidade da corte para julgá-lo.
"Não reconheço a autoridade da corte. Vocês receberam seu mandato de partidos políticos que apoiam o multiculturalismo", disse ele ao tribunal.
Durante o julgamento, o promotor Svein Holden mostrou imagens de vigilância inéditas da explosão causada por Anders Behring Breivik em Oslo, nas quais se vê pessoas passando perto da caminhonete no momento de sua explosão, perto da sede do governo.
Breivik não mostrou qualquer sinal de emoção, mas as famílias das vítimas de seus ataques presentes na sala deixram escapar gritos de comoção no momento em que ocorreu a explosão, que deixou 8 mortos.
O acusado tampouco esboçou reação quando advogados colocaram uma gravação na qual se ouvia uma garota ligando para a polícia da ilha de Utoya e dizendo “venham rápido, os disparos não terminam”. A polícia, que responde à jovem, parece incrédula a princípio. Não se sabe se a vítima sobreviveu ou não ao massacre de Utoya, no qual morreram 69 pessoas, a maioria adolescentes de menos de 20 anos.
Segundo um jornalista da AFP presente na audiência, Breivik chorou somente ao assistir à projeção do vídeo propagandístico de 12 minutos que postou na internet antes dos ataques. Com o rosto vermelho de emoção, o atirador derramou lágrimas durante a projeção em tela grande da película, na qual o extremista de direita critica o multiculturalismo.
Em uma caótica sucessão de fotos, cartazes e desenhos, Breivik expõe seu pensamento de que a Europa está controlada por pregadores do “marxismo cultural” e é preciso defender-se contra a “ameaça” da “invasão islâmica”. O vídeo foi apresentado só agora.
O atirador ficou impassível quando a Promotoria leu a longa lista com os nomes das vítimas do massacre. Por outro lado, sorriu quando a acusação recordou alguns elementos de seu passado.
Não restam dúvidas quanto à autoria do crime. A questão principal gira em torno de sua saúde mental e, portanto, do seu destino: hospital psiquiátrico ou prisão.
Na acusação contra ele por terrorismo e 77 homicídios voluntários, apresentada há um mês, a Promotoria pedia sua internação em um centro psiquiátrico, baseando-se no relatório inicial, embora houvesse a possibilidade de mudar a estratégia em função do segundo estudo.
Breivik alegou na época ser um soldado na guerra contra a "invasão muçulmana" e o multiculturalismo na Europa. Agora, aos 33 anos, descreveu suas ações como "terríveis, mas necessárias", e justificou-se com "um ataque preventivo contra os traidores da pátria".
No ano passado, dois experientes psiquiatras concluíram que o acusado sofria de "esquizofrenia paranóide" e, portanto, não poderia ser condenado à prisão.
Em uma inversão incomum de papéis, a defesa do acusado procurará assegurar que seu cliente seja responsabilizado criminalmente.
Em última instância, caberá aos cinco juízes - três deles leigos - que tomarão por maioria simples a decisão, o que deve acontecer no dia 20 de julho, dois dias antes da data que marca um ano dos atentados.
No julgamento ele poderá falar abertamente sobre suas teorias anti-islâmicas e seus ataques contra os defensores do multiculturalismo - personificados pelo Partido Trabalhista no poder - que, em sua opinião, estão destruindo a Noruega.
A primeira parte do julgamento durará dez semanas e incluirá a leitura da acusação e as intervenções da acusação e da defesa. Ainda não está definido quando Breivik se pronunciará.
O massacre chocou profundamente a Noruega. Provocou comoventes cenas de unidade nacional e desencadeou um amplo debate sobre o delicado equilíbrio entre o liberalismo e a segurança. (Com AFP e EFE)
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